A expansão da produção de minério de ferro no
Brasil, e a diversificação geográfica, enfrenta carência de logística
ferroviária, fundamental para tornar viável um projeto com escala de milhões de
toneladas. É o caso da Bahia Mineração (Bamin). A empresa aguarda a
retomada da Ferrovia de Integração Oeste-Leste, a Fiol, que está com obras
interrompidas há vários anos. Há uma previsão de ser licitada este ano pelo
Ministério da Infraestrutura.
O projeto da Bamin, controlada pelo Eurasian Resources Group, do Casaquistão,
prevê fazer 18 milhões de toneladas por ano, num investimento de US$ 700
milhões. Assim, a Bahia se tornaria o terceiro maior produtor de minério de
ferro, atrás de Minas Gerais e Pará. O projeto da empresa inclui ainda um
terminal portuário diversificado em Ilhéus (BA). Aí são mais US$ 800 milhões de
aportes.
“Se for necessário, estamos dispostos a participar da licitação da
Fiol em um consórcio”, disse Alexandre Aigner, diretor financeiro e de
relações institucionais da mineradora, sediada em Salvador. O ERG já tem
experiência de operar ferrovias na Ásia. Ele diz que, pelo andamento do trâmite
no governo federal, o edital da licitação da Fiol poderá ser
publicado até fim de setembro. Assim, a ferrovia poderia ir a leilão no
início de 2021.
Pertencente à estatal Valec, a Fiol tem um traçado com origem em Ilhéus,
cortando o sudoeste da Bahia e com ponto final em outra ferrovia, a
Norte-Sul, na cidade de Figueirópolis (TO). Ao todo são 1527 km, mas a parte
que interessa à Bamin tem 520 km, margeando Caetité, município onde está a mina
Pedra de Ferro.
O trajeto até Caetité já tem mais de 70% das obras avançado. Um empreendimento
de minério de ferro em alta escala de produção só é viável montado no sistema
mina-ferrovia- porto. Outra via é mina-mineroduto- porto, como o
Minas- Rio (Anglo American) e o que a SAM prevê no norte de Minas Gerais, A
Samarco, paralisada, foi pioneira, de Minas ao Espírito Santo.
Enquanto a Fiol continua inacabada, a Bamin decide fazer o que é possível de
ser feito. A empresa vai ativar, até outubro, um projeto de produção em baixa
escala. O objetivo é produzir 800 mil toneladas no prazo de um ano, a partir de
novembro, e vender também a totalidade de produto que se encontra
estocado.
Para a produção de até 1 milhão de toneladas por ano, a mineradora já tem as
licenças ambientais para a extração do minério na Pedra de Ferro. Já o projeto
de 18 milhões de toneladas obteve a licença de implantação.
Para esse início de produção serão investidos R$ 40 milhões, informa Aigner, da
Bamin. A logística de escoamento do minério, no entanto, será rodoviária, o que
encarece a operação. O produto, dos tipos granulado e finos (sinter-feed) será
levado em carretas até o porto do complexo naval de Enseada, em
Maragogipe, cidade no Recôncavo Baiano.
Os recursos serão alocados na reativaçao de um terminal de transbordo, em
Licínio de Almeida (a 40 km), onde o minério será blendado e carregado,
via ferrovia da VLI, para o mercado interno. Para o externo, seguirá
por rodovia em carretas que transportam 33 toneladas cada uma, até o
terminal portuário de Enseada.
Segundo o diretor, a produção nesta fase é importante para mostrar que o
projeto, como um todo, é viável e que a Bamin poderá ser um fornecedor mundial
(e até local) confiável. Os grandes mercados no alvo da empresa são China, na
Ásia, Europa e Oriente Médio.
De acordo com Aigner, o minério da produção de baixa escala, e também no futuro
— com instalações de beneficiamento e de concentração do produto —, terá teor
de ferro entre 65% e 66%. Atualmente, o produto de referência na China, com
62%, é negociado acima de US$ 115 a tonelada.
Até o fim de 2021, a mineradora prevê colocar no mercado 800 mil toneladas.
Desse volume, 35 mil toneladas de produto já estocado serão despachadas, via
trem, para clientes no Brasil.
A retomada de produção, segundo o diretor, vai movimentar a economia da região,
como o de serviços e fornecedores, criando empregos. A previsão é de gerar R$
47 milhões em impostos federais, estaduais e municipais.
Atualmente, em Caetité, a empresa tem 89 funcionário diretos para as operações
da mina. Os indiretos serão mais cerca de 300 de empresas terceirizadas.
As reservas de minério da Bamin foram descobertas em 2005 e a empresa
constituída em 2006. O grupo ERG, produtor de minério de ferro no Casaquistão,
com 12 milhões de toneladas, comprou 50% em 2008 e o restante em 2010. Também
produz ferrocromo, além de alumina, alumínio, cobre, cobalto, carvão
energético, É gerador de energia no país e operador de ferrovias na Ásia
Central. Tem faturamento anual de US$ 6 bilhões.
Bamin começa as obras de acesso do terminal privado Porto Sul em Ilhéus
De São Paulo
Para adiantar as obras de seu projeto do terminal portuário tipo TUP (uso
privado), em Ilhéus, a Bamin acaba de iniciar as obras de infraestrutura de
acesso ao local — 14 km ao norte da cidade baiana. Com isso, abre caminho para
a implantação do porto, propriamente dito, por onde fará a exportação de
seu minério de ferro no futuro, quando a ferrovia da Fiol estiver
finalmente pronta.
O Porto Sul, como é chamado, é um projeto todo comandado pela mineradora, com
apoio do governo da Bahia. O terminal, além de minério de ferro (próprio e de
terceiros), prevê embarcar outras cargas, como soja, milho, etanol e carvão
vegetal.
Desde 2013, a Bamin é a concessionária do terminal. Segundo a empresa, ela já
dispõe da licença de implantação do porto, bem como de supressão da
vegetação na área definida para o empreendimento, na localidade de Aritaguá.
“Esse porto é estratégico para nosso projeto e para o Estado da
Bahia”, diz Alexandre Aigner, diretor financeiro e de relações institucionais
da mineradora.
Serão investidos nessa fase de obras R$ 188 milhões, informa o executivo. A
ordem de serviço para as atividades foram dadas a uma construtora de Minas
Gerais em meados de julho e o tempo de duração está previsto de agora até março
de 2022. Serão construídas vias de acesso, sinalização, pontes, instalações de
rede elétrica e de água, entre outras.
A instalação do porto, especificamente, terá um investimento de US$ 800
milhões. E essa obra de peso — que tem previsão de durar quase dois anos — só
será iniciada quando a retomada da construção da Fiol, sob nova gestão, após
ser licitada, já estiver acontecendo, informa o diretor da Bamin. “Nossa obra
será alinhada à conclusão da ferrovia, que poderá durar cerca de 30
meses”, afirmou Aigner.
A licitação da Fiol aguarda o sinal verde do Tribunal de Contas
da União (TCU), que vai liberar a publicação do edital. O processo entrou
no órgão faz oito meses.
Segundo a Bamin, nessa primeira fase de obras do Porto Sul, no auge, serão
gerados 400 empregos diretos, podendo ter ainda 1,2 mil indiretos. São
estimados mais de R$ 24 milhões em recolhimento de tributos.
Por Ivo Ribeiro, no Valor
Econômico