Gilmar Mendes se esqueceu de um dado
essencial do momento
Quando o “Casseta & Planeta” lançou a ideia do
conglomerado de empresas Organizações Tabajara, não tinha como objetivo lançar
o desenho do futuro do Brasil. Muito menos, o patriarca da OT, Gilvan Saturnino
Tabajara, ao aportar no Brasil trazendo na bagagem apenas um produto, o
Supositório de Magnésia Bisurada, não tinha a mínima ideia de como seu império
iria crescer, faturando bilhões e abarcando 27 empresas.
O “Casseta & Planeta” se desfez, e das
Organizações Tabajara não resta mais nada de pé, nem o Salsichão Brasil, uma das
joias do império de Gilvan. Sobrou apenas um nome próximo de Gilvan, Gilmar,
Gilmar Mendes, para lembrar a epopeia do criador do Supositório de Magnésia
Bisurada, ao afirmar que o Brasil se parece com as Organizações Tabajara.
A ideia dos criadores do “Casseta & Planeta”
era apresentar sob o rótulo Tabajara empresas toscas, precárias, ridículas, uma
crítica indireta ao que não funcionava bem no país. Surgiu até o Tabajara
Futebol Clube, que, na sua trajetória de derrotas, jamais conseguiu superar a
realidade do Íbis de Pernambuco, o pior time do mundo.
Ao comparar o Brasil com as Organizações Tabajara,
Gilmar Mendes se esqueceu de um dado essencial do momento: o país está sendo
passado a limpo e, pela primeira vez na sua história, vivemos algo parecido com
uma sociedade na qual a lei vale para todos.
Inegável que vivemos numa crise. Mas supor que essa
crise está nos jogando para trás é obra de um personal enganator, para usar
linguagem comum aos memorandos das Organizações Tabajara.
Gilmar recentemente foi grampeado combinando com
Aécio Neves como iria cabalar votos de senadores para a lei contra o abuso de
autoridade, destinada a inibir a Lava-Jato e proteger os políticos. Um ministro
do STF que articula nos bastidores do Congresso votos para uma lei escapa
completamente de suas funções. É um ministro Tabajara.
Em outro momento, numa situação anterior à
Lava-Jato, Gilmar foi grampeado consolando o ex-governador de Mato Grosso,
Silval Barbosa, famoso por conceder milionárias isenções fiscais, inclusive à
JBS. Gilmar, no áudio, considerava absurda a incursão da PF para apreender
documentos na casa de Silval.
Mais recentemente, depois do célebre grampo de
Joesley Batista, Gilmar admitiu que se encontrou com o empresário da Friboi,
mas apenas para discutir questões ligadas ao comércio de gado, pois sua família
vendia carne para os irmãos Batista.
Não seria um pouco Tabajara um ministro do Supremo
tratar de negócios de gado com um empresário investigado. Pode-se dizer que
Joesley ainda não era investigado. Mas todas as pessoas bem informadas sabiam
muito bem que se ele não era ainda investigado, fatalmente o seria, pois seus
negócios cresciam milagrosamente.
Na conglomerado de Gilvan Saturnino Tabajara, se me
lembro bem, não houve assaltos ao dinheiro público, embora, certamente, tenha
havido uma série de atos politicamente incorretos, sem os quais o humor não
prospera.
Falar mal do Brasil é comum. É uma prática antiga
que usamos sempre que algo nos incomoda. O momento é difícil, uma razão a mais
para a multiplicação das críticas. Mas é preciso acentuar que, pela primeira
vez na história, surgiu uma oportunidade consequente de desmontar o gigantesco
esquema de corrupção formado por partidos políticos e empresas ambiciosas. É um
momento de valor inestimável, que abre inúmeras possibilidades para que o
Brasil entre no rol dos países avançados, nos quais a corrupção existe em
escala menor; em outras palavras, ela não é banida totalmente mas é
administrável.
Isso significa desde já, com os riscos maiores para
os corruptos, que grande parte dos recursos nacionais podem ser canalizados
para os serviços públicos. Em seguida, vai abrir também a possibilidade de um
planejamento baseado nas necessidades do povo e nas limitações dos recursos
naturais.
Isso já é algo bastante diferente de obras
construídas para atender a empreiteiras ou isenções fiscais que,
simultaneamente, nos empobrecem e tornam inviáveis alguns aspectos vitais,
como, por exemplo, a mobilidade urbana.
Se Bussunda estivesse vivo, creio que interpelaria
o ministro: fala sério, Gilmar. Livrar o país da promiscuidade entre empresas e
governo, colocar corruptos na cadeia, conquistar um alto nível de liberdade de
imprensa, viver numa sociedade em que as pessoas são mais informadas e
compartilham, incessantemente, suas ideias, tudo isso é indicação de um novo
país surgindo.
O que parece Tabajara para alguns é, para outros, a
desordem natural de um grande movimento renovador.
O Brasil que está acabando nesses anos tumultuados
até que poderia vender, maciçamente, no mercado de Brasília, inclusive para o
residente Temer, um produto de alta necessidade nesses tempos convulsionados: o
olho mágico de caixão, o que daria uma boa ideia do que acontece do lado de
fora.
Por Fernando
Gabeira, em O Globo
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A história registra as ações de um grande herói, o espião e membro do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, Oskar Schindler, que salvou cerca de 1.200 judeus durante o genocídio perpetrado pelos nazistas. O industrial alemão empregava os judeus em suas fábricas de esmaltes e munições, localizadas na Polónia e na, então, Tchecoslováquia.
Irena Sendler, utilizando-se, tão somente, de sua posição profissional – assistente social do Departamento de Bem-estar Social de Varsóvia – e se valendo de muita coragem, criatividade e altruísmo, conseguiu salvar mais de 2.500 crianças judias.
"O Anjo do Gueto de Varsóvia", como ficou conhecida Irena Sendlerowa, conseguiu salvar milhares de vidas ao convencer famílias cristãs polonesas a esconder, abrigando em seus lares, os pequeninos cujo pecado capital – sob a ótica do führer – consistia em serem filhos de pais judeus.
Período: 2ª Guerra Mundial, Polônia ocupada pela Alemanha nazista. A ideologia de extrema-direita que sistematizou o racismo científico e levou o antissemitismo ao extremo com a Solução Final, implementava a eliminação dos judeus do continente europeu.
A guerra desencadeada pelos nazistas – a maior deflagração do planeta – mobilizou 100 milhões de militares, provocando a maior carnificina já experimentada pela humanidade, entre 50 e 70 milhões de mortes, incluindo a barbárie absoluta, o Holocausto, o genocídio, o assassinato em massa de 6 milhões de judeus.
Este é o contexto que inspirou o autor a escrever a peça teatral “Irena Sendler, minha Irena”.
Para dar sustentação à trama dramática, Antônio Carlos mergulhou fundo na pesquisa histórica, promovendo a vasta investigação que conferiu à peça um realismo que inquieta, suscitando reflexões sobre as razões que levam o homem a entranhar tão exageradamente no infesto, no sinistro, no maléfico. Por outro lado, como se desanuviando o anverso da mesma moeda, destaca personagens da vida real como Irena Sendler, seres que, mesmo diante das adversidades, da brutalidade mais atroz, invariavelmente optam pelo altruísmo, pela caridade, pela luz.
É quando o autor interage a realidade à ficção que desponta o rico e insólito universo com personagens intensos – de complexa construção psicológica - maquinações ardilosas, intrigas e conspirações maquiavélicas, complôs e subterfúgios delineados para brindar o leitor – não com a catarse, o êxtase, o enlevo – e sim com a reflexão crítica e a oxigenação do pensamento.
Dividida em oito atos, a peça traz à tona o processo de desumanização construído pelas diferentes correntes políticas. Sob o regime nazista, Irena Sandler foi presa e torturada – só não executada porque conseguiu fugir. O término da guerra, em 1945, que deveria levar à liberdade, lancinou o “Anjo do Gueto” com novas violências, novas intolerâncias, novas repressões. Um novo autoritarismo dominava a Polônia e o leste Europeu. Tão obscuro e cruel quanto o de Hitler, Heydrich, Goebbels, Hess e Menguele, surgia o sistema que prometia a sociedade igualitária, sem classes sociais, assentada na propriedade comum dos meios de produção. Como a fascista, a ditadura comunista, também, planejava erigir o novo homem, o novo mundo. Além de continuar perseguindo Irena, apagou-a dos livros e da historiografia oficial, situação que só cessaria com o debacle do império vermelho e a ascensão da democracia, na Polônia, em 1989.
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