Se existe uma área
no governo brasileiro que nunca funcionou a contento, sem dúvida, é a de
planejamento e projetos. Pior: a deficiência é histórica e tem acarretado
prejuízos incontáveis aos contribuintes. Falar em projeto executivo em todas as
etapas de uma obra exigiria, no mínimo, prever todos os custos até o último
parafuso. Mas isso é coisa de outro mundo para nossos governantes. Planejamento
com esse nível de detalhe nunca foi realizado. O resultado é que o custo final
da obra seria suficiente para erguer duas ou mais construções. Vale lembrar que
às obras abandonadas não faltaram Recursos Públicos para as empresas
responsáveis.
De certa forma,
isso denota também um tipo muito peculiar de corrupção e que, obviamente, acaba
debitado na conta dos pagadores de impostos. Não se conhecem ainda estudos que
mostram a correlação entre a falta de projetos detalhados e os prejuízos
decorrentes para os brasileiros. Todavia, à guisa de exemplo, tomese duas
situações bem atuais ocorridas aqui na capital que demonstram o quão carente
ainda somos quando o assunto é planejamento.
Apenas nos últimos
anos, o Distrito Federal deixou de receber do Fundo Constitucional (FCDF) R$
480 milhões justamente por não ter realizado os projetos destinados à segurança
da capital. Dessa forma, o dinheiro, que poderia ser utilizado para atender
demandas do Corpo de Bombeiros, da Polícia Militar e da Polícia Civil, não pôde
ser empregado nessas áreas, embora sejam mais do que conhecidas as carências em
segurança.
O pior é que a
falta de projetos e de transparência na utilização de recursos obrigou o
Tribunal de Contas da União (TCU) a retirar do GDF a gestão desse Fundo. Noutro
caso, o GDF deixou de receber R$ 415 milhões, que seriam destinados à compra de
10 trens para a Linha 1 do Metrô-DF, mais 10 veículos leves sobre trilhos
(VLTs), além de finalizar as obras das estações 104, 106 e 110 Sul.
Os dois valores
somam R$ 1 bilhão, desperdiçado pela falta de projetos e de documentação
necessária. Trata-se de uma incompetência difícil de ser aceita para uma cidade
carente de segurança, de transporte de massa e, sobretudo, de recursos. Não tem
explicação.
Por Ari Cunha, no Correio Braziliense