segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Vigilância em saúde: como funciona o monitoramento de doenças pelo esgoto


Recentemente, autoridades de saúde da cidade de Nova York informaram ter encontrado amostras do poliovírus, causador da poliomielite, no esgoto do município. Alerta semelhante também ocorreu em Londres e em Jerusalém.

 

A constatação imediatamente motivou ações de saúde pública, em especial a intensificação da vacinação da população desses locais. A princípio, o fato de o vírus ter sido detectado pelo monitoramento de esgotos pode parecer estranho, mas não é. Essa é uma importante estratégia de vigilância epidemiológica para diversas doenças.

— O monitoramento de esgotos é uma ação importante em saúde pública porque permite detectar antes a doença antes que as pessoas comecem a adoecer. Isso fortalece a política de saneamento — completa o pesquisador José Paulo Gagliardi Leite, do Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).

A última vez que o poliovírus selvagem foi detectado no Brasil foi em 2014, no aeroporto de Viracopos, fruto de um trabalho de vigilância da Cetesb - Companhia Ambiental do Estado de São Paulo, que monitora de forma sistemática o poliovírus e a cólera no esgoto de portos, aeroportos e rodoviárias da região metropolitana de São Paulo. Embora essas doenças estejam eliminadas do Brasil, há lugares em que elas ainda existem. Isso significa que elas podem ser trazidas por turistas. Monitorar esses locais, permite controlar isso.

— Esse monitoramento é importante para saber a circulação silenciosa desses vírus. Conseguimos detectá-lo antes de aparecerem casos sintomáticos da doença e assim, iniciar medidas de prevenção— avalia o virologista Edson Elias, chefe do Laboratório de Enterovírus do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).

Esse monitoramento é particularmente importante neste momento, devido à baixa taxa de vacinação. O percentual de imunização contra a pólio não atinge os 95% desejados pelo Ministério da Saúde desde 2015. No ano passado, alcançou apenas 70% das crianças.

— O Brasil está com baixa cobertura vacinal, então estamos com um risco bastante elevado de reintrodução da pólio. Um único caso já representa um alerta muito grande — explica a bióloga Mikaela Renata Funada Barbosa, gerente da Divisão de Micrbiologia e Parasitologia da Cetesb.

O monitoramento do esgoto também é feito por meio de coleta de amostras em estações de tratamento de esgoto (ETEs). Segundo Barbosa, haverá aumento dos pontos de monitoramento da doença para alguns bairros da cidade de São Paulo e municípios do interior.

Poliomielite: quais são os sintomas da doença

Desde o início da pandemia de Covid-19, a estratégia também passou a ser utilizada por diversas cidades incluindo São Paulo, Niterói (RJ) e Belo Horizonte (MG), para detectar a presença do Sars-CoV-2 no esgoto das cidades.

— A gente consegue não apenas detectar, mas também quantificar a presença do vírus nas cidades e nos bairros. Esses dados ajudam a identificar tendências e nortear políticas públicas, independente de dados clínicos — diz Cesar Mota, professor associado da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coordenador da Rede Monitoramento Covid Esgotos, projeto piloto criado para detecção e quantificação do novo coronavírus em amostras de esgoto nas cidades de Belo Horizonte e Contagem.

Por exemplo, o monitoramento do Aeroporto Internacional de Confins, em Belo Horizonte, pode nortear decisões sobre uso de máscara e higienização. Já o monitoramento de um asilo de idosos da Santa Casa de Belo Horizonte pode indicar a necessidade de ações de testagem em massa. Além disso, o aumento da quantidade de vírus no esgoto antecede em alguns dias o aumento de pessoas com sintomas e em algumas semanas, o aumento das hospitalizações, o que pode servir de alerta para o sistema de saúde dos municípios.

Prorrogação: Com baixa adesão, Ministério da Saúde prorroga campanha de vacinação contra pólio

Hoje, a rede já se expandiu para outras cinco capitais – Fortaleza (CE), Recife (PE), Brasília (DF), Rio de Janeiro (RJ) e Curitiba (PR) - e deu tão certo que o próximo passo é criar um Programa Nacional de Vigilância Epidemiológica com base no esgoto. Segundo Mota, esse planejamento já está acontecendo junto ao Ministério da Saúde e a ideia é vá além da Covid-19 e inclua outras doenças infecciosas, como viroses, arboviroses e germes com resistência a antibiótico.

Na prática

A forma ideal de fazer o monitoramento de doenças pelo esgoto é por meio da análise do material que chega às estações de tratamento de esgoto (ETEs), isso porque se algo for encontrado, é possível saber quais são os bairros em que o vírus está circulando e iniciar ações direcionadas.

— Para qualquer estudo com esgoto, é preciso que a rede contemple pelo menos 90% da população. Uma cidade com redes de esgoto bem dimensionadas por bairros, que vão para uma estação de tratamento específica, permite mapear a disseminação dos parasitas e iniciar ações preventivas de saúde pública. Sem isso, não é possível monitorar — pontua Leite.

No entanto, isso impossibilitaria esse tipo de vigilância na maioria das cidades brasileiras. Dados da 14ª edição do Ranking do Saneamento mostram que somente 50% do volume de esgoto do país recebe tratamento. Por isso, os pesquisadores encontraram outros caminhos.

Além das estações de tratamento, a Cetesb monitora água de rios que recebem grandes quantidade de esgoto não tratado. Já a Rede Monitoramento Covid Esgotos também inclui coletas em canais de água pluvial, que recebem esgoto bruto da população. Mota explica que sabendo a topografia do local, é possível inferir qual é a população que está contribuindo com o esgoto que vai para esses canais.

— A gente tem feito esse acompanhamento e tem dado certo em situações de maior precariedade de cobertura de rede — afirma Mota.

A periodicidade da coleta do material varia de acordo com cada projeto, podendo ser semanal ou quinzenal. Um profissional do laboratório ou da empresa de saneamento básico coleta a amostra, que varia entre um a dois litros de esgoto, em cada ponto. Esse material é refrigerado e levado para o laboratório onde a amostra é concentrada e submetida a análises específicas para cada patógeno investigado.

Grande potencial

A pandemia de Covid-19 deixou claro que o monitoramento de doenças pelo esgoto pode ser uma importante ferramenta de saúde pública e seu potencial não para de crescer. Nos Estados Unidos, algumas cidades já estão utilizando a rede de esgoto para monitorar o avanço da varíola dos macacos (monkeypox), por exemplo.

Pontualmente, a Cetesb realiza realizas vigilâncias ambientais de outros agentes infecciosos, como salmonela, hepatite A, norovírus, rotavírus e enterovírus.

— Qualquer doença em que o agente causador é excretado em fezes ou urina é passível de ser monitorado via esgoto. A quantidade de informação epidemiológica presente no esgoto é impressionante e isso tem um potencial muito grande, em especial para um país como o Brasil, que têm deficiência em testagem de clínicas — conclui Mota.

O Globo, Giulia Vidale


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