Ninguém entendeu nada. Um verdadeiro
orçamento fake foi montado e aprovado. Da noite para o dia, o governo já estava
montado em um crime fiscal de proporções monumentais. Espetaram mais de R$ 200
bilhões em gastos extras. O rombo, acima do teto, pode superar a casa dos R$
31,9 bilhões.
É gambiarra contábil das grandes e depois do circo
armado saiu todo mundo a pedir explicações. Parlamentares exigiram
esclarecimentos da pasta da Economia e sugestões sobre as áreas de gastos que
serão cortadas. O Tribunal de
Contas da União alertou o governo sobre o gritante risco de
ilegalidade. Como foi formulado e seguiu adiante um projeto de contas
totalmente errado? E em que termos a gestão Bolsonaro imaginava levar a frente
essa peça de ficção, sem incorrer em desvio passível de cassação? Por muito
menos, a ex-presidente Dilma Rousseff foi despachada de volta para casa,
impedida de continuar governando por imprudência administrativa. No caso do
capitão, a menos que ele esteja, definitivamente, acima do bem e do mal, poderá
brevemente sofrer o mesmo veredicto de impedimento da antecessora. Mais
espantosa ainda é a possibilidade aventada de rearranjo nas contas, tirando
parcelas de recursos fundamentais da Educação, Saúde e Infraestrutura. Seria um
despropósito. A proposta esta à mesa.
O presidente Bolsonaro em pessoa, tal qual um Pilatos,
lavou as mãos e disse que não tem responsabilidade nessa lambança. Mandou
deputados que lhe enviaram carta buscar informações no guichê do “Posto
Ipiranga”, Paulo Guedes. Talvez tenha esquecido o mandatário ser ele quem
responde sim, judicialmente, pelo delito com a perda sumária do cargo. No
momento o País encontra-se no seguinte estágio: após quatro meses do ano, em um
atraso sem precedentes, passou a operar baseado em um orçamento público
fraudulento, sem lastro e amparo contábil, com uma previsão de despesas que
extrapolam as receitas. Algo, no mínimo, amador.
O impasse orçamentário também será capaz de provocar
uma guerra de poderes, com Paulo Guedes no meio, Congresso de um lado e o
presidente do outro – para quem, como já foi dito, pode sobrar o ônus maior da
perda de mandato. Isso porque existe uma resistência dos parlamentares em abrir
mão de suas emendas, mesmo diante de uma pandemia que sacrifica vidas, com
custos altos de toda a natureza, cujo combate deveria ser prioridade nacional
em todos os sentidos. A maquiagem dos números para abrigar as diversas demandas
sob o teto do orçamento oficial foi risível e agora cada capitulo e item terá
de ser revisto. Vergonhosamente, a turma precisará aprender a fazer conta. Não
está descartada nessa confusão sequer a saída de mais membros da equipe do
ministro Guedes, devido aos valores inflados. Naturalmente, a violação legal
trás no seu bojo interesses eleitoreiros. Do próprio mandatário inclusive, que
tenta posar de bom samaritano, distribuindo o dinheiro que não tem em causas
sociais no regateio de votos. A farra grande de recursos sem lastro evidencia
uma pedalagem que pode seguir um curso bem perigoso e, por isso mesmo, quem
estiver na direção precisa tomar cuidado para não bater com a cabeça no chão lá
adiante.
Por Carlos José Marques, na Revista Isto É Dinheiro
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