Telecomunicações - No mundo, a receita caiu 11% no 4º trimestre, mas no ano houve expansão
A fabricante chinesa Huawei sentiu o impacto da guerra
geopolítica entre Estados Unidos e China. Pivô da disputa, a Huawei perdeu
receita no quarto trimestre de 2020, embora tenha fechado o ano com
crescimento. No Brasil, a expansão foi de 10% em relação a 2019.
No mundo, a
empresa teve queda de 11% na receita do quarto trimestre, para 220,1 bilhões de
yuans (US$ 33,5 bilhões), em relação a igual período de 2019. No acumulado de
2020, o efeito da pressão política foi diluído, uma vez que as vendas haviam
sido mais fortes no início do ano — a receita cresceu 3,8%, para 891,43 bilhões
de yuans (US$ 136,71 bilhões).
O impacto da
disputa entre China e EUA prejudicou mais a divisão de celulares da companhia,
disse ao Valor o CEO da Huawei no Brasil, Sun Baocheng. Mas como o grupo não
fabrica essa linha de produtos no Brasil, a questão foi minimizada no país, afirmou.
No mercado global o problema continua.
O executivo
disse que a receita no Brasil, em reais, foi 10% maior em 2020 frente a 2019.
Em dólar, houve redução devido à desvalorização cambial.
No Brasil, a
Huawei tem uma fábrica em Sorocaba (SP), onde produz grande parte da
infraestrutura para banda larga móvel e para rede fixa, além de produtos para o
segmento empresarial. Das vendas realizadas no Brasil, cerca de 40% dos
produtos saem dessa fábrica, conforme apurou o Valor. A segunda unidade fabril
é em Manaus (AM), para banda larga fixa e conexões para fibra óptica usada nos
segmentos de rede até a casa do cliente (FTTH, na sigla em inglês). Sobre
smartphones, Baocheng disse que não há um prazo definido para a produção local.
De modo geral,
a Huawei depende de uma cadeia de abastecimento global, a qual foi rompida não
só pelo boicote às suas vendas, patrocinado pelos EUA, como também pelos
efeitos da pandemia. Para suprir a escassez de semicondutores, por exemplo, o
grupo buscou alternativas.
Baocheng disse
que a empresa se preparou para os meses difíceis que estavam por vir e
conseguiu fazer um bom estoque de chips — componente usado nos celulares e em
outros dispositivos. Assim, consegue atender a demanda dos clientes.
A escassez de
componentes ocorreu principalmente em março e abril do ano passado, criando um
desafio em relação ao fornecimento de materiais para o mercado externo. Para
acelerar as entregas, a Huawei substituiu o transporte marítimo pelo aéreo. O
executivo disse que não houve problemas para atender os clientes brasileiros,
entre eles Vivo, TIM, Claro, Oi e Algar, além de 5 mil provedores de
internet.
Para evitar
uma futura onda de escassez de componentes, a Huawei está procurando
fornecedores em outros países, como na Europa e na própria China.
No Brasil, a
fabricante chinesa também tornou-se alvo da política externa do governo Jair
Bolsonaro, que se alinhou com o embate do então presidente dos EUA, Donald
Trump. Mais de 90% das instalações da rede móvel 4G no mercado brasileiro é
dividida quase meio a meio entre a Huawei e sueca Ericsson, dizem as
companhias.
O
ex-presidente americano acusou a Huawei de usar sua tecnologia 5G para deixar
uma “porta” de acesso nos seus equipamentos e sistemas com o fim de espionar os
americanos. A campanha deflagrada por Trump foi levada a outros países em busca
de um boicote mundial à companhia. A Casa Branca de Biden deu poucos sinais de
que aliviaria essa tensão. A Huawei sempre negou a existência de tal brecha nos
sistemas e acrescenta que o gerenciamento das redes é feito pelos
clientes.
Baocheng disse
que considera a questão já resolvida no Brasil. Ele lembra que o edital para o leilão de 5G não exclui nenhum
fabricante, nem a Huawei, e que tão logo seja liberado pelo Tribunal de Contas da União o
processo seguirá seu cronograma até a realização do leilão de 5G — previsto para
meados do ano. “O Brasil é o mercado mais importante no estrangeiro, vamos
continuar o investimento no país e trabalhar com os clientes para acelerar a
rede 5G”, disse. O Valor apurou que a empresa investiu R$ 40 milhões no país em
2020.
Nem todos veem
o mesmo cenário. Bolsonaro e políticos próximos a ele frequentemente dão um
passo atrás na política externa e levantam a tese de uma “eventual espionagem”
no país via 5G. Fonte próxima à empresa e ao governo disse que a Huawei vê com
ansiedade a instabilidade política local pois o Brasil é uma grande referência
para a América Latina, e as decisões tomadas aqui podem influenciar outros
países da região. “É como se a Huawei estivesse numa corda bamba equilibrando
pratos nas duas mãos”, disse essa fonte.
Nas Américas,
a receita da Huawei caiu 24,5%, para 39,6 bilhões de yuans (US$ 6,1 bilhões) em
2020 — o maior recuo entre as regiões geográficas da empresa.
A unidade de
negócios de consumo alcançou 482 bilhões de yuans em 2020, com alta de 3,3% em
base anual. É aí que estão os smartphones, tablets, computadores pessoais,
dispositivos de vestir — como relógio e pulseira inteligentes — e dispositivos
para o lar. A empresa tinha duas marcas de smartphones, uma que leva seu nome,
e continua em operação, e a Honor Business, que teve 100% de suas ações
vendidas em novembro para a Shenzhen Zhixin.
Por Ivone Santana, no Valor Econômico
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