A Ages Bioactive, empresa que desenvolve suplementos alimentares a
partir de compostos extraídos dos biomas amazônicos, recebeu investimento R$ 3
milhões para acelerar seu plano de “globalizar as moléculas das florestas
brasileiras”. O aporte foi o primeiro de um novo fundo de impacto que tem o
braço filantrópico da Vale como um de seus maiores fomentadores.
O investimento pode
crescer para R$ 8 milhões dentro de dois anos.
A companhia foi fundada em
2019 por Caio Stenio Agmont, administrador que fez carreira no Grupo Adeste,
que atua na interseção entre saúde e alimentação. O plano de Agmont era criar
“nutracêuticos” a partir de compostos bioativos da flora amazônica que tenham
impacto positivo no prolongamento das boas condições de saúde — o chamado
“healthspan”, no jargão anglófilo da medicina.
— As farmacêuticas estão
na indústria da doença, a gente está na área oposta. Nosso objetivo é atuar no
aumento da expectativa de vida saudável — diz Agmont. — O Brasil tem o maior
bioma do mundo, mas nunca conseguiu globalizar uma indústria de saúde em torno
de suas moléculas. A Ásia tem a ginkgo biloba, a Europa tem o resveratrol. Já o
Brasil não consegue transformar o maior laboratório do mundo, que é a Amazônia,
em negócio.
Urucum
Por enquanto, a Ages já
lançou dois produtos. O primeiro, batizado de Chronic, é feito a partir do
urucum e, segundo a companhia, proporciona benefícios para o sistema
musculoesquelético. Já o recém-lançado Ormona usa compostos de vários vegetais
amazônicos com foco na saúde da mulher.
— Estamos criando uma
prateleira de saúde ovariana, que é crucial para a longevidade saudável da
mulher — afirma o fundador, acrescentando que a companhia está abrindo uma base
em Portugal e tem outros sete produtos em desenvolvimento.
O diretor científico da
Ages é o professor José Carlos Tavares, farmacêutico que leciona na
Universidade Federal do Amapá, da qual já foi reitor, e é pesquisador influente
na área de biofármacos amazônicos.
A distribuição dos
produtos da Ages se dá exclusivamente por meio de farmácias de manipulação, com
prescrição médica. A empresa calcula que o tíquete-médio de um tratamento
contínuo fique na casa de R$ 150. A companhia não divulga faturamento, mas
sustenta que suas receitas já superam R$ 1 milhão.
R$
200 milhões
O aporte na Ages foi o
primeiro do recém-criado Fundo de Floresta e Clima, lançado pelo Fundo Vale,
braço filantrópico da mineradora, e pela gestora de startups KPTL — que, aliás,
gere o Criatec III, do BNDES. O objetivo do veículo é investir R$ 200 milhões
em algo entre 25 e 35 startups com impacto no reflorestamento pelos próximos
cinco anos.
— A Ages se encaixa muito
bem no propósito do fundo, que é gerar riqueza dentro da floresta. Não é plantar
árvore, mas, sim, criar um produto de alto valor agregado usando a
biodiversidade, produzindo incentivos para que a floresta fique de pé — observa
Danilo Zelinski, o ex-executivo da BlackRock que está à frente da área de
floresta e clima da KPTL.
Outros cotistas participam
do fundo, como a Tridon Participações, family office da família Nishimura, da
fabricante de equipamentos agrícolas Jacto; Denis e Ilana Minev, donos da
varejista amazonense Lojas Bemol; e Marco Riguzzi, sócio da Farmaplast, uma
fabricante de embalagens.
A Resultante, uma das
principais consultorias do ecossistema ESG brasileiro, participou da
estruturação do fundo.
O investimento na Ages
Bioactive pode crescer para R$ 8 milhões dentro de dois anos.
O
Globo, Rennan Setti
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