Os EUA demonstraram adaptabilidade em muitas áreas, incluindo no setor de serviços de entrega de alimentos |
Uma pandemia em andamento, um conflito global e a incerteza geral colocaram em evidência a necessidade de todos os países serem mais ágeis e adaptáveis.
Ao serem capazes de
implementar políticas e soluções flexíveis com base em novas informações, os
governos podem atender de forma mais eficaz os cidadãos e turistas em um mundo
em rápida transformação.
Para capturar esta capacidade
de se adaptar e responder a obstáculos, o US News & World Report introduziu
um novo índice de agilidade neste ano, como parte de seu ranking anual de
melhores países, criando uma lista de nações classificadas por sua competência
de ser adaptável, dinâmica, moderna, progressista ou responsiva.
Estes fatores são mais
importantes do que nunca para os turistas, muitos dos quais estão começando a
viajar internacionalmente de novo pela primeira vez em dois anos.
Como se vê pelo fluxo de
novas variantes de covid-19, as condições podem mudar rapidamente, e os
viajantes podem encontrar mais segurança ao visitar países com um bom histórico
de ajuste de políticas de forma adequada e rápida.
Conversamos com moradores e
especialistas em políticas públicas em alguns dos países mais bem classificados
para descobrir o que torna um país ágil — e o que os viajantes devem esperar ao
desembarcar.
Estados Unidos
Primeiro colocado do índice
de agilidade, os EUA podem não ter implementado um lockdown obrigatório pelo
governo federal como muitos outros países ocidentais, mas sua economia
orientada para o mercado permitiu uma adaptabilidade que estimulou a rápida
inovação diante da crise de covid-19.
"Veja a rapidez com que
os serviços de entrega e restaurantes foram capazes de alterar seus negócios,
entregando comida nas casas das pessoas", diz John Rose, morador da
Califórnia e diretor de risco e segurança da empresa de viagens Altour.
"Não havia muita
regulamentação desnecessária dizendo que os restaurantes não podiam entregar
comida ou não podiam operar com apenas um punhado de pessoas".
A indústria de alimentos foi
apenas um microcosmo da flexibilidade do país em geral, observa Rose, já que
outras empresas conseguiram se adaptar rapidamente ao cenário da pandemia, seja
fabricando máscaras ou desinfetantes para as mãos, ou habilitando tecnologias
como ferramentas de videoconferência para permitir que as pessoas trabalhassem
de casa de maneira mais eficiente.
Além disso, cada estado
podia promulgar políticas diferentes, de acordo com suas necessidades
específicas, o que criou 50 maneiras únicas de responder à pandemia.
"A Califórnia e a
Flórida lidaram com a pandemia de maneiras opostas. Enquanto a Califórnia tinha
lockdowns rigorosos, a Flórida se recusava a cada restrição", diz Rose.
"E, no entanto, ambas
as economias se saíram muito bem. Tudo se resumiu à forte liderança de uma
política".
Em nível nacional, a
obrigatoriedade do uso de máscara em aviões e aeroportos permitiu que os
turistas continuassem viajando com confiança, o que manteve de pé esta
indústria e seus benefícios econômicos durante a pandemia.
O governo ainda exige que os
viajantes internacionais estejam totalmente vacinados.
Quem quer visitar os EUA
deve saber que as taxas de vacinação entre os moradores variam muito de acordo
com o estado e até mesmo condado, com algumas cidades com taxas de vacinação
muito mais altas e prontas para voltar a receber os visitantes com segurança.
Rose recomenda verificar a
situação no condado que você pretende visitar, em vez do estado no geral, para
obter informações mais precisas.
Austrália
A Austrália, que ocupa o
segundo lugar no índice de agilidade, com pontuações mais altas em capacidade
de resposta e adaptabilidade, adotou uma abordagem muito diferente dos EUA,
implementando lockdowns rígidos que mantiveram o número de casos de covid na
nação insular entre os níveis baixos do mundo.
Diante das últimas ondas de
covid, no entanto, o país passou rapidamente de uma estratégia de erradicação
para uma reabertura completa, com base em uma taxa de vacinação de quase 95%
entre adultos maiores de 16 anos.
"Os australianos agora
se sentem reconectados com o mundo após quase dois anos de isolamento",
afirma Kate Slater, consultora de estratégia, em Sydney, que escreve sobre
viagens no blog Kate Abroad.
Ela também observa que o
país implementa uma resposta estadual/territorial, oferecendo várias abordagens
diferentes sobre como lidar com os desafios em andamento.
Por exemplo, Nova Gales do
Sul, o maior estado com o maior aeroporto, anunciou em dezembro de 2021 que
removeria os requisitos de quarentena para visitantes internacionais, o que
levou o governo federal a acelerar a reabertura das fronteiras internacionais
em fevereiro de 2022 para viajantes vacinados.
Os turistas devem verificar
os requisitos de chegada estaduais e territoriais, uma vez que cada um pode ser
diferente e pode mudar de repente.
O país também anunciou
recentemente a suspensão da proibição de chegadas de cruzeiros, desde 17 de
abril de 2022, embora os passageiros dos navios ainda precisem estar vacinados.
Os rígidos lockdowns do país
incentivaram os moradores a viajar internamente, o que criou um boom de novas
possibilidades em destinos regionais menos turísticos.
"Por exemplo, nas
Terras Altas em Nova Gales do Sul, mansões históricas se transformaram em
hotéis boutique", diz Slater, que recomenda a nova galeria de arte
regional Ngununggula.
Coreia do Sul
Ocupando o sexto lugar geral
no índice de agilidade — e com pontuação alta na capacidade de ser dinâmica e
progressista —, a Coreia do Sul recebeu elogios no início da pandemia por
manter o número casos baixo, com uma política agressiva de testes e isolamento
para os infectados.
No entanto, agora que os
casos batem números recordes, o país continua avançando com seu plano de
reverter muitas restrições, confiante na taxa de vacinação coletiva e em sua
capacidade de gerenciar o sistema hospitalar.
"A Coreia do Sul foi
uma 'história de sucesso' no combate à pandemia de covid-19 em parte devido às
experiências anteriores com a Sars em 2003 e a Mers em 2015", avalia
Hyesong Ha, professor-assistente da Escola de Políticas Públicas da
Universidade Nazarbayev, no Cazaquistão, que conduziu pesquisas sobre os
governos mais ágeis durante a pandemia.
"Devido à experiência e
conhecimento adquiridos com as falhas políticas anteriores, o governo coreano
implementou testes rápidos, rastreamento e tratamentos e estabeleceu o KCDC
(Centro Coreano de Controle e Prevenção de Doenças), uma base ágil com
profissionalismo, independência e autoridade para coordenar a resposta à
crise."
As restrições de viagem
foram uma parte desafiadora, mas necessária de sua política, de acordo com
Jenny Ly, que escreve sobre viagens no site Go Wanderly. Mas ela aproveitou
para se aventurar dentro do próprio país.
"Aproveitei para
encontrar joias escondidas que a maioria das pessoas pode ter esquecido",
diz ela.
Uma de suas favoritas foi a
Ihwa Mural Village, em Seul, onde pinturas brilhantes e coloridas adornam quase
todas as paredes.
"A vila é um paraíso na
Terra para qualquer admirador de arte, pois abriga vários murais fascinantes,
pequenos museus de arte e centros de arte."
Os viajantes internacionais
terão mais facilidade para visitar o país, já que desde 1º de abril de 2022 os
viajantes vacinados se qualificam para isenção da quarentena obrigatória de
sete dias, registrando seu histórico de vacinação online.
Bélgica
Colocada em 16º no índice de
agilidade geral, o alto desempenho da Bélgica no sub-ranking de adaptabilidade
(em que aparece na quarta posição) superou todos os seus homólogos europeus.
Os moradores se orgulham da
sua capacidade de adaptação, uma necessidade cultural após sua história de
ocupação por romanos, franceses, holandeses e alemães, o que levou à sua
sociedade multilíngue e sua capacidade de abrigar a sede da União Europeia em
sua capital, Bruxelas.
"A Bélgica é um país de
diálogo e acordos, inevitável quando você tem idiomas diferentes e uma
estrutura política tão complexa", diz Jurga Rubinovaite, moradora e
fundadora do blog de viagens em família Full Suitcase.
"Buscar acordos e se
adaptar às situações em constante mudança está em nosso DNA."
Para Rubinovaite, os
políticos estiveram abertos a ouvir conselhos, admitindo que não sabiam tudo e
aprendendo com os erros para se adaptar.
E não foi só o governo que
se adaptou: Rubinovaite observa que os negócios também mudaram rapidamente, com
restaurantes oferecendo comida para viagem e food trucks, além das lojas de
roupas que migraram para o mercado online e museus oferecendo tours virtuais.
"Até os monges da
Abadia de Sint-Sixtus começaram a vender sua mundialmente famosa (e muito
difícil de conseguir) cerveja Westvleteren online durante a pandemia",
conta.
Ela também observou um
grande avanço em termos de tecnologia digital, uma vez que os pagamentos com
celular e cartão substituíram o dinheiro em espécie, e os alunos receberam
novos iPads e laptops para aprender.
Quase todas as restrições
impostas pela pandemia de covid-19 foram suspensas na Bélgica agora, abrindo
caminho para o retorno dos festivais de música e do tapete de flores bianual de
Bruxelas.
O Museu Real de Belas Artes
da Antuérpia, que abriga obras de Rubens e Van Eyck, finalmente reabrirá ao
público em setembro de 2022, após uma reforma de 10 anos.
Brasil
O Brasil foi o país
sul-americano mais bem colocado no índice de agilidade (23º lugar), assim como
em sua capacidade de dinamismo (5ª posição).
Embora os moradores admitam
que o governo fracassou em sua resposta à pandemia no início, o sistema de
saúde conseguiu se movimentar de forma rápida e eficiente para vacinar grande
parte da população, incluindo uma taxa de vacinação próxima de 100% em São Paulo,
a maior cidade do país, fazendo dela uma das "capitais da vacina" no
mundo.
Com menos recursos do que
economias maiores, o país não tinha condições de suportar um longo lockdown,
então os moradores tiveram que fazer sua parte para usar máscaras e manter o
distanciamento social.
Mas muitos acreditam que não
parar a economia ajudou o país a sair da pandemia.
"Os brasileiros se veem
como sobreviventes, sempre encontramos uma maneira de superar as crises",
diz a moradora Natalie Deduck, cofundadora da empresa de planejamento de
viagens Love and Road.
"Dentro de nossos
corações, sempre esperamos por dias melhores."
Estes dias podem finalmente
estar próximos, já que muitas restrições, como a obrigatoriedade de máscara,
foram suspensas.
Os viajantes ainda devem
apresentar um teste de covid negativo, uma declaração de saúde e comprovante de
vacinação.
Deduck lembra que o Brasil
vai além de suas grandes cidades e a Amazônia. Segundo ela, os turistas devem
considerar uma viagem ao Sul do país, para cidades litorâneas como
Florianópolis e o Parque Nacional de Aparados da Serra, que conta com pousadas
e hotéis fazenda.
Lindsey Galloway, BBC Travel
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