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As reservas internacionais da Rússia poderiam ser usadas para ajudar a sustentar o rublo por um tempo considerável — Foto: Reuters/Via BBC |
Depois de 2014, quando passou por uma primeira rodada de sanções, a
Rússia passou a montar uma espécie de blindagem para este tipo de retaliação. O
presidente Vladimir Putin pode estar contando que vai suportar sanções por mais
tempo do que o Ocidente supõe.
A Rússia passou anos se
preparando para este momento.
Em 2014, quando tropas
russas entraram na Crimeia, anexando parte da Ucrânia, isto provocou uma
primeira rodada de sanções internacionais. Este período ensinou a Moscou uma
importante lição: estar preparado para esse tipo de retaliação.
Desde então, a Rússia vem
reforçando sua defesa, reduzindo a dependência do dólar e tentando tornar sua
economia à prova de sanções.
O presidente Vladimir
Putin pode estar contando que vai suportar sanções por mais tempo do que o
Ocidente supõe.
Reservas
internacionais
Em janeiro deste ano, as
reservas internacionais do governo russo, em moeda estrangeira e ouro, chegaram
a níveis recordes, valendo mais de US$ 630 bilhões.
Essa é a quarta maior
reserva do mundo e poderia ser usada para ajudar a sustentar a moeda da Rússia,
o rublo, por um tempo considerável.
Notavelmente, apenas cerca
de 16% das divisas da Rússia são atualmente mantidas em dólares, abaixo dos 40%
de cinco anos atrás. Cerca de 13% é composto por renminbi chinês.
Tudo isso foi projetado
para proteger a Rússia o máximo possível das sanções, lideradas pelos Estados
Unidos.
A
'fortaleza Rússia'
Também foram desenvolvidas
outras mudanças na estrutura da economia russa.
Com o tempo, o país
reduziu sua dependência de empréstimos e investimentos estrangeiros e tem
buscado ativamente novas oportunidades comerciais fora dos mercados ocidentais.
A China é uma grande parte
dessa estratégia.
O governo de Moscou também
deu os primeiros passos para criar seu próprio sistema de pagamentos
internacionais, caso seja cortado do Swift - um serviço global de informações
financeiras que é supervisionado pelos principais bancos centrais ocidentais.
A Rússia também vem
reduzindo o tamanho de seu orçamento, priorizando a estabilidade sobre o
crescimento. Isso significa que a economia do país cresceu em média menos de 1%
ao ano na última década, mas pode ter se tornado mais autossuficiente no
processo.
"O que a Rússia está
fazendo, na verdade, é construir quase um sistema financeiro alternativo para
que consiga resistir a alguns dos choques de sanções que o Ocidente pode
impor", diz Rebecca Harding, presidente-executiva da consultoria Coriolis
Technologies.
"Mas tudo isso trará
alguma dor no curto prazo, e o sistema russo tem a vulnerabilidade de ter uma
rede pouco espalhada no mundo. "
Interesses
estratégicos
Certamente Moscou pode
estar entrando em um jogo perigoso. Sanções aos principais bancos russos,
principalmente os estatais, seriam prejudiciais.
Mas o presidente Putin
pode estar calculando que os EUA, o Reino Unido e a União Europeia têm
interesses estratégicos ligeiramente diferentes a serem considerados.
É obviamente mais fácil
para alguns países impor sanções à indústria russa de petróleo e gás do que a
outros. A União Europeia como um todo obtém 40% do gás natural da Rússia; o
Reino Unido recebe cerca de 3%.
A decisão da Alemanha de
suspender a certificação do gasoduto Nord Stream 2, portanto, é prejudicial
para a Rússia, mas também terá um impacto direto nos preços da energia na
Europa Ocidental.
Mirando
os oligarcas
Desde 2014, uma outra
estratégia dos países ocidentais é restringir o acesso de oligarcas russos ao
seu patrimônio.
Segundo a professora
Tomila Lankina, da London School of Economics (Reino Unido), essas experiências
passadas "não foram suficientemente longe".
"Mudanças só
acontecerão se eles forem alvo em uma escala muito maior", explica
Lankina.
O presidente Putin não mantém
dinheiro e outros ativos no exterior em seu próprio nome por razões óbvias, mas
uma rede de apoiadores ultrarricos faz isso por ele.
Londres é um foco em
especial, pois tem uma rede estabelecida há muito tempo de empresas de fachada,
portfólios de propriedades e influência política.
O governo do Reino Unido
anunciou recentemente novas sanções contra indivíduos específicos, mas o grupo
anticorrupção Transparência Internacional diz que há cerca de 1,5 bilhão de
libras (mais de R$ 10 bilhões) em dinheiro russo investido apenas em
propriedades de Londres, grande parte de fundos mantidos em paraísos offshore.
"Os governos
ocidentais não estão apenas falhando com o povo russo ao permitir que isso
aconteça, eles também estão falhando com seu próprio povo", aponta a
professora Lankina, destacando os efeitos que tais sanções podem ter nos países
de origem.
BBC
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