O cacique Kretã Kaingang, em 4 de novembro de 2021 na península escocesa de Cowal (AFP/Ben Stansall) |
A 10.000 km de seu Brasil natal, Kretã Kaingang planta um pequeno carvalho na Kilfinan Community Forest, um projeto que visa recuperar as florestas nas Terras Altas da Escócia e, aproveitando a COP26, aprender com os povos indígenas de outros continentes.
Delicadamente, o cacique do povo Kaingang deposita
terra com as mãos e acaricia os ramos jovens. Em seguida, junto com outros
líderes indígenas latino-americanos que participam da conferência do clima de
Glasgow, entoa um cântico ritual.
"Tenho vivido uma vida plantando árvores na minha
terra e foi maravilhoso fazê-lo aqui no início deste reflorestamento",
comenta à AFP.
Embora suas árvores sejam diferentes, "nossa
terra é a mesma que a de vocês", diz aos escoceses Levi Sucre, do povo
Bribri da Costa Rica, defendendo que os povos originários são os melhores
guardiões da floresta e a importância de seu manejo tradicional contra a
emergência climática.
Desmatamento
O imenso cocar de Kretã, de penas de falcão-real e
arara-vermelha, parece ainda mais exótico ao lado do "kilt" usado por
Gordon Gray Stephens, um dos ativistas que o convidou a vir.
Este conservacionista aponta semelhanças entre as
florestas temperadas do oeste da Escócia e as florestas tropicais.
Mas "nós as exploramos por séculos, então temos
um número muito pequeno de coisas especiais restantes", explica, mostrando
um pequeno líquen único deste canto do mundo.
E lamenta que os países ricos pressionem as nações em
desenvolvimento a proteger suas florestas enquanto ignoram as delas.
Aqui, o rododendro e o pinheiro industrial,
introduzidos pelas flores e pela madeira, respectivamente, sufocam espécies
nativas como carvalho, freixo, salgueiro ou bétula. E os cercos comem os brotos
jovens, que nunca conseguem crescer.
"O desmatamento anda de mãos dadas com o
despovoamento", diz Stephens.
Nos séculos VXIII e XIX, as populações foram expulsas
dessas terras para a criação de ovelhas ou cervos para a caça,
"aparentemente mais lucrativas do que as pessoas", explica Calum
MacLeod, da associação Community Land Scotland.
Propriedade da terra
Agora, a Escócia tem uma das maiores concentrações de
terras do mundo: 67% das terras rurais pertencem a 0,025% da população.
E a emergência climática desperta o apetite dos fundos
de investimento em busca de terras para o lucrativo sequestro de carbono,
alerta.
A 130 km de Glasgow, por estradas que margeiam os
lagos escoceses, a Kilfinan Community Forest nasceu com o objetivo de que a
transição para uma economia descarbonizada beneficie a todos.
Esta associação compra terras que aluga a um preço
baixo, com habitações a preços acessíveis, para que famílias jovens se assentem
e reflorestem.
As dezenas de lideranças indígenas são recebidas com
faixas coloridas e grandes olhos de espanto das crianças da escola local,
instalada ao lado dos correios, do centro esportivo e da incipiente fábrica de
sorvetes artesanais.
"Assim como desejamos ter árvores jovens na
floresta, desejamos ter jovens em uma comunidade", diz Stephens.
Algo semelhante acontece do outro lado do mundo, com o
povo Dayak de Bornéu, que viu suas terras "destruídas pela extração de
petróleo e pela indústria madeireira", explica sua líder Mina Setra à AFP.
O fechamento de escolas devido à pandemia provocou o
retorno de centenas de jovens que estudavam em cidades distantes. Eles lançaram
iniciativas de sucesso como cooperativas de agricultura orgânica e agora
planejam ficar, afirma.
Mesmos problemas, mesma luta
Seus climas e ecossistemas são muito diferentes, mas
os povos originários compartilham problemas, assegura Mina, que afirma ter um
"sonho de união" numa luta comum.
Para a senegalesa Solange Bandiaky-Badji, presidente
do Rights and Resources Group, "a história se repete".
O êxodo forçado da Escócia reproduz-se séculos depois
na África e na Ásia: "todas as migrações de jovens partindo para a Europa
são porque lhes foi tirada suas terras", denuncia.
E adverte que os US $ 19,2 bilhões prometidos na COP26
para deter e reverter o desmatamento até 2030 devem "chegar às pessoas
certas".
Destes, 1,7 bilhão deve ajudar diretamente os povos
indígenas. Mas "eles continuam falando sobre nós e não conosco",
denuncia a belizense Anita Tzec, uma maia iucateca.
"Somos agentes fundamentais para mudar esse
processo e eles têm que nos incluir na tomada de decisões", reivindica.
Anna CUENCA, AFP
Para saber mais, clique aqui. |
Para saber mais sobre o livro, clique aqui. |
Para saber mais sobre o livro, clique aqui. |
Para saber mais clique aqui. |
Para saber mais sobre o livro, clique aqui. |
Para saber mais sobre os livros, clique aqui. |
Para saber mais sobre a Coleção, clique aqui. |
Para saber mais sobre o livro, clique aqui. - - - - - - No mecanismo de busca do site amazon.com.br, digite "Coleção As mais belas lendas dos índios da Amazônia” e acesse os 24 livros da coleção. Ou clique aqui. No mecanismo de busca do site amazon.com.br, digite "Antônio Carlos dos Santos" e acesse dezenas de obras do autor. Ou clique aqui.
-----------
|