A pandemia transformou a educação superior. Sua
faculdade fará a mudança? Quando as universidades mundo afora fecharam as
portas para evitar o contágio, o ensino superior brasileiro rachou-se em três.
O primeiro grupo de faculdades suspendeu aulas e cancelou o semestre, apostando
numa quarentena rápida ou se resignando à falta de condições para ministrar
cursos remotos. O segundo grupo aderiu ao ensino on-line, mas não investiu nos
recursos necessários para fazer a transição. O resultado prático nesses seis
meses foi o colapso daqualidade do aprendizado.
O terceiro grupo interpretou a pandemia como crise que impunha um salto
tecnológico caro e arriscado, mas necessário: adquiriu softwares de primeira
linha, aprendeu a usá-los em poucos dias e migrou milhares de alunos e
professores para o ensino remoto. Essa turma copiou as melhores práticas
internacionais, redesenhando planos pedagógicos, lançando novas iniciativas de
apoio aos alunos e redobrando a aposta em excelência.
Passado o primeiro semestre em pandemia, vê-se o aparecimento de uma nova
ecologia no ensino superior do Brasil.
Quem investiu em excelência entendeu que a transformação não começa nem acaba
com as novas tecnologias, mas representa algo muito mais profundo.
São essas as faculdades que sairão da quarentena com condições de liderar o
futuro do ensino e da pesquisa no país, pois o futuro da inovação intelectual e
do mercado de trabalho é digital.
Nesse novo paradigma de ensino universitário, cada aluno aprende a criar,
operar e integrar grandes quantidades de informação, dominando as técnicas de
análise de dados. isso significa reescrever os velhos currículos de todas as
áreas de cabo a rabo — das ciências sociais e humanidades às ciências naturais
e engenharias.
O princípio é simples. Hoje, está claro que a divisão de disciplinas em silos
separados é anacrônica. os empregos do século XXI pedem a articulação de leque
amplo de habilidades e competências. o aspirante a advogado que não sabe
manusear dados complexos encontrará tanta dificuldade quanto o futuro médico
incapaz de se comunicar e coordenar equipes a distância.
Por esse motivo, as faculdades preocupadas com excelência estão pondo
cientistas de dados para trabalhar com linguistas e sociólogos, matemáticos com
antropólogos. O objetivo é preparar os alunos para resolução de problemas com
autonomia, níveis altos de sofisticação tecnológica e a sinergia, que só se
encontra em equipes bem integradas.
Não à toa, essas faculdades estão montando centros de carreira que, além de
ajudar o estudante a conseguir seu primeiro emprego, oferecem treinamento
adicional durante toda a vida profissional de cada indivíduo. A experiência
educativa não acaba com o diploma de graduação. Nesse modelo, ex-alunos também
viram mentores profissionais e empregadores dos atuais alunos, transformando os
claustros universitários numa comunidade.
Com a pandemia, essas faculdades também passaram a oferecer serviços novos de
apoio emocional. Aqui, o propósito não é substituir psicólogos e terapeutas,
mas ajudar indivíduos e grupos a desenvolver as habilidades emocionais
necessárias para lidar com um mundo no qual o ritmo da mudança é brutal e
constante. Como o trabalho remoto dificulta o processo de construção
de confiança interpessoal, o futuro do trabalho e da criatividade
depende da invenção de novas formas de interação coletiva.
Para essas faculdades, treinar os alunos na gestão digital de projetos
coletivos não se resume a uma disciplina acadêmica. Não basta ensinar o uso do
Microsoft Teams, do Zoom ou das aplicações de inteligência artificial. O uso
dessas ferramentas tem de ser parte natural do dia a dia da vida universitária.
No Brasil, o risco é que esses ditames aumentem ainda mais nossa grotesca
desigualdade. Por isso, imaginar o futuro da educação superior pós-pandemia
requer diálogo entre faculdades públicas e privadas, nas capitais e no
interior.
A pandemia chacoalhou para sempre a forma tradicional como a gente estuda,
trabalha, convive e busca significado. Da Ásia à Europa, dos Estados Unidos à
América Latina, universidades estão inventando novas formas de assegurar que os
anos de faculdade continuem sendo uma das melhores fases de nossa vida.
Se você é vestibulando ou universitário, esta é a hora de se perguntar se a sua
instituição é aliada, preparando você para o desafio gigantesco que vem por aí.
Por Matias Spektor, na Revista
Veja SP
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