O
Instituto Tomie Ohtake e o Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD)
abrem hoje (27) a exposição de arte OSSO – Exposição-apelo ao Amplo
Direito de Defesa de Rafael Braga. A iniciativa pretende chamar a atenção
sobre a desigualdade no acesso à defesa e à Justiça no país.
“A ideia
foi que os artistas participassem da exposição quase como se assinassem um
abaixo-assinado. A exposição traz um tema muito forte, e os artistas, antes de
tudo como cidadãos, se colocam sensibilizados por uma necessidade de a gente
rediscutir os direitos fundamentais no Brasil”, destaca o curador do Instituto
Tomie Ohtake, Paulo Myada.
Rafael
Braga era catador de latas quando, nas manifestações de junho de 2013, foi
preso no Rio de Janeiro por portar dois frascos plásticos com produtos de
limpeza. Segundo a acusação, ele portava materiais inflamáveis que seriam
utilizados para produzir explosivos. A tese, porém, foi contestada por um laudo
do Esquadrão Antibomba da Coordenadoria de Recursos Especiais da Polícia Civil.
No
entanto, Braga foi condenado à pena de quatro anos e oito meses em regime
inicial fechado, em dezembro de 2015, e progrediu ao regime aberto, por
preencher os requisitos legais. Em janeiro de 2016, ele foi preso novamente
enquanto utilizava tornozeleira eletrônica e trabalhava como auxiliar de
serviços gerais em um escritório de advocacia no centro do Rio.
Segundo a
polícia, o jovem teria sido flagrado com 0,6 g de maconha, 9,3 g de cocaína,
além de um rojão. Para o IDDD, há contestações sobre a veracidade do flagrante
e foi registrada contradição entre os depoimentos de policiais militares, as
únicas testemunhas da acusação. No fim de abril de 2017, Rafael Braga foi
condenado a 11 anos e 3 meses de prisão por tráfico de drogas e associação para
o tráfico.
“O jovem é
um símbolo da crescente população prisional brasileira. A história de Rafael é
semelhante àquelas de tantos outros jovens que não conseguem se livrar de um
direito penal cada vez mais amplo e violento. Rafael representa ainda o
angustiante destino cíclico da população periférica egressa do sistema
prisional”, ressalta o vice-presidente do IDDD, Hugo Leonardo.
De acordo
com o Instituto Tomie Ohtake, a partir da proposta houve a adesão imediata de
29 reconhecidos artistas brasileiros. Um terço deles participa da exposição com
obras inéditas ou feitas especialmente para a mostra. A exposição terá ainda
uma sala de documentação produzida pelo IDDD, que traz um relato do caso de
Rafael Braga, além de dados e estatísticas sobre o acesso à justiça no Brasil.
Os
artistas que participarão da mostra são Adriano Costa, Alice Shintani, Anna
Maria Maiolino, Bené Fonteles, Carmela Gross, Cildo Meireles, Clara Ianni,
Dalton Paula, Fabio Morais, Fernanda Gomes, Graziela Kunsch, Gustavo Speridião,
Ícaro Lira, Iran do Espírito Santo, Jaime Lauriano, Jonathas de Andrade, Maria
Laet, Miguel Rio Branco, Moisés Patrício, Nelson Félix, Nuno Ramos, Pablo
Lobato, Paulo Bruscky, Paulo Nazareth, Raphael Escobar, Rosana Paulino, Sonia
Gomes, Tiago Gualberto e Vitor Cesar.
A
exposição ficará aberta até 30 de julho, de terça a domingo, das 11h às 20h,
com entrada franca. O Instituto Tomie Ohtake fica na Avenida Faria Lima 201, em
São Paulo.
Por Bruno Bocchini, da Agência Brasil
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O livro com a peça teatral Irena Sendler, minha Irena:
A história registra as ações de um grande herói, o espião e membro do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, Oskar Schindler, que salvou cerca de 1.200 judeus durante o genocídio perpetrado pelos nazistas. O industrial alemão empregava os judeus em suas fábricas de esmaltes e munições, localizadas na Polónia e na, então, Tchecoslováquia.
Irena Sendler, utilizando-se, tão somente, de sua posição profissional – assistente social do Departamento de Bem-estar Social de Varsóvia – e se valendo de muita coragem, criatividade e altruísmo, conseguiu salvar mais de 2.500 crianças judias.
"O Anjo do Gueto de Varsóvia", como ficou conhecida Irena Sendlerowa, conseguiu salvar milhares de vidas ao convencer famílias cristãs polonesas a esconder, abrigando em seus lares, os pequeninos cujo pecado capital – sob a ótica do führer – consistia em serem filhos de pais judeus.
Período: 2ª Guerra Mundial, Polônia ocupada pela Alemanha nazista. A ideologia de extrema-direita que sistematizou o racismo científico e levou o antissemitismo ao extremo com a Solução Final, implementava a eliminação dos judeus do continente europeu.
A guerra desencadeada pelos nazistas – a maior deflagração do planeta – mobilizou 100 milhões de militares, provocando a maior carnificina já experimentada pela humanidade, entre 50 e 70 milhões de mortes, incluindo a barbárie absoluta, o Holocausto, o genocídio, o assassinato em massa de 6 milhões de judeus.
Este é o contexto que inspirou o autor a escrever a peça teatral “Irena Sendler, minha Irena”.
Para dar sustentação à trama dramática, Antônio Carlos mergulhou fundo na pesquisa histórica, promovendo a vasta investigação que conferiu à peça um realismo que inquieta, suscitando reflexões sobre as razões que levam o homem a entranhar tão exageradamente no infesto, no sinistro, no maléfico. Por outro lado, como se desanuviando o anverso da mesma moeda, destaca personagens da vida real como Irena Sendler, seres que, mesmo diante das adversidades, da brutalidade mais atroz, invariavelmente optam pelo altruísmo, pela caridade, pela luz.
É quando o autor interage a realidade à ficção que desponta o rico e insólito universo com personagens intensos – de complexa construção psicológica - maquinações ardilosas, intrigas e conspirações maquiavélicas, complôs e subterfúgios delineados para brindar o leitor – não com a catarse, o êxtase, o enlevo – e sim com a reflexão crítica e a oxigenação do pensamento.
Dividida em oito atos, a peça traz à tona o processo de desumanização construído pelas diferentes correntes políticas. Sob o regime nazista, Irena Sandler foi presa e torturada – só não executada porque conseguiu fugir. O término da guerra, em 1945, que deveria levar à liberdade, lancinou o “Anjo do Gueto” com novas violências, novas intolerâncias, novas repressões. Um novo autoritarismo dominava a Polônia e o leste Europeu. Tão obscuro e cruel quanto o de Hitler, Heydrich, Goebbels, Hess e Menguele, surgia o sistema que prometia a sociedade igualitária, sem classes sociais, assentada na propriedade comum dos meios de produção. Como a fascista, a ditadura comunista, também, planejava erigir o novo homem, o novo mundo. Além de continuar perseguindo Irena, apagou-a dos livros e da historiografia oficial, situação que só cessaria com o debacle do império vermelho e a ascensão da democracia, na Polônia, em 1989.