Em 2015, quando foi
anunciada a segunda etapa do Programa de Investimentos em Logística (PIL II), o
governo federal divulgou que destinaria R$ 32,1 bilhões a obras de
infraestrutura no Nordeste. O montante representava 20% do total de todo o
país.
Três anos depois,
dois dos projetos contemplados estão quase parados: o das ferrovias de
Integração Leste Oeste (Fiol), que cruzarão o estado da Bahia, e o da
Transnordestina, que vai passar por 81 municípios entre Pernambuco e Piauí,
além dos portos de Suape (PE) e Pecém (CE).
As obras se
arrastam há cerca de uma década e já consumiram mais de R$ 12 bilhões dos
cofres públicos.
Na Fiol, alguns
lotes estão parados depois que a Valec, empresa responsável pelas obras,
rescindiu o contrato com construtoras alegando descumprimento de obrigações
contratuais e problemas na construção.
Já na
Transnordestina, o TCU (Tribunal de Contas da União) suspendeu o Repasse de
dinheiro após exigir esclarecimentos sobre descompasso entre valores recebidos
e etapas já executadas.
Por conta disso, o
Grupo CSN, responsável pela construção da Transnordestina, busca um investidor
que viabilize mais R$ 7 bilhões para sua conclusão.
“Essas obras são
essenciais ao escoamento da produção agrícola da região e de estados próximos.
O Nordeste tem a seu favor sua localização, porque está mais próximo da Europa,
da América do Norte e do Canal do Panamá”, afirma Claudio Graeff, que é
presidente da comissão de logística da Associação Brasileira do Agronegócio.
Segundo ele, cada
ponto percentual da produção agrícola que for transferido para esses ramais
ferroviários trará economia de R$ 18 milhões por ano aos produtores. Em 2017, a
região produziu 17,9 milhões de toneladas, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística).
ESTRADAS
Outro ponto que
atrapalha o desenvolvimento da região Nordeste é a falta de investimento e de
manutenção na malha rodoviária.
De acordo com
levantamento da Confederação Nacional de Transportes em 2017, dos mais de 460
mil quilômetros de estradas, apenas 13% estão pavimentados e 61,5% são
considerados regulares, ruins ou péssimos.
Para José Fernando
Ferreira, presidente da Lupeon, empresa especializada em gestão de fretes, isso
tem impacto no preço final do produto.
“O custo do
quilômetro rodado na região é 15% mais caro que no Sul e no Sudeste. A má
conservação também afeta prazo de entrega e preço do seguro, que chega a ser
50% mais alto”, diz.
As poucas soluções
que têm beneficiado a região vêm da iniciativa privada.
Uma delas é o
Terminal de Grãos do Maranhão (Tegram), inaugurado em 2015 próximo ao porto de
Itaqui, em São Luís, e administrado por um consórcio formado pelas empresas
Terminal Corredor Norte, Glencore Serviços, Corredor Logística e Infraestrutura
e Amaggi & LDC Terminais Portuários.
Em três anos de
operação, o complexo com capacidade de estocagem de 5 milhões de toneladas de
grãos já colocou o porto de Itaqui como líder no escoamento de soja e milho
produzidos na fronteira agrícola que abrange Maranhão, Tocantins, Piauí, Bahia
e Mato Grosso.
O porto de Pecém,
no Ceará, anunciou no ano passado que assinará contrato com a Port of
Rotterdam, gestora do porto holandês de Roterdã, o mais importante da Europa.
Além de atrair
investimentos, a parceria deverá criar 30 mil empregos diretos.
“A obrigação de
fazer esse tipo de investimento é do estado. Mas o que ocorreu com o Terminal
de Grãos do Maranhão é uma mostra de como parcerias público-privadas podem
melhorar a competitividade da região”, diz Fábio Sertori, vice-presidente
jurídico do Instituto Smart City Business America.
O governo
pernambucano também busca atrair investidores para melhorar a infraestrutura do
porto do Suape.Segundo a estatal que administra o complexo, será feito um
aporte de R$ 540 milhões pela empresas Decal, Pandenor, Tequimar e Temape.
O objetivo é
aumentar a capacidade de tancagem (armazenamento) do estuário, que subirá de
700 mil metros cúbicos para mais de 1 milhão.
Outra alternativa
que está crescendo no Nordeste são os parques logísticos.
Na Paraíba, a
Intecom apostou na criação de um centro de distribuição de 30 mil metros
quadrados, próximo à BR-101, que serve de ligação para terminais de cargas
aéreas, como os aeroportos de Natal e de Recife.
“O Nordeste
enfrenta um problema sério de armazenamento de carga”, diz Casemiro Tercio,
especialista em gestão de portos e sócio fundador da Garin Investimentos.
Criada em 2017, a
empresa montou carteira de investimentos em infraestrutura logística que,
segundo o executivo, deve atrair cerca de R$ 340 milhões em projetos de
tancagem de combustível e minérios. Para isso, serão feitas apresentações
dessas propostas pelo Brasil, além de Dubai e China.
17,9 toneladas de
produtos agrícolas foram produzidas no Nordeste em 2017, segundo o IBGE
30 mil empregos
devem ser criados no Ceará com parceria de porto holandês
540 milhões de
reais serão investidos pela iniciativa privada no porto de Suape, em Pernambuco
Por Denilson Oliveira, na Folha de S. Paulo/