A Polícia Federal
deflagrou a Operação Leviatã, desdobramento da Lava-Jato, e levou, mais
uma vez, o PMDB do Senado Federal para o centro das investigações de Corrupção
no governo federal. Os alvos dos mandados de busca e apreensão, autorizados pelo
ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin, foram Márcio Lobão,
filho do senador Edison Lobão (PMDB-MA), e o ex-senador Luiz Otávio Campos
(PMDB-PA), ligado ao peemedebista Jader Barbalho. Eles são suspeitos de
participar do esquema de desvio de recursos na construção do maior projeto
brasileiro no setor elétrico, a Usina de Belo Monte.
A operação ligou o
sinal de alerta em integrantes do atual e do antigo governo. A Leviatã é um
indício de que as apurações da Lava-Jato chegaram em peso ao setor elétrico. E
os investigadores acreditam que isso pode ter muitos resultados: a previsão é
que o montante envolvido seja parecido com o que foi desviado da Petrobras. Só
nesse caso, por exemplo, a propina passa de R$ 1 bilhão. O investimento inicial
previsto para Belo Monte era de R$ 16 bilhões, mas esse valor ultrapassou os R$
30 bilhões. A PF acredita que propina tenha sido de 1% em cima do valor inicial
da construção, divididos entre PT e PMDB.
A polícia amanheceu
na casa da família Lobão uma semana após o patriarca ter sido eleito para a
presidência da Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ), a mais
importante da Casa, que sabatinará o indicado para o STF, Alexandre de Moraes.
Márcio Lobão é presidente da Brasilcap, braço do Banco do Brasil no setor de
capitalização e é suspeito de ser um dos operadores do esquema. A PF também
esteve na sede da estatal, no Rio de Janeiro. Na delação premiada de Sérgio
Machado, ex-presidente da Transpetro, subsidiária da Petrobras, o filho de
Lobão era quem recebia a propina, cerca de R$ 300 mil mensais, em dinheiro
vivo. Machado garante que, só nesse esquema, a família desviou mais de R$ 20
milhões. Flavio Barra, que trabalhava na empreiteira Andrade Gutierrez, também
delatou Lobão como beneficiário das obras de Belo Monte.
Influência
Já Luiz Otávio é
ligado ao clã de Jader Barbalho. Senador de 1998 a 2006, chegou a ser indicado
para o Tribunal de Contas da União (TCU), mas teve o nome barrado na Câmara dos
deputados. Após sair do parlamento, Luiz Otávio ocupou importantes cargos na
Esplanada. No governo de Dilma Rousseff (PT), foi secretário-executivo da
Secretaria de Portos na época em que Helder Barbalho, filho de Jader, era o
ministro da pasta.
Também foi indicado
para a Agência Nacional de Transporte Aquaviário (Antaq). Atualmente, é
assessor especial do Ministério dos Transportes. Na casa dele, em Brasília, a
polícia encontrou R$ 135 mil. Na de Lobão, recolheram o equivalente a R$ 40 mil
em várias moedas e 1,2 mil obras de arte.
O STF abriu inquérito
em junho do ano passado para investigar a participação de Lobão e dos senadores
Renan Calheiros (PMDB-AL), Romero Jucá (PMDB-RR), Valdir Raupp (PMDB-RO) e
Jader Barbalho (PMDBPA) no esquema. Por isso, a operação de ontem precisou de
autorização do STF. As propinas relacionadas ao PT não envolvem políticos com
foro privilegiada e estão na Justiça Federal do Paraná. Por meio dos advogados,
Márcio Lobão afirmou que “nunca cometeu nenhum ilícito”. O Correio não
localizou a defesa de Luiz Otávio. O presidente do Banco do Brasil, Paulo
Caffarelli, disse que a Brasilcap “não coaduna com qualquer tipo de ato que
seja ilegal”.
Instintos
A operação foi
batizada em alusão à família Lobão. Leviatã é uma obra do filósofo Thomas
Hobbes, onde ele afirma que “o homem é o lobo do homem”. O autor faz uma
comparação entre o Estado e um ser humano artificial criado para sua própria
defesa e proteção, porque se continuasse vivendo em estado natural, guiado
apenas por seus instintos, não alcançaria a paz social.
Por Matheus Teixeira, no Correio Braziliense