E os drones da PF não saem do chão...
Vant da Polícia
Federal é apresentado oficialmente em novembro de 2011: em cinco anos, drone
fez apenas mil das 40 mil horas de voo previstas
Os dois veículos
aéreos não tripulados (Vants) da Polícia Federal estão empoeirados na base de
São Miguel do Iguaçu (PR) e não voam desde janeiro de 2016. Denúncia do
Sindicato dos Policiais Federais no Distrito Federal encaminhada à
Procuradoria-Geral da República (PGR) e ao Tribunal de Contas da União (TCU)
foi obtida pelo Correio. O documento aponta que o governo já gastou mais de R$
150 milhões no projeto e não há, no momento, nenhum piloto em condições de
voar.
A entidade que
representa os policiais relata que entre 2011 e 2016 a PF fez apenas mil horas
de voo, enquanto o projeto inicial indica que deveria ter voado mais de 40 mil
horas. As aeronaves podem voar 37 horas ininterruptas, possuem um alcance
operacional de dois mil quilômetros e atendem todos os requisitos técnicos para
voar em todo o espaço aéreo brasileiro. Os Vants foram comprados em 2009 por
US$ 27,9 milhões de uma empresa israelense.
Entretanto, em 2016
foram feitas apenas 35 horas de voo. O último contrato de manutenção das
aeronaves custou R$ 35 milhões aos cofres públicos, o que indica que cada hora
de voo custou R$ 1 milhão, conforme estimativa do SIndipol-DF. Os dois Vants
estão montados em cima de cavaletes dentro do hangar de São Miguel do Iguaçu.
Todos os equipamentos eletrônicos foram retirados e encaixotados. Tanto as
aeronaves como os componentes eletrônicos estão sem manutenção desde agosto de
2016.
O projeto inicial
previa um investimento de R$ 855 milhões que resultaria na compra de 14
aeronaves não tripuladas, na construção de quatro bases de operação, das quais
uma seria construída em Vilhena (RO ), outra em Tefé (AM) e uma no Distrito
Federal. Além disso, duas bases móveis deveriam ser adquiridas para operações
em ocasiões especiais e grandes eventos. Era previsto que 45 pilotos fossem
capacitados ao longo dos anos.
Em 2012, o Tribunal
de Contas da União (TCU) questionou o gasto de US$ 13,43 milhões da PF com a
Israel Aerospace Industries (IAI), que forneceu os Vants e a capacitação aos
policiais, os cursos teórico e prático para 13 operadores. O órgão de controle
considerou os valores desproporcionais. A compra dos Vants foi uma das
principais propostas apresentadas pela presidente Dilma Rousseff na campanha
eleitoral de 2010. À época, a então candidata era criticada pelo adversário
José Serra (PSDB-SP), pela falta de fiscalização das fronteiras.
Na avaliação do
presidente do Sindipol-DF, Flávio Werneck, os problemas para que os Vants
funcionem decorrem de dificuldades de gestão na PF. Ele detalhou que o projeto
é essencial para o monitoramento de fronteiras e para auxiliar a efetividade de
operações do órgão. 'Segurança Pública é prestação de serviço à sociedade.
Temos policiais capacitados para operar as aeronaves e eles não são
aproveitados. Os órgãos de controle precisam apurar esse caso', detalhou.
Remodelamento
Em nota, a PF
informou que até o ano passado o projeto era exclusivamente uma ferramenta de
inteligência e atuava primordialmente para monitorar áreas de fronteira.
Entretanto, a partir de setembro de 2016 'optou-se por ampliar o escopo
original remodelando e redimensionando o projeto inicial. O departamento de
Polícia Federal ainda destacou que foi constituída uma comissão cujo escopo é o
de propor melhorias relativas à modernização da utilização das aeronaves.
Conforme a PF, a
intenção é utilizá-las não apenas como ferramenta de inteligência, mas também
como ferramenta operacional e de investigação que possibilite a atuação em o
todo território nacional, incluindo a Amazônia Legal. O departamento,
entretanto detalhou que informações sobre o número de pilotos e os gastos com o
projeto são sigilosos. Estariam à disposição apenas dos órgãos de controle.
Por Antonio Temóteo Breno fortes, no Correio
Braziliense