“(...) De acordo com um estudo do Massachusetts Institute of Technology (MIT), as notícias falsas têm 70% mais probabilidade de serem replicadas no Twitter do que as notícias reais (...)”
O advento da desinformação tornou-se uma "epidemia" que
diariamente desafia os jornalistas, as instituições e a própria democracia, e
por isso sua luta exige medidas cada vez mais "sofisticadas", de
acordo com especialistas que participaram, nesta terça-feira, de um fórum
organizado pela Agência Efe e pela União Europeia (UE).
O evento virtual "Como combater a desinformação. Experiências no
Brasil e na União Europeia" reuniu quatro mulheres especialistas no
assunto e o embaixador da UE no país, Ignacio Ybáñez.
"Hoje em dia o problema é ainda mais complicado, porque a pandemia de
covid-19 vem acompanhada por uma 'infodemia' sem precedentes", disse
Ybáñez.
Para enfrentar esta "infodemia" de notícias falsas, o embaixador
explicou que países e governos têm feito cada vez mais esforços para transmitir
informações "verdadeiras, sólidas e de qualidade" à população.
Entre as medidas adotadas pelo bloco europeu, ele destacou o
desenvolvimento de um código de práticas que estabelece um conjunto de
autorregulamentação para a indústria da comunicação e a criação de um
observatório de mídia digital.
Notícias
falsas são risco para eleições no brasil.
Notícias falsas representam um desafio em muitas frentes, embora uma das
mais preocupantes seja a que se refere aos processos eleitorais em todo o
mundo.
Neste contexto, a secretária-geral da presidência do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), Aline Osório, observou que nos últimos anos as campanhas de
desinformação para "desacreditar" as eleições ganharam força.
"Tem havido muita discussão sobre como a desinformação e a falta de
consenso sobre fatos básicos criam polarização e fazem com que as pessoas
percam a confiança nas instituições e no processo eleitoral. E isso é o que é
mais sério em uma democracia", disse.
Tais campanhas, de acordo com ela, foram impulsionadas após a chegada de
Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, em 2016. No poder, ele adotou um
discurso de que poderia ser vítima de fraude eleitoral no pleito seguinte.
Alegações semelhantes foram posteriormente repetidas por outros líderes
mundiais, incluindo o presidente Jair Bolsonaro, que venceu as eleições
presidenciais de 2018, cuja campanha foi marcada por divulgação de notícias
falsas.
"2018 foi um marco na luta contra a desinformação e expôs a
necessidade de se preparar para 2022, quando a Justiça Eleitoral e o próprio
processo eleitoral serão os principais alvos dos ataques", afirmou Osório.
Autora do livro "A máquina do ódio: Notas de uma repórter sobre fake
news e violência digital", a jornalista Patrícia Campos Mello, da
"Folha de S. Paulo", se manifestou na mesma linha.
"Assim como Trump, o presidente Jair Bolsonaro desde o início
questionou a legislação eleitoral e intensificou essa retórica em todas as
ocasiões, dizendo que sem um voto impresso a eleição será uma fraude",
comentou.
A jornalista considera que, em relação a 2022, as instituições brasileiras
estão "muito mais atentas", embora ela tenha advertido sobre
possíveis riscos.
"Jornalistas, verificadores de informação, instituições e governos
terão que manter a pressão", enfatizou.
Neste sentido, Desirée García, chefe do Efe Verifica, serviço de
verificação de notícias da Agência Efe, ressaltou que a melhor arma para
combater a chamada "infodemia" é a "informação de qualidade",
"clara" e "diferenciada".
"Com o advento das redes sociais, não somos mais os únicos a
publicar, (então) às vezes não se trata tanto de verificação, mas de
contextualizar e responder as perguntas dos leitores da maneira mais simples,
direta e didática possível", disse.
De acordo com um estudo do Massachusetts Institute of Technology (MIT), as
notícias falsas têm 70% mais probabilidade de serem replicadas no Twitter do
que as notícias reais.
É nesse aspecto que os influenciadores digitais também desempenham um
papel fundamental, pois podem ajudar a difundir a verificação na luta contra a
desinformação, segundo a pesquisadora em comunicação digital Issaaf Karhawi.
"Os influenciadores são representantes de grupos específicos,
formadores de opinião, (por isso) podem ter esse poder em relação a velocidade
e alcance na hora de divulgar informações", explicou.
EFE
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