O cenário de seca prolongada no Ceará motivou a pesquisa e
o desenvolvimento de projetos para melhorar a gestão dos recursos hídricos,
seja no setor produtivo ou nas casas das pessoas. Alguns desses projetos,
desenvolvidos por startups,
foram apresentados no dia 21 no seminário Água
Innovation, que acontece até amanhã em Fortaleza.
Pesquisadores do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Ceará (IFCE), por exemplo, criaram um sistema que contabiliza,
via sensores sem fio, o consumo de cada apartamento em condomínios que não têm
hidrômetro individualizado. Trata-se de um equipamento que fica interligado no
encanamento de água de cada unidade e mede a vazão consumida.
“Com a escassez de água no Ceará, houve contenção de
consumo pela companhia de água e, em consequência, a aplicação de multa. Nesses
condomínios onde não tem a conta de água individualizada, fica difícil para o
gestor do condomínio saber quem está gastando mais ou menos, e, com isso, fazer
a cobrança individualizada. Com o equipamento, seria possível os condôminos
gerirem seu próprio consumo”, explica o pesquisador do Grupo de Desenvolvimento
de Sistemas de Telecomunicações e Sistemas Embarcados (Gdeste), do IFCE,
Cleiton Marinho.
Além das startups,
representantes de entidades e do governo também participam do evento e mostram
suas iniciativas. Ao longo dos últimos seis anos de seca no Ceará, algumas
tecnologias tradicionais, como a perfuração de poços, e outras novas, como as
adutoras de engate rápido e os sistemas que dessalinizam águas de poços, foram
implantadas nos municípios cearenses como forma de minimizar a crise hídrica no
estado.
“Provavelmente, vamos passar por um ciclo de chuvas
melhores daqui a uns anos para frente, mas depois virá novamente a seca. Esse é
um processo cíclico, faz parte da realidade do semiárido. Temos que nos
preparar para enfrentar essa realidade”, analisa o diretor de planejamento da
Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), Ubirajara Patrício.
Segundo ele, os comitês de bacias hidrográficas estão
realizando, a partir deste mês, a alocação negociada de água, que é a forma
como a água disponível nos reservatórios do estado será distribuída para os
diversos usuários. Atualmente, o Ceará dispõe de apenas 12,3% do total da
capacidade hídrica.
O incentivo ao uso eficiente e sustentável de água é um
dos principais objetivos dos produtores rurais e das empresas e indústrias que
buscam o Banco do Nordeste para conseguir financiamento do FNE Água. A
afirmação é do presidente da instituição, Marcos Holanda. A linha de crédito
usa recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) e
dispõe de condições vantajosas para esse público.
“O melhor uso da água no semiárido passa, necessariamente,
pela indústria e pela agricultura. Eles têm dois incentivos básicos: o de
custo, pois sabem que usar menos água significa economizar, e o de imagem, pois
toda indústria quer estar associada à preservação do meio ambiente. Muitas das
indústrias que nos procuram querem reduzir a conta de água usando processos que
utilizem menos água.”
Holanda cita ainda o Hub de Inovação do Nordeste (Hubine)
como incentivo do banco ao desenvolvimento de projetos de uso racional da água.
Inaugurado no ano passado, o local é um centro de incentivo a ideias que podem
se tornar empresas. Entre as startups que estão expondo seus projetos no Água Innovation, oito serão
selecionadas pelo Hubine para receber mentoria para a modelagem do negócio.
Por Edwirges Nogueira, da Agência Brasil