A poucos dias do 8º Fórum Mundial da Água, o pesquisador da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Cerrados, Lineu Neiva Rodrigues,
se prepara para apresentar no evento uma plataforma de manejo de irrigação e
recursos hídricos em bacias hidrográficas que está em desenvolvimento no órgão.
O Fórum ocorre em Brasília entre 18 e 23 de março.
O sistema computacional utiliza equipamentos instalados no campo e
imagens de satélite para sugerir a melhor opção de irrigação para os
produtores. “A ferramenta vai dar uma opção, uma sugestão de como podem
utilizar a água. Mas a decisão é dos usuários”, disse. A plataforma busca
contribuir para otimizar o uso dos recursos hídricos e a irrigação em uma
determinada bacia, segundo o engenheiro agrícola.
Veja a seguir os principais trechos
da entrevista de Lineu Rodrigues à Agência Brasil.
Agência Brasil: Como surgiu o projeto?
Lineu Rodrigues: Esse estudo surgiu da demanda da sociedade. Em algumas
bacias hidrográficas há problemas, como a bacia do Rio São Marcos, que tem
conflitos sérios de água entre irrigantes, conflito entre irrigantes e uma
usina hidrelétrica [de Batalha, em Paracatu (MG)], conflito entre estados
porque essa bacia abrange Distrito Federal, Minas Gerais e Goiás, cada um com
seus critérios de outorga, e também com a Agência Nacional de Águas e as
Agência Brasil: Em que consiste a ferramenta?
Rodrigues: No nosso projeto, uma abordagem que tem ganhado corpo é a
gestão compartilhada da água. Nesse contexto, os usuários precisam ter uma
ferramenta que os possibilite usar a água de forma organizada. Esse projeto
cria uma ferramenta para que os usuários, dentro da gestão compartilhada da
água, possam indicar como essa água poderia ser utilizada. Estamos usando
diversas ferramentas, inclusive imagens de satélites, para monitorar a
quantidade de água que está sendo utilizada, e por meio desse monitoramento,
poder informar ao agricultor quanta água ele está utilizando, quanto o vizinho
dele está utilizando e o quanto de água tem no rio. É uma ferramenta
computacional que depende de equipamentos instalados no campo. Com isso, a
gente faz um balanço de água na bacia e vai informar o quanto de água está
sendo demandado em determinado momento e se tem água suficiente para atender a
demanda.
Agência Brasil: Quando o projeto poderá ser implantado?
Rodrigues: Esse projeto é financiado pela Fundação de Apoio à
Pesquisa do Distrito Federal, está em andamento e tem mais um ano para ser
finalizado. Temos resultado do monitoramento por satélite para as culturas do
trigo e da soja nas bacias do Rio Buriti Vermelho [no DF] e do Rio São Marcos.
A gente conseguiu estimar a demanda [por água] via imagens de satélite.
Agência Brasil – A quem se destina essa ferramenta?
Rodrigues – Não queremos ficar com esse
instrumento para nós [pesquisadores] nem para o governo. A ideia é fortalecer
os usuários, os comitês de bacias hidrográficas, que essa ferramenta seja
passada para as associações de irrigantes, de produtores, de tal forma que eles
se organizem e tomem a decisão da melhor forma de usar a água dentro do
critério de gestão compartilhada.
Agência Brasil – Qual o panorama da irrigação
no país?
Rodrigues – Há dois tipos de agricultura: agricultura de
sequeiro, que depende da água da chuva – 97% da nossa agricultura é de sequeiro
e 3% é de irrigados, em que, quando falta água da chuva, tira-se água do rio
para complementar. No geral, no sistema de irrigação, até porque o preço da
energia é muito caro, os produtores usam água de forma racional. Lógico que tem
casos e casos. Nos casos em que se observa maior ineficiência, o produtor acaba
pagando, por causa do preço da energia. Na agricultura irrigada, a grande
maioria procura usar a água de forma adequada. Aí entra nossa função de dar
subsídios para as pessoas de como usar a água de forma organizada porque muitos
não podem pagar um consultor. No Brasil, em geral, usamos menos de 1% da nossa
disponibilidade hídrica. O problema é que temos bacias críticas, que têm mais
aptidão agrícola com uso intensivo da agricultura irrigada.
EBC