Saída de recursos em julho foi motivada pelo clima de incerteza em
relação ao momento em que juros podem subir nos EUA
Enquanto os Estados Unidos voltam a obrigar o uso de
máscaras em lugares fechados diante do avanço da variante Delta da covid-19
pelo mundo, crescem as incertezas no mercado de ações devido à expectativa de
que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) vai dar alguma
sinalização de quando poderá mudar a atual política de compras de títulos no
mercado e começar a subir os juros. Nesta quarta-feira, ocorre mais uma reunião
do Fomc (comitê de política monetária do Fed). Nesse cenário, investidores
estrangeiros ensaiam uma retirada dos mercados emergentes considerados mais
arriscados, inclusive, do Brasil, enquanto as bolsas apresentam forte
oscilação.
Uma amostra disso foi a saída líquida de R$ 5,6
bilhões de capital estrangeiro da Bolsa de Valores de São Paulo (B3) em julho,
no acumulado até o dia 23. Foi o primeiro saldo negativo desde março, quando
foram retirados R$ 4,6 bilhões. Com isso, a participação desses aplicadores na
B3 passou de 49,6% para 47,6% entre junho e julho. Para Gustavo Cruz,
estrategista-chefe da RB Investimentos, a debandada deste mês é uma espécie de
ensaio dos investidores sobre o que pode acontecer se o Fed der sinais claros
de que pretende enxugar a liquidez do mercado. Atualmente, o órgão atua em
sentido contrário, despejando US$ 120 bilhões por mês comprando títulos.
“No fim do mês passado, surgiu o sentimento de que
está mais próxima uma alta de juros nos EUA, e de consequente enxugamento da
liquidez global. Ao longo de julho, a preocupação de que fosse fechar tudo
aumentou, por conta da variante Delta. Por enquanto, estão subindo apenas casos
de covid-19, hospitalizações não. Então imagino que seja apenas uma cautela”,
disse.
Na avaliação de Eduardo Velho, economista-chefe da JF
Trust Gestora de Recursos, a saída de estrangeiros da Bolsa em julho foi
pequena, se comparada com o que entrou em junho e nos dois meses anteriores.
Conforme os dados da B3, o saldo líquido de compras e vendas de ações de
estrangeiros na bolsa paulista está positivo em R$ 63,8 bilhões. “O cenário
está ruim lá fora. O Fed está preso em uma armadilha de liquidez e não sabe
como sair dela, mas, se olharmos o fluxo de entrada de capital estrangeiro na
Bolsa, ele está positivo e em junho ficou em R$ 17 bilhões. Logo, o saldo
negativo de julho não chega a ser uma fuga generalizada”, afirmou Velho.
Contudo, ele reconheceu que o cenário de incertezas no país, com agravamento da
crise política e da crise hídrica, pode contribuir para o aumento do risco no
país e afugentar investidores.
Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag
Investimentos, destacou que há um cenário de insegurança no Brasil que leva
muitas empresas e investidores a retirarem recursos do país. “No momento, o
risco Brasil é muito grande, dos pontos de vista político, econômico e
ambiental. A demora na recuperação econômica, a lentidão na vacinação e a crise
política têm amedrontado as empresas. A conta de lucros reinvestidos no país
também ficou negativa”, comentou.
Acompanhando o aumento das incertezas no cenário
externo e a expectativa da reunião do Fed, a B3 encerrou ontem com queda de
1,1%, a 124.612 pontos. Enquanto isso, o dólar teve leve alta, de 0,06%, para
R$ 5,17.
FMI: Brasil cresce mais,
mas abaixo da média global
O Fundo Monetário Internacional (FMI) elevou de 3,7%
para 5,3% a previsão de crescimento do PIB do Brasil neste ano. Com a revisão, a
estimativa ficou em linha com as projeções do mercado, mas ainda abaixo do
esperado para a economia global, que deve crescer 6%. Para 2022, o fundo
reduziu de 2,6% para 1,9% a estimativas de expansão do país. A projeção para o
desempenho da economia brasileira neste ano também é menor que a dos países
emergentes, de 6,3%, e da América Latina, de 5,8%. De acordo com o FMI, as
novas perspectivas apontam linhas divergentes de recuperação entre os países
devido aos avanços desiguais da vacinação contra a covid-19.
Correio Braziliense
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