Comissão Europeia aponta que proposta busca solução para que o bloco atinja gradativamente a neutralidade climática até 2050. Texto, porém, desperta críticas de ambientalistas e de países como a Alemanha.
Apesar
das críticasde parte da população, de ambientalistas e de países como a
Alemanha, a Comissão Europeia aprovou nesta quarta-feira (02/02) o projeto que
conceitua a energia nuclear e o gás como fontes de energia sustentáveis – ao
menos sob determinados critérios – dentro do bloco. Ambos serão incluídos na
assim chamada regulamentação de taxonomia, um sistema de classificação que visa
direcionar os investimentos no setor para as energias verdes.
A
coalizão governamental alemã, de social-democratas, liberais e verdes, era
contra a proposta, e conseguiu que algumas condições para a inclusão do gás no
projeto fossem flexibilizadas. Berlim também se posicionou contra a energia
nuclear, que conta com o apoio de países como França – onde 70% da eletricidade
é de origem nuclear – e do Norte, Centro e Leste Europeu.
Polônia,
Hungria, República Tcheca, Bulgária, Eslováquia e Finlândia estão do lado da
França, enquanto Áustria, Dinamarca e Luxemburgo concordam com a Alemanha.
Concretamente,
as usinas de energia a gás natural, por exemplo,só serão consideradas
"verdes" se não ultrapassarem um limite de emissões de CO2 de 270
gramas por kWh (kilowatts/hora) até o começo da década de 2030. No entanto ficam
obrigadas a reduzir suas emissões até, no máximo, 2035.
Para
serem classificadas como verdes, as novas usinas nucleares terão que obter
licença de construção e desenvolvimento antes de 2045. Além disso, até 2050 os
países onde forem construídas terão que dispor de um plano e dos recursos
financeiros necessários para a eliminação segura dos resíduos radioativos.
Os
críticos reclamam que a taxonomia perde credibilidade com a inclusão do gás e
da energia nuclear, acabando por não ser aceita pelos investidores nos mercados
de capital.
A
comissária da UE para Estabilidade Financeira, Serviços Financeiros e União dos
Mercados de Capitais, Mairead McGuinness, rebateu que o texto aprovado nesta
quarta-feira "pode não ser perfeito", mas oferece "uma solução
real" para o objetivo do bloco de alcançar a neutralidade climática até
2050.
Para
tal, será preciso investir em torno de 350 bilhões de euros anualmente,
conforme a Comissão. Uma das formas para atingir essa meta seriam, justamente,
os investimentos privados via taxonomia.
Críticas de ambientalistas e especialistas em energia
Desde
que propôs o anteprojeto, no fim de 2021, a Comissão Europeia fez alguns
ajustes no texto. Da aprovação até a entrada em vigor da legislação, em 2023,
os Estados-membros da União Europeia têm agora quatro meses para alterar pontos
que considerem cruciais. Mas isso é improvável, pois exigiria os vetos de 20
dos 27 países do bloco ou da maioria absoluta no Parlamento Europeu.
A
chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, já havia descrito o acordo
como "o homem na Lua da Europa". Identificada com questões
climáticas, a política alemã também classificou o projeto como "nosso
destino europeu".
Organizações
ambientais veem o texto com ceticismo e argumentam que a proposta pode
justamente comprometer o objetivo da UE de alcançar a neutralidade climática
até 2050. A Climate Action Network Europe criticou que a Comissão
"sacrifica a integridade científica da taxonomia pelos lobbies de gás
fóssil e nuclear", e que não conseguiu "reorientar os fluxos
financeiros para investimentos genuinamente positivos para o clima".
E
não são somente ativistas climáticos que criticam o projeto: especialistas em
energia estão preocupados com "os impactos ambientais em que pode
resultar", como no caso de um acidente nuclear. Eles também objetam que a
construção de novas usinas nucleares levaria tempo demais para contribuir para
os objetivos de neutralidade climática, projetados para 2050.
No
caso da Alemanha, a principal crítica se dirige à energia nuclear, já que o gás
segue sendo fundamental para a substituição gradual do carvão mineral, sendo
classificado como uma "ponte", até as fontes verdes – como a solar e
a eólica – serem capazes de atender à demanda energética do país.
Nas
últimas décadas, a Alemanha tem sido palco de oposição crescente à energia nuclear,
sobretudo desde o desastre na usina japonesa de Fukushima, em março de 2011. Em
31 de dezembro último, o país fechou três das seis usinas que ainda em
atividade.
Ao
ser anunciado, dezembro, que o projeto seria levado à apreciação e votação da
Comissão Europeia, o vice-chanceler federal da Alemanha, Robert Habeck, acusou
a UE de planejar uma "lavagem verde", usando políticas que parecem
favoráveis ao clima para encobrir práticas destrutivas.
"Não podemos antever uma
aprovação para as novas propostas
da Comissão Europeia", disse Habeck, que é filiado ao Partido Verde.
Habeck
classificou como equivocada a intenção de classificar a energia nuclear como
sustentável, apontando os efeitos de longo prazo dos resíduos nucleares.
"É mais do que duvidoso. De qualquer forma, é questionável se essa
'lavagem verde' encontrará algum tipo de aceitação no mercado financeiro."
A
também verde ministra do Meio Ambiente, Steffi Lemke, igualmente criticou o
plano: "Acho completamente errado que a Comissão Europeia pretenda
classificar a energia nuclear como uma atividade econômica sustentável.".
gb/av (AFP, Reuters, ots), DW
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