quinta-feira, 7 de outubro de 2021

Calote de incorporadora e silêncio da Evergrande reforçam dúvidas sobre saúde do setor imobiliário na China



Investidores avaliam que Pequim não vai aliviar restrições. Especialistas reunidos pelo Cebri dizem que caso reflete mudanças estruturais que devem desacelerar PIB

 

A Fantasia Holdings, uma incorporadora imobiliária da China, deixou de pagar títulos na segunda-feira e voltou a preocupar investidores sobre a saúde do setor imobiliário do país nesta terça.

Ações de outras empresas chinesas do ramo tiveram queda da ordem de 10% com percepção entre os investidores de que autoridades não planejam medidas contundentes para aliviar a crise de crédito que atinge o setor imobiliário.

Um indicador de ações chinesas em Hong Kong fechou no menor patamar em cinco anos.

A Evergrande, a gigante imobiliária em crise que vem abalando os mercados globais há semanas, manteve o silêncio sobre uma suposta venda de participação em uma de suas unidades para fazer caixa e manteve suspensas as negociações de suas ações na Bolsa de Hong Kong.

O não pagamento da Fantasia 'fornece um sinal claro de que, apesar dos resgates fragmentados de ativos selecionados da Evergrande, as tensões do mercado imobiliário permanecem elevadas', disse Craig Botham, economista-chefe para a China da Pantheon Macroeconomics.

Ilusão?: Wall Street está apostando suas fichas no Partido Comunista Chinês para salvar Evergrande

A Fantasia deve representar menor risco para os mercados do que a Evergrande. A empresa estava apenas na 60a posição em uma lista de vendas de imóveis contratadas no primeiro trimestre deste ano, enquanto a Evergrande ocupava o terceiro lugar.

Os US$ 12,9 bilhões em passivos totais da Fantasia são ofuscados pelos US$ 304,5 bilhões da Evergrande. A Fantasia também é uma emissora de títulos menos prolífica, com cerca de US$ 4,7 bilhões em dívidas locais e offshore, mostram dados compilados pela Bloomberg. Na Evergrande, a cifra é de US$ 27,6 bilhões.

O caso da Fantasia importa mais porque analistas avaliam que é mais um sinal de que é improvável que o governo chinês diminua as restrições ao setor imobiliário, apesar das especulações recentes.

Mudanças estruturais com impacto no Brasil

Até agora, tudo indica que a crise da Evergrande não deverá ter grande impacto sobre o sistema financeiro chinês, mas de fato evidencia a disposição do governo de Xi Jinping de promover ajustes regulatórios na economia.

Essa foi a conclusão de especialistas que acompanham conjuntura da China reunidos na manhã desta terça-feira em um evento on-line promovido pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).

Eles concordaram que a redução de riscos no setor imobiliário é um dos sinais de reorientação da estratégia econômica chinesa, que deve resultar em desaceleração do seu crescimento.

Isso terá repercussões em países como o Brasil, que tem no país asiático seu maior parceiro comercial, avaliaram os participantes do encontro mediado pela diretora-executiva do Conselho Empresarial Brasil-China, Claudia Trevisan.

Fabiana D'Atri, coordenadora do Departamento de Pesquisa e Estudos Econômicos do Bradesco, aponta outras reformas em cursto como alterações na matriz energética em busca de sustentabilidade ambiental e o redirecionamento de setores de tecnologia como vetores econômicos.

- As mudanças apontam para uma transição de mais qualidade em vez de quantidade, o que significa que abrem caminho para taxas menores de crescimento - afirmou Fabiana.

A desaceleração terá impacto no Brasil, que tem na China seu principal parceiro comercial e maior comprador de commodities.

Fabiana contou que estudos dá área de pesquisa do Bradesco aponta que o preço justo, de equilíbrio, do minério de ferro hoje é algo em torno de US$ 120 por tonelada. E recentemente chegou a ultrapassar US$ 200, provocando reação do governo chinês na tentativa de conter a alta do preço da commodity para evitar impactos em sua cadeia interna de indústrias.

- A China não vai crescer 10% como no passado. A minha projeção para o ano que vem é abaixo de 5%, mas com uma base muito superior. Então isso significa que a demanda vai continuar crescendo, mas num ritmo menor. A quantidade exportada segue num ritmo elevado, a China não está retraindo, está crescendo menos, com preços muito mais ajustados. Isso tira certamente bastantes bilhões de dólares da nossa pauta de exportação - afirmou Fabiana.

Governo tem condições de proteger poupança dos chineses

Outro participante do debate, Sergio Quadros, professor visitante do MBA em Negócios e Empreendimentos Internacionais da Unisinos e ex-gerente do Banco do Brasil em Xangai, previu uma desaceleração mais leve para a China, com crescimento de 7,5% do PIB chinês este ano, na recuperação após o baque da pandemia, e de 6% em 2022.

Ele observou que a dívida total da Evergrande, estimada em cerca de US$ 305 bilhões, embora significativa, não é alta em comparação com o tamanho da segunda maior economia do mundo. Só o total de ativos bancários na China, observou Quadros, é da ordem de US$ 46 trilhões.

No entanto, ressaltou que ainda não são conhecidos todos os riscos associados a um possível calote. A decomposição da dívida mostra que 32% dela é com fornecedores e 20% são empréstimos bancários, mas ainda não se sabe se o passivo está distribuído entre os mais de 4 mil bancos da China ou concentrado em algumas instituições, afirmou o economista.

A dívida com pagamentos antecipados de chineses por imóveis é de cerca de 8% do total, disse Quadros. Ele observou que 87% das vendas de imóveis no país em 2018 foram para chineses que já possuíam um imóvel, numa evidência de que o mercado imobiliário é uma alternativa de poupança de muitas famílias.

Ainda assim, ele avaliou que os cidadãos serão protegidos pelo governo se não houver solução de mercado para a Evergrande.

- O desafio da China é conter o risco sistêmico, e faz parte disso reduzir alavancagem do setor imobiliário - afirmou Quadros, que citou a forte especulação imobiliária em grandes cidades chinesas nos últimos anos.

Para Marcos Caramuru, ex-embaixador do Brasil na China e conselheiro do Cebri, o atual ambiente de ameaças à economia chinesa - marcado pela tensão comercial com os EUA e as consequências da pandemia - podem favorecer as reformas do presidente Xi Jinping, que buscará um novo mandato em 2022.

- A Evergrande é resultado de administração heterodoxa da empresa, mas também de ações do governo para reduzir alavancagem do setor imobiliário - afirmou. - Ambiente de crise pode favorecer condições políticas de reformas que façam com que o país aceite um ritmo menor de crescimento.

Bloomberg e O Globo


Para saber mais, clique aqui.



Para saber mais sobre o livro, clique aqui.




Para saber mais sobre o livro, clique aqui



Para saber mais clique aqui





Para saber mais sobre o livro, clique aqui





Para saber mais sobre os livros, clique aqui




Para saber mais sobre a Coleção, clique aqui




Para saber mais sobre o livro, clique aqui


- - - - - -




No mecanismo de busca do site amazon.com.br, digite "Coleção As mais belas lendas dos índios da Amazônia” e acesse os 24 livros da coleção. Ou clique aqui

O autor:

No mecanismo de busca do site amazon.com.br, digite "Antônio Carlos dos Santos" e acesse dezenas de obras do autor. Ou clique aqui


Clique aqui para acessar os livros em inglês