Ao
avaliar os três anos da Lava Jato, o procurador da República Deltan Dallagnol,
coordenador da força-tarefa que atua nas investigações em Curitiba (PR),
afirmou ao Blog que a operação é uma "ilha de
êxito" em "mar de insucessos".
Na avaliação de Dalalgnol, a impunidade à corrupção gera não só um ceticismo em relação às instituições, mas algo pior: o cinismo.
"O cinismo significa uma descrença a ponto de a pessoa passar também a descumprir regras", avalia.
Deltan reforça que o país "não pode repetir o erro da Itália", numa referência à Operação Mãos Limpas, que buscou combater a corrupção no país europeu na década de 1990, enfrentou resistência da classe política e terminou colhendo fracassos.
Sobre se a delação da Odebrecht deve gerar resistência ainda maior da classe política brasileira à operação, Deltan diz: "Quanto maior o número de políticos investigados, e que correm riscos de serem presos ou condenados na investigação, naturalmente a resistência e a reação aumentarão. E na mesma proporção".
O procurador também faz um desabafo, afirmando que, no Brasil, "a Justiça é feita para não funcionar em relação a réus de colarinho branco".
Deltan Dallagnol, apesar disso, mostra esperança: "A Lava Jato é um ponto fora da curva, que nos dá um gostinho daquilo que nós gostaríamos que fosse um novo parâmetro, que é o sistema funcionando em relação a ricos e poderosos, assim como funciona em relação a pobre".
Leia abaixo os principais trechos da entrevista:
Blog - Qual a importância da Lava Jato completar 3 anos em um país acostumado a ver crimes do colarinho branco impunes?
Deltan Dallagnol - A impunidade gera não só um ceticismo, uma dúvida no funcionamento das instituições, mas é pior do que isso: a impunidade da corrupção, uma corrupção alastrada, gera cinismo. O cinismo vai além disso, o cinismo significa uma descrença a ponto de a pessoa passar também a descumprir regras, a agir com desfaçatez. Porque nada vai acontecer, não haverá consequências. Então, a Lava Jato quebra um pouco esse cinismo arraigado e nos traz para um momento que é muito propício para a transformação.
Blog - Trata-se de conscientização?
Deltan - Colocando de outro modo, gera uma conscientização sobre o problema gravíssimo que corrói o nosso país. Em segundo lugar, traz esperança de realização de um sonho e, a isso, se alia um processo de fortalecimento da sociedade através, inclusive, de movimentos nas ruas contra a corrupção, gerando um momento muito propício para que reformas aconteçam, para que a gente possa alcançar um país com menores índices de corrupção e impunidade. Basicamente, um país menos corrupto, que se une à força da sociedade, a músculos que a sociedade desenvolveu, o que nos traz um momento propício para que essa transformação aconteça. Essa é a maior contribuição da Lava Jato: o diagnóstico, além de abrir um portal de transformação, um portal que nos permite caminhar para a transformação.
Blog - Com essas novas delações da Odebrecht, são 320 pedidos, a Lava Jato vai se espalhar pelo Brasil inteiro. O senhor acha que, com isso, deve aumentar a resistência do Congresso Nacional em relação à Operação? Por exemplo, o senhor acha que pode voltar a ganhar força o discurso da anistia ao caixa 2, o que a Lava Jato acredita ser, na verdade, a anistia da corrupção?
Deltan Dallagnol - A gente não pode generalizar, porque existem políticos honestos, mas existem muitos políticos de dentro, influentes, poderosos, que estão implicados nas investigações e a tendência natural é que se protejam, e que eles caminhem buscando a aprovação de uma auto anistia. Uma anistia não ao caixa 2, mas uma anistia à corrupção. O que se pretende, na realidade, quando se fala em anistia a caixa 2, é disfarçar algo que é absolutamente inaceitável, que é a anistia à corrupção, colocando a roupagem de algo que é menos inaceitável, que é caixa 2, ainda que seja um crime grave também. O que se busca é construir uma espécie de cinismo em um discurso que na verdade não retrata a realidade. Na previsão de anistia ao caixa 2 no ano passado, época em que a população se insurgiu, um texto previa anistia não só dos recursos que eram destinados para financiamento de campanha, mas também aos crimes relacionados. E, quando se refere a crimes relacionados, se refere, inclusive, à corrupção que é praticada para fins de financiamento eleitoral. Uma coisa não pode ser confundida com a outra: as investigações da Lava Jato lidam com o binômio corrupção ou não corrupção, enquanto a classificação de caixa 1, caixa 2 ou enriquecimento próprio vem da destinação e não da origem dos recursos. Então, existe esse receio da reação da classe política alcançar sim a autoanistia, ou mais importante do que esse: o receio de que aconteça o que ocorreu na Itália, em que o debate, em que a pauta anti corrupção, a pauta de reformas necessárias para diminuir os índices de corrupção, foi substituído por uma pauta sobre os abusos do Poder Judiciário, os supostos abusos da Justiça. Que é exatamente a pauta que tentaram construir no final do ano passado, repetindo o que aconteceu na Itália. Isso é grave, não só por constituir uma retaliação à investigação, mas porque nos impede de alcançar aquilo que a sociedade brasileira quer: um país menos corrupto. Nós não podemos repetir o erro da Itália de colocar sobre o Judiciário e o Ministério Público a esperança de resolver o problema da corrupção brasileira. Um dos problemas centrais da Itália, e que fez com que a Operação Mãos Limpas não tivesse as consequências esperadas, foi o excesso de expectativa colocada sobre o Judiciário e, simultaneamente, a uma inércia da população em cobrar as reformas do sistema político e do sistema de Justiça, que tornam propícias as condições para que a corrupção aconteça.
Blog - Então o senhor concorda que pode aumentar a resistência diante da delação da Odebrecht?
Deltan - Quanto maior o número de políticos investigados, e que correm riscos de serem presos ou condenados na investigação, naturalmente a resistência e a reação aumentarão. E na mesma proporção.
Blog - Quando a Lava Jato começou, o senhor achou que ela iria chegar tão longe?
Deltan Dallagnol - Era impossível alcançar a dimensão que essa investigação tomaria, não só porque o desenvolvimento de uma investigação é imprevisível, mas porque a regra no Brasil é o insucesso das investigações. A Lava Jato surge como uma ilha de êxito num mar de insucessos, como um planeta de êxito num universo de insucessos. Isso porque o sistema de Justiça é feito para não funcionar em relação a réus de colarinho branco.
Blog - A Lava Jato, então, é um novo parâmetro?
Deltan - Não, a Lava Jato é um ponto fora da curva que nos dá um gostinho daquilo que nós gostaríamos que fosse um novo parâmetro: o sistema funcionando em relação a ricos e poderosos, assim como funciona em relação a pobres. Que traz à tona o quanto é importante que a República, ou seja, a igualdade entre os cidadãos aconteça inclusive na esfera criminal, inclusive na esfera penal, da distribuição da justiça criminal.
Na avaliação de Dalalgnol, a impunidade à corrupção gera não só um ceticismo em relação às instituições, mas algo pior: o cinismo.
"O cinismo significa uma descrença a ponto de a pessoa passar também a descumprir regras", avalia.
Deltan reforça que o país "não pode repetir o erro da Itália", numa referência à Operação Mãos Limpas, que buscou combater a corrupção no país europeu na década de 1990, enfrentou resistência da classe política e terminou colhendo fracassos.
Sobre se a delação da Odebrecht deve gerar resistência ainda maior da classe política brasileira à operação, Deltan diz: "Quanto maior o número de políticos investigados, e que correm riscos de serem presos ou condenados na investigação, naturalmente a resistência e a reação aumentarão. E na mesma proporção".
O procurador também faz um desabafo, afirmando que, no Brasil, "a Justiça é feita para não funcionar em relação a réus de colarinho branco".
Deltan Dallagnol, apesar disso, mostra esperança: "A Lava Jato é um ponto fora da curva, que nos dá um gostinho daquilo que nós gostaríamos que fosse um novo parâmetro, que é o sistema funcionando em relação a ricos e poderosos, assim como funciona em relação a pobre".
Leia abaixo os principais trechos da entrevista:
Blog - Qual a importância da Lava Jato completar 3 anos em um país acostumado a ver crimes do colarinho branco impunes?
Deltan Dallagnol - A impunidade gera não só um ceticismo, uma dúvida no funcionamento das instituições, mas é pior do que isso: a impunidade da corrupção, uma corrupção alastrada, gera cinismo. O cinismo vai além disso, o cinismo significa uma descrença a ponto de a pessoa passar também a descumprir regras, a agir com desfaçatez. Porque nada vai acontecer, não haverá consequências. Então, a Lava Jato quebra um pouco esse cinismo arraigado e nos traz para um momento que é muito propício para a transformação.
Blog - Trata-se de conscientização?
Deltan - Colocando de outro modo, gera uma conscientização sobre o problema gravíssimo que corrói o nosso país. Em segundo lugar, traz esperança de realização de um sonho e, a isso, se alia um processo de fortalecimento da sociedade através, inclusive, de movimentos nas ruas contra a corrupção, gerando um momento muito propício para que reformas aconteçam, para que a gente possa alcançar um país com menores índices de corrupção e impunidade. Basicamente, um país menos corrupto, que se une à força da sociedade, a músculos que a sociedade desenvolveu, o que nos traz um momento propício para que essa transformação aconteça. Essa é a maior contribuição da Lava Jato: o diagnóstico, além de abrir um portal de transformação, um portal que nos permite caminhar para a transformação.
Blog - Com essas novas delações da Odebrecht, são 320 pedidos, a Lava Jato vai se espalhar pelo Brasil inteiro. O senhor acha que, com isso, deve aumentar a resistência do Congresso Nacional em relação à Operação? Por exemplo, o senhor acha que pode voltar a ganhar força o discurso da anistia ao caixa 2, o que a Lava Jato acredita ser, na verdade, a anistia da corrupção?
Deltan Dallagnol - A gente não pode generalizar, porque existem políticos honestos, mas existem muitos políticos de dentro, influentes, poderosos, que estão implicados nas investigações e a tendência natural é que se protejam, e que eles caminhem buscando a aprovação de uma auto anistia. Uma anistia não ao caixa 2, mas uma anistia à corrupção. O que se pretende, na realidade, quando se fala em anistia a caixa 2, é disfarçar algo que é absolutamente inaceitável, que é a anistia à corrupção, colocando a roupagem de algo que é menos inaceitável, que é caixa 2, ainda que seja um crime grave também. O que se busca é construir uma espécie de cinismo em um discurso que na verdade não retrata a realidade. Na previsão de anistia ao caixa 2 no ano passado, época em que a população se insurgiu, um texto previa anistia não só dos recursos que eram destinados para financiamento de campanha, mas também aos crimes relacionados. E, quando se refere a crimes relacionados, se refere, inclusive, à corrupção que é praticada para fins de financiamento eleitoral. Uma coisa não pode ser confundida com a outra: as investigações da Lava Jato lidam com o binômio corrupção ou não corrupção, enquanto a classificação de caixa 1, caixa 2 ou enriquecimento próprio vem da destinação e não da origem dos recursos. Então, existe esse receio da reação da classe política alcançar sim a autoanistia, ou mais importante do que esse: o receio de que aconteça o que ocorreu na Itália, em que o debate, em que a pauta anti corrupção, a pauta de reformas necessárias para diminuir os índices de corrupção, foi substituído por uma pauta sobre os abusos do Poder Judiciário, os supostos abusos da Justiça. Que é exatamente a pauta que tentaram construir no final do ano passado, repetindo o que aconteceu na Itália. Isso é grave, não só por constituir uma retaliação à investigação, mas porque nos impede de alcançar aquilo que a sociedade brasileira quer: um país menos corrupto. Nós não podemos repetir o erro da Itália de colocar sobre o Judiciário e o Ministério Público a esperança de resolver o problema da corrupção brasileira. Um dos problemas centrais da Itália, e que fez com que a Operação Mãos Limpas não tivesse as consequências esperadas, foi o excesso de expectativa colocada sobre o Judiciário e, simultaneamente, a uma inércia da população em cobrar as reformas do sistema político e do sistema de Justiça, que tornam propícias as condições para que a corrupção aconteça.
Blog - Então o senhor concorda que pode aumentar a resistência diante da delação da Odebrecht?
Deltan - Quanto maior o número de políticos investigados, e que correm riscos de serem presos ou condenados na investigação, naturalmente a resistência e a reação aumentarão. E na mesma proporção.
Blog - Quando a Lava Jato começou, o senhor achou que ela iria chegar tão longe?
Deltan Dallagnol - Era impossível alcançar a dimensão que essa investigação tomaria, não só porque o desenvolvimento de uma investigação é imprevisível, mas porque a regra no Brasil é o insucesso das investigações. A Lava Jato surge como uma ilha de êxito num mar de insucessos, como um planeta de êxito num universo de insucessos. Isso porque o sistema de Justiça é feito para não funcionar em relação a réus de colarinho branco.
Blog - A Lava Jato, então, é um novo parâmetro?
Deltan - Não, a Lava Jato é um ponto fora da curva que nos dá um gostinho daquilo que nós gostaríamos que fosse um novo parâmetro: o sistema funcionando em relação a ricos e poderosos, assim como funciona em relação a pobres. Que traz à tona o quanto é importante que a República, ou seja, a igualdade entre os cidadãos aconteça inclusive na esfera criminal, inclusive na esfera penal, da distribuição da justiça criminal.
Por Matheus Leitão, no
G1
__________________
Comunicação estratégica - da interlocução às palestras exitosas: Como falar bem em ambientes controláveis e em situações de extrema pressão
Como fazer uma palestra? Mais cedo ou mais tarde seremos chamados a enfrentar este desafio.
"Os tempos primitivos são líricos, os tempos antigos são épicos e os tempos modernos são dramáticos".
A frase é de Victor Hugo, escritor francês do século XIX. Mantém uma atualidade que angustia. Sim, vivemos tempos dramáticos, não há como negar, tempos que impõem aos vitoriosos uma vida de intensos estudos e preparação continuada, meticulosa, planejada. Os mais esforçados aumentam as chances de êxito.
O que dizer sobre o estudante que não estuda para o concurso dos sonhos, sobre o indivíduo que ignora os princípios da vida saudável, do atleta que se recusa a treinar, do escritor que rejeita a solidão do ofício, do cidadão que opta por vender o voto?
A vida costuma responder com sorriso quem assim a cumprimenta, e com desventuras e lamentos aos mordazes e amargurados. Os preguiçosos também costumam pagar um alto preço pela indolência.
Há quem desconheça – como conduta mais adequada - manter uma atitude proativa - amistosa, colaborativa, de estudos e preparação continuada e planejada - para conseguir responder aos desafios que se apresentam no dia a dia.
Imagine uma situação qualquer em que você necessite se alimentar, mas encontra-se impedido em decorrência de problemas decorrentes de um comportamento irresponsável para com a saúde...
E diante da premência de fazer uma corrida rápida para esgueirar-se da chuva, não perder o metrô, ou para escapar de um carro desgovernado que acelera em sua direção... Providências impossíveis de adotar em função do lastimável preparo físico; inexoravelmente terá um dia de cão: passará um bom tempo encharcado, terá que esperar o próximo trem e, na situação mais grave, será atropelado...
Mais cedo ou mais tarde seremos chamados a palestrar. É inevitável. E quando romper o instante, estaremos preparados?, conseguiremos - com êxito - levar a bom termo a tarefa?, ou o resultado se mostrará medíocre, um fiasco, um retumbante fracasso?
As opções estão entre ‘permanecer à mercê do acaso e da sorte’ ou ‘investir, planejadamente, na preparação’.
Não é melhor prevenir que remediar?, resguardar-se da doença que despender no tratamento? Não é mais sensato estudar para a prova que amargar a reprovação? Não é mais inteligente treinar para a luta que padecer a derrota?
Desde a mais singela conversação entre amigos ou familiares, até a palestra em um auditório lotado, com três mil pessoas, devemos cuidar para que a comunicação se estabeleça em sua integralidade, otimizando a utilização dos recursos disponíveis, de modo que, ao fim e ao cabo, a mensagem transmitida tenha sido assimilada pelos receptores.
Quando nos deslocamos para o contexto profissional, a trajetória reverbera um caminho lógico, evidenciando que, quanto mais prosperamos na carreira, mais expande a demanda por exposições orais.
Melhor, então, não ignorar a realidade e planejar a conquista da nova habilidade, ‘falar bem para o público’, independentemente do número de interlocutores, se um, se dez, se três mil...
Como em qualquer área do conhecimento acadêmico, um conjunto de técnicas criteriosamente adotadas poderá tornar a travessia menos dolorida, mais produtiva e mais prazerosa.
Esta é a razão deste livro, impedir que a surpresa se constitua num imponderável, na variável indesejada; impedir que o leitor seja pego de calças curtas. E para isso a obra se divide em capítulos estruturados para abrigar desde os referenciais teóricos até exercícios, dicas e experiências concretas, tudo com o propósito de transformar o leitor em um exímio palestrante. Aventure-se nesta jornada. Compreenda as dimensões da comunicação, as variantes que conduzem a mensagem ao seu destino de forma límpida, rápida e fidedigna. Aprenda como utilizar as linguagens gestual e vocal para potencializar os conteúdos emitidos. E a estruturar uma apresentação impecável, que receba a empatia e a cumplicidade da plateia.
Para comprar o livro, clique aqui.