Na maioria das vezes, eles passam despercebidos, mas os chips de computador estão no centro de todos os produtos digitais que nos cercam — e quando os suprimentos escasseiam, a fabricação deles pode parar por completo.
Alguns indícios desse problema já foram notados no ano
passado, quando os fãs de jogos online tiveram dificuldade para comprar novas
placas gráficas, a Apple teve que escalonar o lançamento de seus iPhones e os
videogames Xbox e PlayStation recém-lançados não chegaram nem perto de atender
à demanda.
Pouco antes do Natal de 2020, a questão emergiu de vez:
"o armagedom dos chips" (ou chipageddon, como o fenômeno tem sido
chamado em inglês) já é uma realidade, inclusive na indústria automobilística.
Os carros novos geralmente incluem mais de 100
microprocessadores — e fabricantes simplesmente não conseguem mais fornecer
todos eles.
As empresas de tecnologia vêm alertando que também
enfrentam restrições. A Samsung está lutando para atender aos pedidos de chips
que fabrica para seus próprios produtos e também para outras empresas.
A Qualcomm, que produz os processadores e modems que
alimentam os principais smartphones e outros dispositivos, admite o mesmo
problema.
Impacto da pandemia
Como muitas outras coisas erradas que estão ocorrendo no
mundo, o coronavírus é parcialmente culpado pelo "armagedom dos
chips".
Os lockdowns e quarentenas impostos em várias partes do
mundo incentivaram as vendas de computadores e outros dispositivos para
permitir que as pessoas trabalhassem em casa.
Muitos indivíduos também aproveitaram para adquirir novos
aparelhos, para uso de lazer.
A indústria automotiva, por sua vez, inicialmente viu uma
grande queda na demanda e cortou boa parte de seus pedidos por componentes eletrônicos.
Como resultado, os fabricantes de chips fizeram trocas e
priorizações em suas linhas de produção.
Porém, a situação se reverteu no terceiro trimestre de
2020. As vendas de carros voltaram com força maior do que a prevista, enquanto
a demanda por dispositivos eletrônicos continuou em alta.
Infraestrutura de 5G
Com as fábricas funcionando em sua capacidade máxima,
construir novas plantas industriais não é mais uma simples questão de
investimento.
"Leva cerca de 18 a 24 meses para uma fábrica abrir
e começar a produzir", explica o analista Richard Windsor.
"E mesmo depois de construir uma nova unidade, você
precisa ajustá-la e aumentar o rendimento, o que também leva um pouco de tempo.
Isso não é algo que você pode ligar e desligar de um dia para outro."
A implantação da infraestrutura 5G em várias partes do
mundo também está aumentando bastante a demanda.
A empresa de tecnologia chinesa Huawei, por exemplo, fez
um grande pedido para formar um estoque de chips antes que as restrições
comerciais dos Estados Unidos a impedissem de realizar novas encomendas.
Em contraste, a indústria automotiva tem uma margem de
estoque relativamente baixa e tende a não guardar uma grande quantidade de
suprimentos, o que agora a deixou em apuros.
Recentemente, as companhias TSMC e Samsung, principais
produtoras de chips, gastaram bilhões para acelerar um novo processo altamente
complexo de fabricação de chips de 5 nanômetros para produtos de última
geração.
Mas os analistas dizem que, de forma mais ampla, o setor
sofreu com o subinvestimento nos últimos anos.
"A maioria das empresas do setor dois registrou
lucros insatisfatórios, margens baixas e alto índice de endividamento",
aponta um relatório recente da consultoria Counterpoint Research.
"Do ponto de vista da lucratividade, é difícil
considerar a construção de uma nova fábrica para companhias menores",
afirma o documento.
Para completar, muitos desses produtores de chips
responderão à demanda extra aumentando seus preços, em vez de produzindo mais.
Efeitos em cadeia
Windsor não espera que a escassez de chips seja sanada
até pelo menos o próximo mês de julho.
Outros analistas acreditam que levará ainda mais tempo
para resolver o problema.
"Esperamos que as restrições de fornecimento da
indústria diminuam apenas parcialmente no segundo semestre de 2021, com alguma
escassez se estendendo até 2022", antevê uma pesquisa realizada pelo Bank
of America.
Uma fabricante de chips disse ao Wall Street Journal, dos
Estados Unidos, que as pendências eram tão grandes que levaria até 40 semanas
para atender qualquer pedido que uma montadora fizesse hoje.
E isso, claro, pode ter efeitos colaterais complicados do
ponto de vista financeiro.
A consultoria AlixPartners previu que a indústria
automotiva perderá US$ 64 bilhões (ou R$ 344 bilhões) em vendas porque teve que
fechar ou reduzir sua produção.
No entanto, essa soma precisa ser analisada dentro do
contexto do setor, que normalmente gera cerca de US$ 2 trilhões (R$ 10
trilhões) em vendas por ano.
Criadores de monopólio
O "armagedom dos chips" também traz implicações
geopolíticas.
Os Estados Unidos ainda lideram o setor de desenvolvimento e de design de componentes. Mas são Taiwan e a Coreia do Sul que dominam a indústria de fabricação de chips.
O economista Rory Green, da consultoria TM Lombard,
estima que esses dois países asiáticos respondam por 83% da produção global de
chips de processador e 70% dos chips de memória.
"Assim como a Opep (cartel de países petroleiros)
para o petróleo, Taiwan e Coreia do Sul estão perto de alcançar um monopólio
dos produtores de chips", escreveu Green, acrescentando que a participação
das duas nações no mercado deve crescer ainda mais.
Isso, por sua vez, tem aumentado a preocupação nos
Estados Unidos quanto a uma possível futura escassez de linhas de
abastecimento.
Um grupo de 15 senadores escreveu ao presidente americano
Joe Biden instando-o a tomar medidas para "incentivar a produção americana
de semicondutores no futuro".
Porém, o país mais afetado por essa questão é a China,
que fabrica mais carros do que qualquer outra nação.
A empresa de pesquisa IHS prevê uma redução de 250 mil
veículos na produção do país durante os primeiros três meses de 2021 como
consequência da atual escassez.
Poderio chinês
As autoridades de Pequim há muito desejam tornar o país
autossuficiente na fabricação de semicondutores.
Mas recentemente os Estados Unidos tomaram medidas para
bloquear as empresas chinesas que fazem uso do know-how americano na produção
dos chips, alegando que eles também suprem as necessidades militares da China.
A crise atual não apenas dará aos líderes do país
Asiático motivos para redobrar seus esforços.
Ela também expõe o quão perturbadora outra de suas
maiores ambições pode ser: a unificação com Taiwan.
"Mais caro"
Por enquanto, consumidores precisam ter algumas coisas em
mente.
O tempo de espera para alguns modelos de automóveis
aumentará consideravelmente.
As maiores empresas do setor, como Samsung e Apple, têm
poder de compra para garantir prioridade neste momento.
Mas algumas marcas menores podem ser afetadas de forma
desproporcional.
"Isso significa que os produtos podem ficar mais
caros — ou pelo menos não cair de preço com o tempo, como normalmente
esperaríamos", diz Ben Wood, da consultoria CCS Insight.
"A oferta também será limitada. Portanto, se há um
gadget que você realmente deseja comprar, não pense em ficar esperando para ver
se haverá um negócio melhor em alguns meses", completa o especialista.
Por
Leo Kelion, na BBC
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