O Ministério da Saúde aguarda doação de 2 milhões de testes para Covid-19
após perder lotes que ultrapassaram a data de validade.
Cerca de 540 mil unidades venceram até esta
sexta-feira (14), segundo tabela interna da pasta, obtida pela Folha.
Fora da validade, o exame não pode ser aplicado e deve ser incinerado ou usado
em pesquisas. No total, há cerca de 1,9 milhão de testes estocados.
Praticamente todos vencem até metade de junho.
A pasta afirmava à imprensa que entregaria todos os exames no prazo de
validade.
No começo de abril, porém, a pasta admitiu ao MPF (Ministério Público Federal) que poderiaperderpelomenos2,3
milhões de testes. Como mostrou a Folha nesta quinta-feira (13), o mesmo
documento foi repassado pela Procuradoria da República no Distrito Federal
à CPI da Covid no
Senado.
O governo chegou a estocar cerca de 7milhões de exames, em novembro de 2020. Os
produtos venceríam a partir do mês seguinte, mas a Anvisa (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária) estendeu a validade por mais quatro meses.
Os testes ainda em estoque são do tipo RT-PCR (moleculares), o mais preciso
para detectar o vírus ativo.
Ele é usado na análise de amostras coletadas do nariz e da garganta de
pacientes com um longo cotonete. Cada exame custou R$ 42,30 ao governo. O
volume que venceu até esta sexta-feira foi comprado por R$ 22,8 milhões.
A fabricante coreana Seegene disse que doará novos testes. Também vai entregar
132 equipamentos para "interpretação do resultado" das análises de
amostras. Não há data definida para o embarque das doações.
"Os testes a serem doados têm prazo de validade maior e são de uma nova
geração do produto, eficazes inclusive para identificação de contaminação por
variantes do coronavírus", disse a empresa, em nota.
O ministério ainda não informou como será feita a substituição de testes já
distribuídos aos estados e vencidos.
A estratégia de testes do governo na pandemia é um dos temas em análise
pela CPI da Covid no
Senado.
O TCU (Tribunal de Contas da União) deve
votar neste mês se abre processo específico sobre suposta omissão do
ex-ministro da Saúde Eduardo
Pazuello, e de seus auxiliares, para a compra e distribuição dos exames.
A área técnica do tribunal aponta que a pasta repassou os exames aos estados
sem critério e não elaborou uma política nacional de testagem.
"Surpreende que o Brasil tenha implantado como estratégia esperar que os
cidadãos com sintomas procurem os serviços de saúde e realizem um teste de
detecção da doença, sem estabelecer qualquer meta, ação ou objetivo de acordo
com os resultados", afirma relatório do TCU.
O ministério chegou a apresentar meta de realizar mais de 24 milhões de exames
RTPCR em 2020, mas foram feitos 16,6 milhões até agora.
Durante a pandemia, a pasta atrasou compras e deixou que faltassem insumos para
coleta das amostras, como cotonetes e tubos, além de reagentes para análise.
Além dos exames que serão doados, o Ministério tem acordo para receber cerca de
3,7 milhões de testes fabricados pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).
A Saúde também diz que
criará nova política de testagem focada no uso de testes rápidos de antígeno.
modelo mais barato e ágil que o RT-PCR.
O ministro Marcelo Queiroga (Saúde)
ainda não disse quantas unidades deste novo modelo irá distribuir e em qual
prazo.
Em nota, o ministério disse que os testes RT-PCR vencidos serão substituídos
sem custo para o governo.
"Os 1,7 milhão de testes RTPCR, que estão fora do prazo de validade, serão
substituídos pelo fornecedor sem custo. No total, o Ministério da Saúde já distribuiu aos estados
mais de 31 milhões de testes", afirmou a pasta.
Os exames que estão com a validade curta foram comprado s pelo governo por meio
da Opas (Organização Pan-Americana de Saúde), entidade internacional de saúde pública que também atua no
Brasil.
Por Mateus Vargas, na Folha de S. Paulo
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