Amazon completa duas décadas e meia de serviços e
atinge valor de mercado de US$ 1,6 trilhão.Em julho do ano passado, a Amazon
fez 25 anos. Em julho deste ano, a Amazon fez 25 anos. Poucas companhias podem
fazer o que querem. Inclusive 25 anos duas vezes. A de Jeff Bezos pode. A
fundação oficial aconteceu em 1994, ainda com o nome Cadabra – trocado porque a
pronúncia levava algumas pessoas a entender “cadáver”, em inglês. No mesmo ano
nasceu Amazon. A “maior livraria da Terra” faria referência ao maior rio do
mundo. Também porque A é uma letra boa para iniciar nomes no universo digital,
já que muitos diretórios de busca eram montados em ordem alfabética. As
primeiras vendas ao público, no entanto, aconteceram somente em julho de 1995.
Daí os dois aniversários. Ao comentar os resultados do primeiro trimestre de
2020, Bezos estava orgulhoso da resiliência da empresa. “A crise atual
demonstra a adaptabilidade e a durabilidade da Amazon como nunca antes.”
Faz sentido. A velocidade de crescimento foi fora de qualquer curva. No
primeiro ‘ano’ (julho-dezembro de 1995), a receita foi de US$ 500 mil. Em 1996,
foi de US$ 15,7 milhões. Logo veio oIPO, em maio de 1997: as ações fecharam a
US$ 18,00. Lucro? Bem, você sabe como funcionam essas startups. Crescem rápido,
gastam ainda mais rápido. Ele só apareceu no nono ano de operação, em 2003. Mas
desde então… As receitas em 2019 somaram US$ 280,5 bilhões – a cada 60 minutos,
de domingo a domingo, US$ 32 milhões passaram pelo caixa da empresa. Esse tipo
de performance reflete nas ações. No primeiro pregão de janeiro deste
ano os papeis encerraram a US$ 1.898,01. Na segunda-feira (20) fecharam a US$
3.196,84. Em sete meses valorizaram 68,4%. Em dólar. No mesmo período a Apple
subiu 31% e a Microsoft teve alta de 31,7%. O valor de mercado da Amazon é de
US$ 1,595 trilhão.
Quinta-feira (30) a empresa vai anunciar os resultados do segundo trimestre. A
expectativa é de receita entre US$ 75 bilhões e US$ 81 bilhões, de 18% a 28%
superior ao mesmo período do ano passado. Evidentemente um fator chave para
qualquer organização ter sucesso é sua proposta de valor. O que ela vai vender
que fará a diferença? Seja produto ou serviço. Bezos fez a Amazon nascer
pensada em itens com muita procura na internet dos anos 90. Livros, filmes e
música predominaram. Mas ele sempre soube que poderia vender qualquer coisa. A
loja de tudo – título, aliás, da ótima biografia sobre a companhia e seu
fundador escrita por Brad Stone (à venda na Amazon, é claro): R$ 19,90 na
versão do Kindle. Assim a empresa se tornou, por exemplo, um dos maiores
comerciantes de pet food do mundo. Mais que isso. Hoje tem uma ração para
chamar de sua, a Wag, linha premium para cães. Em dezembro, a gigante possuía
146 marcas próprias. De roupas a alimentos.
Outro fator igualmente decisivo para a companhia, e quase nunca comentado, é
seu papel de anunciante. Jeff Bezos inventou sim uma companhia transformadora e
disruptiva, mas sua cartilha contempla lições basilares – o que inclui colocar
muito dinheiro em anúncios. No primeiro ano de atuação, foram investidos US$ 30
mil com publicidade. Isso foi equivalente a 6% das vendas líquidas. No ano
passado, o dinheiro global em publicidade bateu US$ 11 bilhões (3,9% das vendas
líquidas). O volume é suficiente para deixar a companhia como maior anunciante
nos Estados Unidos, segundo o Ad Age Datacenter. No fim do ano, quando sair o
ranking mundial (Ad Age World’s Largest Advertisers), a expectativa é que ela
tome o lugar da P&G e se torne a número 1 no planeta. É muito dinheiro?
Sim. Mas ainda menos do que fez em receita publicitária com marcas que querem
anunciar em seu market place: US$ 14,1 bilhões. O que coloca a Amazon como
quarta maior do mundo em faturamento com anúncios digitais – atrás de Google,
Facebook e Alibaba. Ela gasta muito em publicidade, ela ganha muito em
publicidade. E vende de tudo.
Evidentemente nem tudo são flores. Questões trabalhistas talvez sejam hoje o
maior nó para a imagem da empresa. Baixos salários e condições muitas vezes
inadequadas vire e mexe voltam à mídia. São 798 mil empregados (2019). Nos
últimos meses, o tema da vez foi a Covid-19. Em maio, Tim Bray, um VP da área
de cloud, renunciou ao cargo depois de cinco anos na Amazon. Ele discordava de
demissões que estariam relacionadas a suprimir protestos de colaboradores por
melhores condições de trabalho em relação à pandemia. Fragilidade
grave em tempos que marcas precisam ter atenção 360º. E algo que se choca
contra os quatro princípios de sua cultura organizacional: obsessão pelo
cliente em vez de foco no concorrente, paixão pela invenção, compromisso com a
excelência operacional e pensamento de longo prazo. Até aqui essa cartilha deu
muito certo. Quinta-feira, com a divulgação dos resultados do segundo
trimestre, vem novo capítulo. E são só 25 anos.
Por Edson Rossi, na Revista
Isto É
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