A polícia se tornou mais
eficaz, a velocidade de transmissão de dados disparou e as máquinas ficaram
mais inteligentes
Na Coreia do Sul, em algumas cidades da China e em certas
regiões da Suécia o download de filmes em alta resolução demora poucos segundos
para ser finalizado. As videochamadas jamais travam. A polícia usa câmeras de
altíssima qualidade conectadas à internet que captam imagens em tempo real, 24
horas por dia, sete dias da semana. Mães atarefadas vestem seus bebês com
fralda dotada de sensores que avisam quando ela está suja. Testes com carros
autônomos são bem-sucedidos.
Essa sucessão de bons resultados se tornou possível graças à rede de internet
móvel 5G, pivô da atual Guerra Fria entre Estados Unidos e China, tecnologia
que está prestes a transformar a vida de bilhões de pessoas em diversos países
— até mesmo no Brasil. As mudanças se devem a um fator essencial: velocidade.
Com o 5G, a internet é pelo menos 100 vezes mais rápida do que a da geração
anterior, atalho para o mundo da inteligência artificial. A transmissão de
dados será imediata. Os aparelhos vão se conectar entre si. A vida não será
mais como antes, como provam as primeiras experiências nos países que já
adotaram o sistema.
As aplicações do 5G são ilimitadas. “Ele vai tornar as cidades mais
inteligentes”, diz Daniel Batista, cientista da computação e professor de
programação do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São
Paulo. O especialista dá um exemplo prático. Na maioria dos municípios, apenas
algumas poucas avenidas, ruas ou ciclofaixas são monitoradas por câmeras. Com o
5G, praticamente todo o espaço urbano poderá ser esquadrinhado pelo olhar
atento dos sistemas de vídeo. Outro potencial uso ajudará a salvar vidas. “Com
o 5G, será possível, por exemplo, ter sistemas de GPS em ambulâncias conectados
a um serviço de emergência que abriria os semáforos à medida que o veículo se
aproximasse do local do acidente ou do hospital”, afirma o professor da USP. A
mesma lógica vale para carros de polícia, que teriam prioridade na passagem por
faróis ou outros reguladores de trânsito.
Os veículos autônomos, que têm consumido bilhões de dólares em investimentos
das montadoras, terão um estímulo para virar realidade. Para funcionar sem
oferecer riscos, eles dependem de uma rede complexa de sensores interligados
por inteligência artificial. Antes do 5G, o carro autônomo poderia demorar
alguns centésimos de segundos mais para tomar uma decisão, como desviar de um
obstáculo ou frear bruscamente. Na era do 5G, a resposta do automóvel será
imediata, e a probabilidade de alguma falha de conexão afetar o seu
funcionamento será reduzida a quase zero.
Na Coreia do Sul, maior adepta do 5G no planeta, a produção desses veículos foi
impulsionada pela instalação da nova rede, que se deu em abril de 2019. O país,
o primeiro a adotar o 5G comercialmente (desde então foi seguido por Estados Unidos,
Reino Unido, Suécia e China), pretende investir 20 bilhões de dólares até 2022
para ampliar o uso da tecnologia. Atualmente, 6 milhões de sul-coreanos têm
acesso ao 5G, mas os outros 45 milhões de habitantes esperam pela chance de
adotar o sistema. Na Suécia, o 5G deu novo impulso à indústria de games. Desde
o advento da tecnologia, no fim de 2019, o download de jogos on-line aumentou
200%.
O Brasil vê a tecnologia como um sonho distante. O leilão das
frequências 5G, que serve para determinar quais empresas poderão operar a nova
rede, está marcado para 2021 — isso se não houver, como é típico no país,
atrasos ou adiamentos. No mês passado, a Claro anunciou a implementação, em
algumas regiões e em caráter experimental, do 5G DSS (Compartilhamento Dinâmico
de Espectro, da sigla em inglês), espécie de transição entre o 4G e o 5G, que é
dez vezes mais veloz do que o primeiro.
Enquanto o 5G não chega, será preciso melhorar a segurança das redes de
internet. “Com o aumento da taxa de transmissão de dados, criminosos vão
conseguir vazar informações privadas em poucos segundos”, diz o professor
Daniel Batista. O avanço da tecnologia suscita debates apaixonados sobre os
limites da inteligência das máquinas. “Com equipamentos aprendendo diversas
funções, passaremos a ser escravos da tecnologia”, afirmou a VEJA o professor
de comunicação wireless na King’s College London Mischa Dohler. O 5G, de fato,
provocará grandes revoluções. Resta à humanidade saber usá-las.
Por Sabrina Brito, na Revista
Veja
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