“(...) O Brasil há anos está exposto a apagões e a crises de
suprimento de energia elétrica que não se resolvem apenas via preço. Os tempos
são de urgente substituição de energia de origem fóssil por energia renovável e
isso demanda enormes investimentos que o Tesouro, na atual condição de
controlador, não tem condições de bancar (...)”
Ainda existem por aqui
quatro agrupamentos contrários à privatização da Eletrobras, que, nesta
quarta-feira, 18, ganhou luz verde do plenário do Tribunal de Contas da União,
pela goleada de 7 votos a 1.
São os mesmos agrupamentos
que levaram o pré-candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula
da Silva, a avisar que, se eleito, reverterá o processo de privatização.
Há os corporativistas que
temem perder privilégios e benefícios tão logo uma administração voltada para a
boa governança comece a consertar o que foi erradamente amontoado em 60 anos de
empresa.
Há os políticos da fisiologia
que se aproveitam da estatal e de suas subsidiárias para garantir cargos e
tetas eleitoreiras para seus apaniguados. De quebra, garantem enorme cabide de
empregos.
Há uma chusma de
fornecedores e de prestadores de serviços que se valem do tráfego de influência
na empresa para obter contratos especiais.
E há os ideologicamente
puros, mas equivocados, para os quais o controle estatal é a melhor forma de
comandar uma empresa de uma área estratégica como a de energia elétrica.
Argumentam todos esses
grupos que a privatização da Eletrobras equivale a liquidar as joias da vovó a
troco de um punhado de moedas que virarão pó porque desaparecerão no buraco
negro do Tesouro.
A principal razão pela
qual a privatização é necessária é a de que a Eletrobras precisa
inescapavelmente de capital - não só para manter sob seu controle o patrimônio
que vai sendo desgastado pelo tempo, como, principalmente, para expandir suas
fontes geradoras de energia e aumentar as redes de transmissão. O Brasil há
anos está exposto a apagões e a crises de suprimento de energia elétrica que
não se resolvem apenas via preço. Os tempos são de urgente substituição de
energia de origem fóssil por energia renovável e isso demanda enormes
investimentos que o Tesouro, na atual condição de controlador, não tem
condições de bancar.
A modelagem desta
privatização se fará por aumento de capital por subscrição de ações novas da
ordem de R$ 30 bilhões, a que o Tesouro não atenderá. Em consequência, a
participação da União no patrimônio da Eletrobras passará dos atuais 72% para
45%. O Tesouro ainda receberá uma injeção de R$ 25, 4 bilhões a título de taxa
de outorga.
É provável que, dentro de
alguns anos, os remanescentes 45% de participação do Tesouro no capital da
Eletrobras valerão mais do que os atuais R$ 32 bilhões hoje contados.
O tempo vai se esgotando.
Depois de junho, as férias de verão no Hemisfério Norte manterão afastados os
investidores internacionais. E, se tudo ficar para as vésperas das eleições, a
privatização corre o risco de não acontecer.
Celso
Ming, O Estado de São Paulo
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