Formação de cartel
e propinas explicam aumento no custo das obras públicas
O Porto de Mariel,
em Cuba, a Arena Corinthians, em São Paulo, o Estádio do Maracanã, no Rio de
Janeiro, a Usina Hidrelétrica de Jirau, em Rondônia, a criação da Sete Brasil.
Cresce a lista de projetos que teriam nascido para alimentar o esquema de pagamentos
ilegais acertado entre políticos e executivos da Odebrecht, segundo depoimentos
de sócios e ex-executivos da companhia ao Ministério Público Federal (MPF). São
custos vultosos - Jirau, que não foi construída pela Odebrecht, custou R$ 19
bilhões - que poderiam ter sido reduzidos ou nem realizados não fossem as
negociações focadas no repasse de propinas.
O economista
Claudio Frischtak, da Inter.B Consultoria, destaca que a perda anual em
decorrência dessas transações ilícitas é bilionária.
- O TCU (Tribunal
de Contas da União) tem um estudo que mostra que o sobrepreço médio cobrado nas
obras de infraestrutura no Brasil é de 17%. Essa fatia representa apenas as
perdas diretas. É um enorme volume de investimentos que, até hoje, não se
transformou em ativos produtivos. São ganhos adiados - afirma ele.
Estudo da Inter.B
mostra que, em 2015, o Brasil investiu R$ 134 bilhões em infraestrutura, já em
valores atualizados pelo IPCA, índice que mede a inflação. Um sobrepreço de 17%
nesse valor, representaria, hoje, o equivalente a uma perda de R$ 22,78
bilhões. Só do aporte do setor público, que foi de R$ 58,8 bilhões naquele ano,
a mordida beira R$ 10 bilhões.
- Imagina o que o
Brasil poderia fazer com esses R$ 10 bilhões em dez anos? Esse sobrepreço tem
duas explicações principais: a cartelização dessa indústria e a concorrência
direcionada, com base em pagamentos de propina, editais manipulados e outras
práticas. Infelizmente, a política no Brasil se move com a captura de nacos
(dos recursos) do Estado - destaca o economista, lembrando que o sobrepreço se
desdobra em novos gastos, como desperdícios ao longo da obra, atrasos na entrega
de empreendimentos e projetos.
DÍVIDA SUPERA INVESTIMENTO
O gigantismo das
cifras impressiona. A Sete Brasil foi criada em 2010 com a promessa de bater
US$ 27 bilhões em investimentos, permitindo a construção de 28 sondas para
exploração de petróleo nas camadas do pré- sal. Ano passado, a empresa entrou
em recuperação judicial. Ao todo, o investimento chegou a R$ 8,3 bilhões no período,
mas as dívidas com bancos e outros fornecedores alcançaram mais que o dobro do
valor investido: R$ 19,3 bilhões. Adeodato Netto, estrategista-chefe da Eleven
Financial, pondera que, ainda que as informações trazidas à tona pelas delações
da Odebrecht impressionem, são de apenas uma empresa. - Não dá para ter ideia
da extensão do dano. A naturalidade com que os delatores descrevem as
negociações é assustadora. As irregularidades, acrescenta Netto, manipulam os
preços cobrados por toda a cadeia. - Se todas as obras de infraestrutura em 15
anos tivessem tido preço real, talvez o Brasil tivesse hoje um déficit primário
bem menor. Em 2016, ficou negativo em R$ 154,2 bilhões - diz ele.
Por Glauce
Cavalcanti, em O Globo
________________
Para saber mais sobre o livro "Respiração, voz e dicção", clique aqui. |
Para saber mais sobre o livro "Comunicação estratégica", clique aqui. |