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Os advogados Frederick Wassef, de Bolsonaro, Cristiano Zanin, de Lula, e Ana Tereza Basilio, mulher do desembargador André Fontes, alvos da E$quema S. Fotos: Tiago Queiroz/Estadão, REUTERS/Nacho Doce e Divulgação |
Advogados tidos como heróis pela
oposição de esquerda, filhos de membros das Cortes mais altas da Justiça e
executivos da telefônica Oi são alvos da Lava Toga de mangas curtas
Roberto Teixeira e Cristiano Zanin, advogados de Lula, são acusados de terem
embolsado R$ 68 milhões da Fecomércio do Rio de Janeiro e de comporem o chamado
'núcleo duro' do chamado E$quema S. A denominação da operação da Polícia
Federal (PF) e do Ministério Público Federal (MPF) do Rio tem no cifrão o
signo que representa mais de R$ 150 milhões de verbas desviadas e na letra S a
gestão de Sesc, Senac, Sesi e Senai por sindicatos patronais. São investigadas
exploração de prestígio, lavagem de dinheiro e desvio ilícito de recursos
públicos. A dupla, segundo os investigadores, comandava o núcleo duro da
'organização criminosa'.
Da lista de 25 advogados de fina estirpe faz parte Eduardo Martins, filho do
novo presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Henrique Martins. A seu
lado figuram Flávio Zveiter, filho do ex-presidente do Tribunal de Justiça do
Estado do Rio de Janeiro (TJRJ) Luiz Zveiter; Ana Tereza Basilio, mulher do
desembargador André Fontes, ex-presidente do Tribunal Regional Federal da 2.ª
Região (TRF-2); e Tiago Cedraz, filho do ministro Aroldo Cedraz, do Tribunal
de Contas da União (TCU). Esses nomes já têm sido citados nos noticiários
produzidos a partir de delações premiadas nas diversas fases da Operação Lava
Jato. E agora ilustram uma espécie de 'Lava Toga de mangas curtas', em
substituição à Lava Toga proopriamente dita, que o grupo independente de
senadores Muda Senado tentou fazer funcionar, mas não conseguiu, mercê da
pressão de colegas como Flávio Bolsonaro, que emprestou o sobrenome para
sabotar a iniciativa em prol da 'governabilidade' do mandato presidencial do
pai, Jair.
Os advogados de Lula são acusados de terem embolsado R$ 68 milhões da
Fecomércio. Zanin se disse vítima de uma 'clara tentativa de intimidação'. E
classificou a decisão do juiz Marcelo Bretas como abuso de autoridade,
vinculando o magistrado ao presidente Jair Bolsonaro.
O desembargador paulista Walter Maierovitch, no artigo Menos, advogado Zanin,
publicado no Blog de Fausto Macedo no Portal do Estadão, escreveu a respeito:
'Zanin usou a figura e o prestígio de Lula, - que nada tem a ver com a denúncia
de desvios do 'Si$tema S'- para se colocar como vítima de perseguição. Isso por
ser o defensor técnico do ex-presidente. Aos jornalistas, Zanin ressaltou estar
sendo acusado em razão de haver, nas defesas técnicas de Lula, apontado abusos
dos investigadores policias, dos procuradores das forças-tarefas e dos juízes
das causas e das sentenças condenatórias. Lula é o culpado, lato sensu, na
canhestra visão de Zanin. Num resumo e para Zanin, uma vendeta está em curso.
Pelo que disse, não existissem os processos contra Lula, ele, Zanin, jamais
seria objeto de torpe armação persecutória'. E concluiu o desembargador: 'Lula
virou biombo, um costa-larga, para o advogado que está sendo acusado de
participação num pantagruélico desvio de milhões'.
Frederick Wassef, autodeclarado e nunca negado advogado do presidente da
República, Jair Bolsonaro, também é alvo, acusado de ter recebido R$ 2,6
milhões do esquema do Sistema S. O filho de Humberto Martins teria recebido do
delator, o ex-presidente da Fecomértcio Orlando Diniz, R$ 42,9 milhões, parte
dos quais teria repassada ao ex-presidente do STJ César Asfor Rocha. Tiago
Cedraz, filho do ministro do TCU Aroldo Cedraz, teria sido
recomendado por Sérgio Cabral como 'vendedor' da solução no TCU. Os
mandados de busca e apreensão expedidos pelo juiz da Lava Jato, Marcelo Bretas,
incluem ainda a ex-mulher de Sérgio Cabral, Adriana Ancelmo.
Uma das suspeitas dos investigadores, segundo a revista Crusoé, é a de que
advogados que teriam desviado valores da Fecomércio na gestão de Orlando Diniz
também atuaram na telefônica Oi . Com mais de R$ 60 bilhões em dívidas, a
telefônica aparece na quebra de sigilo de vários escritórios alvos da Operação
E$quema S. O elo dos dois casos seria o advogado Eurico Teles, ex-diretor
Jurídico e ex-presidente da Oi. Este deixou o comando da empresa logo após a
Operação Mapa da Mina, responsável pela apuração da ligação de Fábio Luís Lula
da Silva, o Lulinha, com a Oi. O escritório de Teles recebeu R$ 5,5 milhões
durante a gestão de Orlando Diniz na Fecomércio e R$ 11 milhões de outros
escritórios advocatícios contratados pela Fecomércio.
A Operação E$quema S ainda poderá ter o seu acervo enriquecido se for
homologada a delação premiada de José Carlos Reis Lavoura, ex-dirigente da
Federação de Transporte do Rio de Janeiro, Fetransport. Essa delação poderá
trazer mais nomes do Judiciário para a roda. São citados oito desembargadores
do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ). E não vai parar por
aí: espera-se a divulgação da delação de Lélis Teixeira, ex-presidente da
Fetransport e da Rio Ã'nibus. Esta já foi fechada com o Ministério Público,
homologada pelo ministro do STJ Felix Fischer e rendeu investigação da
força-tarefa do Rio focada no Judiciário. Em 40 anexos, Lélis delatou 30
autoridades fluminenses, ex-governadores, conselheiros de Tribunal de Contas,
estaduais e municipais, além do Judiciário e do Ministério Público fluminenses.
Os pagamentos milionários eram para esses magistrados tomarem decisões que
beneficiassem as empresas em ações sobre licitações do transporte
público.
Aviso: pode ser que nada adiante reclamar e tentar melar a Operação E$quema S.
Discutir competência em tribunais superiores e apelar para a ajuda de Gilmar
Mendes poderão vir a ser atropelados pelas evidências que já figuram nas
delações premiadas dos ex-dirigentes da Fetransport.
Por José Nêumanne, em O Estado de S. Paulo
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