segunda-feira, 14 de março de 2016

Como conquistar a atenção do outro?



O século XXI encontrou um mundo com os vínculos sociais fragilizados e a individualidade ávida – exclusivamente - pela satisfação pessoal.

O egocentrismo como centro da construção da personalidade individual e o descaso para com os interesses alheios, vão tornando as pessoas seres brutais, soldados de um exército obcecado pelas aspirações pessoais, ainda que conquistá-las exija o sacrifício ou a coisificação do outro.

Neste contexto não sobra tempo para ninguém, vez que todo o tempo de que dispomos está direcionado ao atendimento de nossas necessidades individuais.

Por isto é tão difícil, nos dias de hoje, conquistar a atenção de alguém. Porque toda a atenção do mundo é desviada do interesse coletivo.

Chamar a atenção do outro

Daí o surgimento de técnicas e teorias para tornar possível a possibilidade do outro. E nessa ciranda, o exagero vira regra, não exceção.

O exemplo mais eloqüente talvez seja o representado pela figura do marqueteiro, que consegue transformar candidatos presidenciais em sabonete e creme vaginal.

Qualquer um de nós que queira ou necessite transmitir uma mensagem precisa contar com a atenção de seu interlocutor. E nos dias que correm, com tudo se reduzindo a numerário – sobretudo o tempo – a atenção do outro é uma preciosidade que não se conquista com facilidade.

Para conseguir acolhida para a mensagem, muitos recorrem a toda sorte de maquinações e invencionices.

Enéias, eterno candidato do Prona sagrou-se campeão de votos, sendo eleito deputado federal pelo estado mais poderoso da federação. Conquistou mais de um milhão de votos com seu histriônico “meu nome é Enéias”, jargão repetido à exaustão nos parcos minutos que dispunha nos programas eleitorais.

Mas existem também os que navegam em águas mais profundas em busca da promoção: se penduram em anzóis, seguram os filhos de ponta cabeça do enésimo andar de um espigão, existem os que não se incomodam em vender a mãe, os possessos de arremessar pedra em sombra de avião, e ainda patéticos imbecis como o que se colocou à frente do maratonista olímpico Vanderlei Cordeiro. Tudo para que sejam percebidos.

Quanto mais indiferentes ao que se passa à volta, quanto mais submergidos no mundo próprio, maior a necessidade de distinguir, destacar, sobressair, para que a idéia se eleve e encontre porto para atracar. Este processo se bifurca em duas direções.

Criatividade X Marquetagem

Na primeira, a atenção é conquistada à custa de criatividade, de inovações que estimulem o olhar para fora, a percepção da realidade em volta. Para que uma decisão mais conseqüente possa ser tomada.

Na segunda, a grosseria, a baixaria, compõe o arcabouço, o pano de fundo do estratagema de conquistar o interesse das pessoas. Movidas a indicadores que aferem a audiência de suas programações, minuto a minuto, as redes de televisão se esmeram em apresentar uma produção de mau gosto, em que a mediocridade e a superficialidade são marcas registradas.

De igual modo, gestores de todos os matizes e políticos profissionais e informais lançam mão deste substrato, assumindo projetos e proposições pautados pela demagogia e artificialidade.

Em quase todos os momentos de nossas vidas estamos em busca da atenção de alguém. O governo, de seus contribuintes; os gestores públicos de suas equipes, fornecedores e cidadãos; os empresários, de seus clientes; os empreendedores de quem lhes assegurem oportunidades; os apaixonados, de seus amores; os políticos, de seus eleitores; os pais, de seus filhos; os filhos, de seus pais; numa infinita cadeia de inter-relações.

É que num sistema em que a tônica é a competição, a atenção é como uma jóia rara, cobiçada, e por isto disputada a ferro e fogo.

O fundamental é não perder de vista a força motriz capaz de nos conduzir a porto seguro: a ética. Nada de recorrer à lei de Gerson, ao jeitinho brasileiro, às maracutaias e joguetes dos espertinhos. Se desejamos um país de valorosos, devemos perseverar nos valores e princípios que dão conformação aos gigantes, aos homens de bem.

Antônio Carlos dos Santos, criador da metodologia Quasar K+ de planejamento estratégico, da tecnologia de produção de teatro popular de bonecos Mané Beiçudo, e da metodologia ThM-Theater Movement.