Para executivo,
vacinação é fundamental, mas País também precisa que investidor acredite nas
reformas
Entrevista com Christian
Gebara, presidente da Telefônica Brasil, dona da Vivo
O Brasil precisa executar uma série de reformas
estruturais, como a tributária e administrativa, para pavimentar um caminho
para o crescimento econômico e atração de investimentos. No entanto, dado o
contexto vivido hoje no País, com a piora drástica da pandemia, neste momento a
vacinação da população se torna a grande prioridade, deixando o resto como
secundário, afirma o presidente da Telefônica Brasil, dona da marca Vivo,
Christian Gebara. "Esse deveria ser o foco", afirma. Para o
executivo, o Brasil é um foco natural de investimentos para empresas de todo o
mundo, mas é necessário criar condições para isso. "E isso é credibilidade
fiscal, credibilidade de realização de reformas, credibilidade de vacinação",
diz.
O Brasil atravessa um
período de grande dificuldade econômica. O que pode ser feito neste momento
para garantir o crescimento do País?
A reforma tributária é fundamental. No nosso caso específico, é preciso
considerar que o País precisa de digitalização, para ser acessível para as
pessoas e para que as empresas tenham fôlego para seguir investindo em um País
de dimensões continentais. Para isso, é preciso uma visão de que não se pode
tributar excessivamente as telecomunicações e também enxergar o setor como um
veículo de infraestrutura essencial para o desenvolvimento do Brasil. Esse é o primeiro passo. Mas
também são importantes todos os tipos de reformas que possam ajudar a ativar a
economia, que depende do consumo. No momento em que as pessoas perdem o poder
aquisitivo, quando o desemprego sobe, o impacto é imediato no consumo de
serviços. Todas as iniciativas para reativar a economia são essenciais para o
nosso setor. Nosso setor, por um lado, é o viabilizador desse desenvolvimento econômico, por
meio da digitalização, mas ele precisa do consumo para continuar investindo ...
Além da reforma tributária, a reforma administrativa é um vetor de dinamização
da economia que também é necessário. Todo tema de crescimento econômico que
venha através de privatizações e outros estímulos que possam ser feitos pelo
governo com certeza nós apoiamos e somos otimistas sobre o que isso pode trazer.
Além das reformas, o que
mais pode ser feito para uma retomada mais rápida?
A vacinação é o ponto principal. Todo o resto começa a ficar secundário, tendo
em vista o problema que estamos enfrentando agora. Deveria ser o foco. Acredito
que temos agora boas notícias de novos laboratórios e fornecedores de vacinas.
O Brasil tem uma capacidade reconhecida de logística para a vacinação. Acho que
esse é o principal caminho para nossa volta. Essas notícias recentes de
lockdown têm um impacto direto em nosso negócio, impacto direto na segurança
dos nossos colaboradores, impacto direto no ânimo de todo mundo. A vacinação é
a única saída que temos neste momento frente à pandemia. Acreditamos que temos
de trabalhar nesse sentido. Estamos acompanhando a evolução de outros países
com avanços da vacinação, e a resposta está aí. Os Estados Unidos estão
evoluindo, com uma queda mais acentuada dos contágios e das mortes e um início
de reativação mais rápida da economia deles. Esse movimento de fechamento do
comércio, das escolas, não é benéfico para nossos serviços. Não temos o
interesse que as pessoas fiquem em casa para se conectar mais. Quanto mais a
economia volta, mais o ânimo de investimento das empresas reacende, os empregos
crescem e o consumo cresce na mesma proporção.
Como o sr. avalia a
condução do governo no combate à pandemia?
A saída da pandemia e da crise sanitária passa pela vacinação em um curso
acelerado em todo o país. Há esforços nesse sentido, mas temos enorme senso de
urgência e somos milhões de brasileiros. Além disso, todas as medidas de
proteção e prevenção requerem uma política única, de total alinhamento entre os
níveis federal, estadual e municipal
Qual foi o impacto da
pandemia nos planos da empresa?
Tivemos uma aceleração de trajetos. Temos um pilar que chamamos "Tem tudo
na Vivo", para que o cliente enxergue a Vivo como uma parceira tecnológica
que vai além das telecomunicações. Queremos que, por meio da empresa, o cliente
resolva toda a sua vida tecnológica. E isso se relaciona com nosso propósito.
Digitalizar para aproximar significa criar conexão, criar digitalização, mas
também distribuir serviços digitais, se relacionar digitalmente com esse
cliente. Essas duas vertentes a pandemia nos fez acelerar. Distribuir serviços
digitais, temos os de entretenimento, como o Netflix, Amazon Prime, Disney Plus
e vários outros, aceleramos várias parcerias. Em serviços financeiros, lançamos
o Vivo Money, que é uma plataforma de empréstimos para as pessoas. Estamos
agora, com estudos bem avançados, de ter o serviço de saúde. A telemedicina a
gente já acreditava que era o futuro, mas a pande- mia fez as pessoas
enxergarem a telemedicina como algo mais real, concreto e necessário. Então,
estamos trabalhando, por causa da pandemia, de maneira mais acelerada para
criar alguns serviços em saúde.
Isso seria por meio de uma
parceria?
Sim, mas não temos nada fechado.
O que está por trás dessa
estratégia?
É a ideia de que você tem tudo na Vivo. Aproveitando a capilaridade que temos,
no canal físico e no online. A base de clientes, o relacionamento que eles têm
com a Vivo, eles estão constantemente em contato com a nossa empresa. A força da
marca. E, finalmente, o poder de cobrar esses clientes. Temos clientes que não
têm cartão de crédito, então a fatura da Vivo é um meio de pagamento que temos
de explorar. Nos serviços financeiros, estamos estudando criar uma carteira
Vivo. Os clientes já colocam dinheiro para usarem em serviços de celular
pré-pago. Por que não colocariam para comprar outras coisas, já que eles já têm
esse relacionamento? Essa é outra área que estamos acelerando depois da
pandemia. Havia os planos, mas eles vão acelerando. E educação, a gente
gostaria de criar parcerias em educação. Fizemos muitas coisas com
universidades, com planos para os estudantes que iriam estudar remotamente, mas
será que não deveríamos avançar também numa junção de um plano com conteúdo
educativo?
A tecnologia 5G tem sido
apontada como fundamental para acelerar os serviços digitais no País. Quão
próximo estamos de implantar essa tecnologia?
O edital saiu da Anatel e vai passar para o TCU. Ainda não sabemos os valores das obrigações que vão estar relacionadas
com o leilão. O volume das
frequências que vão ser leiloadas, na experiência que temos, é o adequado, vão
usar frequências propícias para o 5G. O ecossistema do 5G ainda é muito
limitado de aparelhos - não é que o 5G esteja ocorrendo em todos os lugares do
mundo ... A grande mudança que o 5G vai trazer á uma diminuição da latência, as
respostas serão imediatas ao comando, o que gera uma nova gama de serviços, de
internet das coisas, que é a grande mudança que vai existir, de as coisas
poderem ser conectadas. Isso ainda está evoluindo. Considerando que teremos um leilão nos próximos meses, espero
que esse leilão não
seja arrecadatório, mas que se tenha obrigações que ajudem na digitalização do
País, que os preços sejam razoáveis e permitam que as empresas invistam no Brasil.
Mas, para isso, não podemos ter uma carga tributária tão alta. E a
regulamentação do setor precisa ser mais favorável para que possamos avançar na
digitalização.
Há interesse de
investimento estrangeiro no Brasil?
Nós acabamos de assinar a constituição de uma empresa de fibra, como um
parceiro internacional, um dos maiores fundos de infraestrutura do mundo, o
CDPQ (canadense). Isso vai permitir que a Vivo construa uma rede de fibra
neutra, independente, que vai permitir chegar em mais cidades, e também que
outras operadoras utilizem essa via. Isso vai permitir criar concorrência, a
digitalização de mais cidades e essas cidades digitalizadas incrementam também
a atividade econômica. Como o CDPQ, há vários grupos que querem entrar em um
País como o Brasil, tamanho continental, carência de infraestrutura, mercado
consumidor tão grande. São condições que temos de criar no Brasil, para que
empresas como essa, ou mesmo empresários locais, tenham vontade de investir.
Mas é importante que a vontade de investir no País das empresas que aqui estão,
e as que ainda não estão, seja reacendida. E isso é credibilidade fiscal,
credibilidade de realização de reformas, credibilidade de vacinação. O Brasil é
um destino natural de investimentos.
Ponto-chave
"A vacinação é o ponto principal. Todo o resto começa a ficar secundário,
tendo em vista o problema que estamos enfrentando agora. Deveria ser o foco.
Acredito que temos agora boas notícias de novos laboratórios e fornecedores de
vacinas. O Brasil tem uma capacidade reconhecida de logística para a vacinação.
Acho que esse é o principal caminho para nossa volta."
Por Fernanda Guimarães, em O Estado de S. Paulo
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