Na comparação entre agosto de 2021 e o mesmo período do
ano anterior, houve aumento de 24,5% na busca por crédito, com destaque para os
consumidores que recebem até R$ 500 por mês (35,5%), segundo Serasa Experian.
Com a renda baixa e geralmente sem ativos imobiliários e veiculares, as
pessoas que mais precisam costumam ficar à margem dos requisitos para empréstimos
no mercado financeiro. Foi de olho neles então que empresas começaram a
investir em um novo produto, mais acessível: o de microcrédito que aceita
aparelhos celulares como garantia.
— Percebemos uma lacuna muito grande de produto de crédito para o perfil
de cliente que a gente tinha: que ganha um ou dois salários mínimos, 35% a 40%
de trabalhadores informais, 45% da base negativada. Mas sabemos que há mais
smartphones do que pessoas no Brasil atualmente. Então entendemos que aceitar o
celular como garantia permitiria crescer essa taxa de aprovação de crédito,
sendo muitas vezes uma porta de entrada para o cliente que só tem esse bem para
fazer sua recuperação financeira — conta Antonio Brito, CEO da SuperSim.
Em geral, o valor máximo de empréstimo concedido pelas empresas nessa
modalidade é de R$ 2.500. O processo de requisição é todo feito digitalmente,
demorando menos de 10 minutos, e são aceitos cerca de 80% dos aparelhos
Android. A garantia, segundo as empresas, consegue reduzir os juros que seriam
aplicados. Mesmo assim, as taxas variam de 10% a 18% ao mês. Por isso, para
Klaus Suppion, coordenador de Ciências Contábeis da Universidade Metodista de
São Paulo, é preciso fazer uma avaliação cuidadosa antes de tomar o crédito.
— A minha avaliação é que ela só é válida para pagar uma conta em que o
juros está mais alto do que o oferecido ou para necessidades extremamente
emergenciais, como uma cirurgia, em que a pessoa precisa do crédito de forma
rápida — coloca.
Consignado:
Ele ressalta que, no caso do atraso do pagamento das parcelas, o devedor
pode ter um bem muito importante no seu dia a dia bloqueado. Em geral, as
financeiras não tomam o celular do cliente, mas embarreiram, por meio de
aplicativo instalado no momento da contratação do empréstimo, algumas
funcionalidades.
— Em caso de inadimplência, o celular é travado para uso, e o cliente tem
acesso somente a ligações de emergência. Ele é desbloqueado automaticamente
quando o pagamento da fatura em aberto é efetivado — complementa Rafael
Rodrigues, diretor comercial do Bom Pra Crédito, plataforma virtual de
concessão indireta de crédito.
Avaliação do
celular é 100% remota
A Brelo foi uma das primeiras empresas a oferecer o produto com celular
como garantia, e atualmente aposta nessa tendência de negócio de uma forma
diferente: vendendo sua experiência e metodologia desenvolvida a bancos e
fintechs. Por questões contratuais, não divulga seus atuais clientes, que são
auxiliados, desde o início do processo, a avaliar o celular dado em garantia,
de forma remota.
— No funil do parceiro, os seus clientes passam por uma série de testes
nos quais a gente avalia o funcionamento dos principais componentes do aparelho
(bateria, som, microfone, câmera, entre outros), e também a condição de
potenciais arranhões na tela ou case, verificando inclusive que nao tenha
pixels mortos. Em paralelo, o sistema verifica o modelo exato do aparelho, e
faz uma pesquisa do preço do usado nos principais sites de compra e venda. Como
se fosse a tabela FIPE utilizada em empréstimos com garantia de veículo —
explica Fran Pasquini, cofundador da da Brelo.
A Brelo também fornece o serviço de bloqueio/desbloqueio de forma segura
dos aparelhos celulares dados em garantia, e a possibilidade de compra de
celulares dos clientes em atraso para que os parceiros possam recuperar parte
do capital perdido.
— A Brelo oferece uma ferramenta de negociação para o banco, permitindo
que o cliente entregue o aparelho como meio de pagamento. Então a Brelo coleta
e paga para o banco o preço pré-combinado.
Bancos têm
crédito com orientação
O Brasil tem um Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado
(MPO), política pública que visa facilitar o crescimento de empreendedores
individuais – formais ou informais – e microempresas com faturamento de até R$
360 mil ao ano. O valor máximo do empréstimo concedido é de R$ 21 mil , para
adquirir equipamentos, fazer reformas ou integrar o capital de giro do negócio,
e o solicitante recebe acompanhamento de especialistas para planejar o uso do
dinheiro. Caixa Econômica, Itaú, Banco do Brasil, Bradesco e Santander são
algumas das empresas que oferecem linhas de MPO.
Auxílio
emergencial:
— O banco busca a fidelização do seu cliente, entendendo que se ele
investir na organização da empresa, vai ter mais resultados e consequentemente
uma movimentação maior do dinheiro — avalia o professor Klaus Suppion,
coordenador de Ciências Contábeis da Universidade Metodista de São Paulo,
explicando como o empreendedor deve decidir recorrer ou não ao crédito:
— Esse não é um modelo arriscado, mas o empreendedor precisa verificar se
o local onde ele irá investir o recurso obtido é rentável, é lucrativo. Ou
seja, o que importa é a viabilidade do projeto em que o empreendedor vai fazer
o investimento. Em outras palavras, antes de solicitar o microcrédito, é
preciso analisar se o investimento vai remunerar o empreendedor acima da taxa
do crédito. O negócio precisa pagar o custo do empréstimo e ter uma mais valia.
Ana Clara
Veloso, Extra
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