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Fitch Ratings espera alguma melhora no ambiente de negócios no Brasil, com PIB
ainda estável neste ano e um avanço maior a partir de 2018, segundo Ricardo
Carvalho, diretor sênior do grupo de finanças corporativas da agência de
classificação de riscos.
Segundo
Carvalho, a agência espera que a melhora na economia chegue ao balanço das
companhias nos próximos meses. As empresas têm sido também beneficiadas pelo
cenário mais favorável para commodities, observou.
"Vemos
melhora nos índices de confiança e isso tende a gerar benefícios no ambiente de
negócios. Mas indicadores de produção ainda estão fracos, temos desdobramentos
da Operação Lava-Jato e não sabemos como esse processo termina", ponderou
o especialista, que participou de evento da Fitch.
Carvalho
disse ainda que, pelo lado da demanda, ainda não viu sinais de retomada mais
fortes. "A partir do segundo semestre, devemos ver melhora nos
indicadores, mas de forma mais sustentável só em 2018." O diretor lembrou
que o nível de custo de dívida enfrentado pelas empresas em 2015 e 2016
consumiu grande parte do fluxo de caixa, se não ele todo. "Os níveis não
eram sustentáveis. Agora caminhamos para uma forte queda de juros e o custo cai
também", diz.
Carvalho
destacou como boa notícia a retomada do mercado local de dívida e afirmou que
as estatísticas do primeiro trimestre ainda não mostram o movimento de alta.
"Temos pelo menos dez emissores em processo de atribuição de rating de
alguma emissão de debêntures. Achamos que o mercado voltará aos níveis de 2015,
com melhora do perfil de crédito, rentabilidade dos títulos públicos em queda
levando investidores a assumir mais risco nas carteiras e volume elevado de
vencimentos em 2017."
Para
Alexandre Garcia, analista sênior de construção da Fitch, o grupo Odebrecht,
classificado atualmente em "CC" pela Fitch, ainda precisa superar seu
maior desafio para destravar contratos: estabelecer um acordo de leniência com
as autoridades de 11 países em que praticou pagamentos ilícitos. No caso da
construtora Queiroz Galvão - classificada em "C bra" pela agência-, a
maior dificuldade é reverter a declaração de inidoneidade por cinco anos dada
pelo Tribunal de Contas da União (TCU). "Esse veredicto é quase uma
sentença de morte para a companhia porque ela não pode contratar clientes
públicos."
No
caso da Andrade Gutierrez, com nota "B-", a situação é "menos
pior" pois vem conseguindo novos contratos, além de desbloquear recebíveis
que estavam travados.
O
diretor-executivo da Fitch no país, Rafael Guedes, disse que espera mais
clareza sobre como as reformas serão feitas para voltarem a avaliar o rating
soberano do Brasil. Segundo ele, o país teve certa estabilização política e
econômica, com queda da inflação, microrreformas e ajustes externos. No
entanto, a perspectiva negativa do rating reflete o gradualismo fiscal, além de
riscos na implementação do ajuste fiscal e com relação ao ambiente político.
"Os analistas estão esperando melhora no campo fiscal e crescimento do
país. Mas a recuperação será lenta", diz.
Por Daniela Meibak
e Paula Selmi, no Valor Econômico