Desempenho das commodities explica o valor exportado em 2020
O Boletim de Comércio Exterior
(Icomex) divulgado, hoje (15), pelo Instituto Brasileiro de Economia da
Fundação Getulio Vargas (FVG/Ibre) aponta que o único resultado positivo em
2020 no setor foi o superávit comercial. A análise foi feita diante do cenário
de superávit da balança comercial de US$ 50,9 bilhões, dos investimentos
estrangeiros no país de janeiro a novembro de US$ 33 bilhões e da previsão de
recuo no Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços produzidos no
país) de 4,7%. Mesmo positivo, o superávit comercial contribuiu para a queda do
déficit em conta-corrente em um momento de retração da entrada de capital no
país.
De acordo com o Icomex, a China
contribuiu com US$ 33,6 bilhões no superávit, enquanto entre os principais
parceiros a contribuição dos Estados Unidos foi negativa. O saldo com a União
Europeia foi positivo em US$ 1,5 bilhão, no entanto, o valor é abaixo dos
países da América do Sul, inclusive Argentina, de US$ 6 bilhões, e do restante
da Ásia.
Na edição de dezembro, o boletim do
Icomex estimava um superávit de US$ 55 bilhões. A diferença entre a previsão e
o fechamento, segundo o Ibre, foi provocada por uma importação de US$ 4,8
bilhões de plataformas de petróleo, que provocou um déficit na balança
comercial de dezembro de US$ 41,6 milhões. “Sem as plataformas, o superávit em
dezembro seria de US$ 4,7 bilhões e a nossa estimativa para o ano estaria
correta”, diz o boletim.
A análise destaca também que mesmo
excluindo as plataformas, as importações aumentaram na comparação interanual, o
que também ocorreu no mês de novembro. “Esse resultado sinaliza um movimento de
ompras positivo e, logo, de alguma melhora no nível de atividade”.
Commodities
O desempenho das commodities, na
avaliação do Ibre, explica os 66% do valor exportado em 2020, o que representa
o maior percentual da série histórica iniciada em 1998, quando foi de 40%. O
valor das exportações de commodities cresceram 0,5% de 2019 para 2020 e das não
commodities recuaram 18,5%. Em volume, as commodities cresceram 7,4% e as não
commodities recuaram 13,5%.
Com o aumento de volume de 7,4%, o
setor agropecuário foi líder nas exportações brasileiras em 2020, explicada
pelo aumento do volume das exportações para a China (17%). A participação do
país saiu de 28,1% para 32,3% de 2019 para 2020. Os demais países da Ásia
também registraram contribuição positiva de 11,1%, e explicam 14,9% das
exportações brasileiras.
Ainda na comparação anual, todos os
outros principais parceiros recuaram nas exportações. No mês de dezembro repetiu-se
o comportamento do mês de novembro, quando foi registrado aumento das vendas
para a Argentina, demais países da América do Sul e outros países da Ásia.
De 2019 para 2020, o volume
importado teve queda em todos os setores e a indústria extrativa registrou a
maior queda, de 16,1%. Em dezembro, a indústria de transformação foi destaque
com variação positiva de 12,7% nas vendas externas e aumento de 66,8% nas
compras. “Aqui, no entanto, é preciso descontar o efeito das plataformas [de
petróleo]. Sem as compras de plataformas, a variação foi de 21,2%”, diz o
boletim.
A queda nas importações puxada pela
recessão do nível de atividade influenciou o superávit da balança comercial,
como também o aumento nas exportações de commodities direcionadas para a China,
que reduziu a queda nas vendas externas em um ano de forte retração na demanda
mundial, diz ainda o Icomex.
Previsões
para 2021
O boletim indica que as incertezas
relacionadas à pandemia ainda não desapareceram dos cenários mundial e do
Brasil, mas alguns pontos sugerem condições positivas para as exportações
brasileiras. O primeiro está ligado à alta nos preços das commodities, que já
começou a ser observado no segundo semestre de 2020 e se refletiu na melhora
dos termos de troca, a partir de julho de 2020.
“Os investimentos chineses demandaram compras
de minério de ferro e cobre. Ademais, os preços de alguns alimentos como soja,
carne, e de trigo, cresceram com retrações de oferta devido a secas e os
efeitos que ainda perduraram da crise suína na China”.
Ainda conforme a análise, há um
certo grau de sincronização de pacotes fiscais expansionistas na Europa,
Estados Unidos e China, que sustentam o aumento da demanda. Para o Ibre, a
posse de Joe Biden na Presidência dos Estados Unidos poderá intensificar as
políticas expansionistas e, assim, provocar o enfraquecimento do dólar, que
costuma ser acompanhado do aumento dos preços de commodities.
“O aumento de preços das commodities é uma boa
notícia para o Brasil. A melhora nos termos de troca associada aos preços de
commodities ajuda as exportações brasileiras de manufaturas com os parceiros
sul-americanos exportadores de commodities. No entanto, para que o Brasil
continue sendo um dos líderes nas vendas de commodities, especialmente
agrícolas, o governo deve priorizar sua política ambiental e climática”,
recomenda o Ibre.
Da Agência Brasil
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