Enquanto o edital do 5G é analisado
pelo Tribunal de Contas da União (TCU), a Agência Nacional de
Telecomunicações (Anatel) observa movimentações que podem indicar o retorno de
um quarto competidor nacional no segmento de telefonia celular. Hoje, o posto é
ocupado pela Oi, que já vendeu sua rede às operadoras rivais — Vivo, Claro e
TIM.
A Anatel aposta na aquisição de licenças nacionais por algum grupo que não
seguirá a estratégia das teles tradicionais, com oferta de serviços aos
usuários finais. O diretor da agência Carlos Baigorri considera que o mercado
brasileiro está maduro para receber um operador de rede capaz de alcançar bons
resultados ao “alugar ” o sinal de 4G e 5G para outras empresas oferecerem os serviços.
Baigorri disse
que a estratégia é estudada por investidores de fora do setor que viram as
mudanças recentes, marcadas pelo crescimento dos provedores regionais, pela
chegada de fundos de investimento, pela venda de ativos de torres de celular e
pelo amadurecimento de modelos de rede “neutra” e “virtual”.
Para o
diretor, o leilão de
5G deixa a “porta escancarada” para a chegada de um novo concorrente nacional
disposto a estruturar um plano de negócio “arrojado e não convencional ”, sem
oferecer serviços no varejo. O caminho passa pela compra de licenças de 4G, na
faixa de 700 megahertz (MHz), e de 5G, em 3,5 gigahertz (GHz).
A chance de
vir para o Brasil um grande grupo de telefonia é menor, avalia Baigorri . “A
grande expectativa é com a chegada de um novo operador com o modelo de rede
neutra. Ele pode fazer uma rede 5G e vender a capacidade para pequenos
provedores e, até mesmo, outros grandes players”.
O modelo de
rede neutra conta com forte adesão no segmento de conexão fixa (fibra óptica).
Vivo, Claro, TIM e Oi já anunciaram estratégias de segregar essa infraestrutura
das demais. Nela, a gestão fica com uma nova governança — em tese, independente — que conta com a
participação de fundos.
“Essa
desverticalização começou com a venda das torres de celular. No início, as
teles não queriam se desfazer porque achavam que era um ativo estratégico.
Depois, viram vantagem em vender para alguém que pudesse alugar para elas
próprias”, afirmou Baigorri. Isso, disse ele, marcou a chegada de “grandes fundos”
ao setor.
Na telefonia
móvel, a rede neutra envolveria a oferta de sinal para provedores, a troca de
capacidade com teles tradicionais (RAN Sharing) e a oferta por meio de empresas
que atendem grupos segmentados — como varejistas, times de futebol, igrejas —
que queiram usar a própria marca para oferecer celular por rede “virtual”
(MVNO).
“Os fundos são
os mais interessados em partir para este modelo. No leilão, eles vão poder mostrar a cara,
participar dos consórcios.
Na fase de consulta pública, recebi alguns deles”, disse o diretor.
Entre os
potenciais investidores do leilão estão
HIG Capital, Vinci Partners, EB Capital, Warburg, BTG e Digital Colony.
Baigorri
explicou que, não à toa, o lote nacional de 700 MHz — com boa performance de
velocidade e cobertura — será o primeiro do leilão, previsto para julho. Esta licença está encalhada na
agência desde 2014, quando a Oi desistiu de disputar o segundo leilão de 4G.
“Imaginamos
que seria um desafio maior entrar no Brasil só com a faixa de 3,5 GHz, que não
oferece cobertura. Seria difícil ser competitivo”, disse, ao explicar que a
rede de 5G terá um alcance restrito, apesar da alta velocidade na transmissão
de dados. “Se um ‘entrante’ comprar um lote nacional de 700 MHz, muito
provavelmente vai comprar um lote de 3,5 GHz nacional também”,
acrescentou.
Se a entrada
do quarto competidor nacional não for confirmada, a agência venderá as licenças
nacionais de 700 MHz e 3,5 GHz em novas rodadas com os lotes fatiados ou
regionalizados. Neste caso, Vivo, Claro e TIM poderão acumular mais frequências
para reforçar a capacidade das redes de 4G e 5G.
“A gente quer
viabilizar a entrada de um novo player, mas, se ele não aparecer, a gente não
vai ficar com a faixa ociosa. Ela só tem valor se estiver sendo usada”, disse.
Por Rafael Bitencourt,
no Valor Econômico
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