segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Alunos superdotados e jóias reluzentes


Nas salas de aula uma plêiade de profissionais é utilizada para que o modelo se reproduza indefinidamente. Diretores, coordenadores, assessores, professores, auxiliares de sala, bedéis, porteiros, vigilantes, prestadores de serviço, todos compenetrados, sequiosos por manter os alunos ao alcance da ação corretora, da medida redentora, da mira certeira: postura coletiva e disciplina de caserna. Ou, disciplina coletiva e postura de caserna.(...)

Alunos superdotados e jóias reluzentes

Em nossa existência, a vida se manifesta de diferentes modos.

Quando crianças somos tomados pela magia da alegria. Espontâneos, todos dão trelas à nossa condição de senhores de um tempo e um espaço onde vigora tudo que se apresente como antítese da inibição, do embaraço, do estorvo.

É na infância que encontramos a forma mais lúdica de manifestação, nos expressando com uma intensidade e leveza que, dificilmente, se repetirá nas demais fases da vida. Cantamos sem travas na voz, dançamos dando asas ao movimento, encenamos teatrinhos sem compromissos com a formalidade, nada nos prende ou encerra, a não ser uma vontade – como que genética - de nos libertarmos.

Os pais adoram a fase experimentada pelos filhos, se divertem como nunca porque sabem do poder que têm as manifestações infantis, as únicas capazes de revigorar as esperanças, rejuvenescer a vida, destilar luz na parte da existência que se fez opaca, sem brilho porque tantos foram os problemas, as decepções, as frustrações, os percalços... Se é de alegria e leveza que se trata, então acrescente-se na receita familiar mais porções de estímulo às crianças, mais e mais pitadas de imaginação e fantasias, mais paciência e consideração para com as estripulias, os eventuais exageros,...

Mas os anos passam e com eles muito de nossas liberdades de manifestação. Se anteriormente as palavras de ordem estimulavam espontaneidade e liberdade criativa, agora, pais e sociedade tratam de estabelecer limites, estruturar barreiras, fincar piquetes, edificar molduras de gesso rígido que aprisionam voz, gestos, movimentos, as iniciativas,... afinal, a juventude deve ser conformada para responder aos modelos impostos.

E a partir daqui, só é aceito e incorporado ao sistema o que se enquadre no conceito do “politicamente correto”. Tudo - inclusive a moral e a ética - cai em um medíocre precipício reducionista, uma máquina de coletivização forçada capaz de transformar a energia vulcânica e produtiva da individualidade numa massa pasteurizada, insossa e purulenta.

O coletivo torna-se onipotente e onipresente. Em função dos “interesses populares”, das “aspirações da comunidade”, das “demandas sociais”, a individualidade é ignorada, quando menos. Na maioria das vezes é deliberadamente solapada, encarcerada, expurgada do cotidiano e dos sonhos das pessoas.

Nas salas de aula uma plêiade de profissionais é utilizada para que o modelo se reproduza indefinidamente. Diretores, coordenadores, assessores, professores, auxiliares de sala, bedéis, porteiros, vigilantes, prestadores de serviço, todos compenetrados, sequiosos por manter os alunos ao alcance da ação corretora, da medida redentora, da mira certeira: postura coletiva e disciplina de caserna. Ou, disciplina coletiva e postura de caserna.

Não resta neste contexto, espaço algum para algo ou alguém que escape às especificações impostas, aos modelos estabelecidos, aos paradigmas adotados. Tudo que soe ou aparente diferente é peremptoriamente repelido, refugado, execrado, expurgado, punido com repreensões, suspensões, e sempre que necessário, expulsões.

Como então administrar a existência das diferenças e dos diferentes?

É que nossas escolas estão repletas de alunos superdotados. E os estamos perdendo porque os modelos e sistemas não conseguem lidar com eles, tratando-os como detestáveis inimigos.

Os professores não recebem a qualificação adequada para, nas salas de aula, identificá-los. Vagando no escuro, sem saber quem, dentre os seus alunos, são superdotados, os mestres não conseguem direcionar os estudos, não conseguem focar o aprendizado em temas que, efetivamente, contribuam para melhorar o aproveitamento.

Em algumas raríssimas exceções, um ou outro professor mais abnegado, confiando em seu “feeling”, consegue identificar dentre os seus alunos, os dotados de capacidades especiais. Mas não podemos manter um processo dessa magnitude à mercê tão somente da percepção do mestre. Como muitos desejam, não podemos continuar ‘formando’ nossos estudantes impondo-lhes a memorização – a lá papagaio de pirata - de fórmulas, regras e datas.

A questão dos alunos superdotados exige tratamento especial. Professores devem ser devidamente qualificados para lidar com este estudante, cujo perfil difere bastante do aluno convencional, pois que está mais aberto ao advento do novo, às questões que interagem criatividade, sensibilidade e capacidade de intervenção com soluções inovadoras.

Identificar os alunos superdotados e saber deles explorar o potencial é condição fundamental para integrá-los aos colegas e à escola. Para a escola vale a pena investir neste caminho, porque absorve e consegue socializar um diferencial de qualidade, um potencial que dispõe, está bem ali ao alcance da mão, mas que jamais soube utilizar e sequer identificar. É como viver lamuriando sentado sobre um baú abarrotado de jóias preciosas.

Jóias preciosas. É o que são os alunos superdotados.

Os estudantes superdotados conseguem impregnar nossas salas de aula de mais luz e conhecimento. É que têm curiosidade aguda, como nenhum outro. E a curiosidade é a ante-sala do interesse pelo conhecimento. Possuem boa memória, atenção concentrada, persistência para enfrentar os desafios, independência e autonomia, criatividade, iniciativa e liderança, fatores que facilitam a aprendizagem.

O desafio está posto. Tomamos a decisão de escancarar nossas escolas aos superdotados, ou continuaremos - qual Napoleão de hospício - ignorando nossos valores mais valiosos, desdenhando nossas jóias mais caras e reluzentes?

A metodologia de Planejamento Estratégico Quasar K+, e as tecnologia de produção de teatro popular de bonecos Mané Beiçudo e ThM-Theater Movement são criações originais de Antônio Carlos dos Santos