sábado, 8 de abril de 2017

A corrupção multinacional


México investiga contratos entre Pemex e Odebrecht
A petroleira estatal Petróleos Mexicanos (Pemex) informou que funcionários da ativa e aposentados estão sendo ouvidos como testemunhas em uma investigação de suborno iniciada depois que se tornou público o acordo que a Odebrecht e a Braskem assinaram com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos (DoJ), em dezembro. As penalidades impostas às duas empresas somam US$ 3,5 bilhões.
A investigação pelas autoridades do México começou no fim de janeiro e o objetivo é identificar as pessoas envolvidas. As duas empresas brasileiras admitiram pagamentos de cerca de US$ 10,5 milhões em propinas para funcionários do governo do México, incluindo um "funcionário de alto nível de uma empresa estatal mexicana" para ganhar um contrato. Esse funcionário público teria recebido US$ 6 milhões entre dezembro de 2013 e o fim de 2014 pagos pelo Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht.
A investigação ganhou força no México depois que a Auditoria Superior da Federação (ASF), órgão análogo ao Tribunal de Contas da União (TCU) no Brasil, informou ter encontrado irregularidades em contratos firmados entre a Pemex e a Odebrecht.
A autoridade americana afirma que o grupo brasileiro obteve benefícios de US$ 39 milhões como resultado dessas práticas no México, mas o nome da Pemex não é mencionado na parte relacionada ao país no trecho do documento tornado público pelo DoJ. O governo dos Estados Unidos afirma que durante "um relevante período de tempo" a Odebrecht e parceiros pagaram mais de US$ 788 milhões em subornos associados a mais de 100 projetos em 12 países. Além do Brasil e México são citados Angola, Argentina, Colômbia, República Dominicana, Equador, Guatemala, Moçambique, Panamá, Peru e Venezuela.
Em um comunicado divulgado na noite de quarta-feira, a Pemex informou que o depoimento dos funcionários é uma exigência da Procuradoria Geral da República do México (PGR). "Dada a natureza da investigação que se seguiu e em atenção ao devido processo [legal], os nomes das pessoas não podem ser divulgados agora", diz o comunicado.
A Pemex listou quatro contratos assinados com a Odebrecht e a Braskem no período de 2010 a 2014. O mais antigo é um contrato de suprimento de etano celebrado em fevereiro de 2010 entre a Pemex Gas Y Petroquímica Básica, a Braskem S/A e o grupo Idesa, um dos maiores do México. Pelo acordo, a brasileira formou uma "joint venture" para construção do Complexo Petroquímico do México, que recebeu investimentos de US$ 5,2 bilhões. Essa unidade é capaz de produzir anualmente 1,05 milhão de toneladas de eteno e polietileno. O presidente da Braskem na época era Bernardo Gradin, ex-sócio do grupo Odebrecht.
Em 2014 foram assinados dois contratos, segundo a lista divulgada pela Pemex. Um para obras em um projeto de aproveitamento de resíduos para a refinaria Miguel Hidalgo Tula I, e o outro para desenvolvimento da fase I do projeto de conversão de resíduos da refinaria de Salamanca. Por último está um novo contrato para obras na refinaria Miguel Hidalgo Tula II, que previa a construção de acessos e obras externas para o projeto de aproveitamento de resíduos da unidade.
A Pemex divulgou um link onde se pode ler os contratos, mas não é possível saber valor e nem o nome dos responsáveis, já que várias partes estão com tarjas pretas. No comunicado, a estatal mexicana reiterou seu compromisso de colaborar para o esclarecimento dos fatos "até as últimas consequências" e ressaltou que na intenção de melhorar suas práticas de transparência e de "informar a sociedade" continuará informando sobre o avanço das investigações.
Por Cláudia Schüffner e Rodrigo Rocha, no Valor Econômico

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