No relatório anterior, OCDE estimava alta de 1,4% para o PIB brasileiro — Foto: Getty Images via BBC |
Projeção foi revisada de 1,4% para 0,6%, conforme relatório divulgado pela organização.
A economia brasileira deverá
crescer apenas 0,6% neste ano, um quinto da média mundial, estimada em 3%,
segundo um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE) divulgado nesta quarta-feira (8).
A alta da inflação, a guerra
na Ucrânia, a lenta recuperação do mercado de trabalho e as incertezas
políticas por conta das eleições presidenciais em outubro são alguns dos
fatores que contribuem para a "desaceleração considerável" da
atividade econômica no país, na avaliação da entidade.
Em seu estudo semestral com
previsões para a economia mundial, a OCDE revisou para baixo as estimativas de
crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro em 2022. A previsão era
de aumento de 1,4% no último relatório, divulgado em dezembro.
As projeções de expansão do
PIB global neste ano também foram reduzidas de 4,5% para 3% em razão dos
efeitos da invasão da Ucrânia pela Rússia. "O preço da guerra pode ser
ainda mais elevado. O conflito afeta a distribuição de alimentos básicos e de
energia, alimentando a alta da inflação em todo o mundo, ameaçando
particularmente os países mais pobres", afirma a economista-chefe da OCDE,
Laurence Boone, no documento.
A economia brasileira vai
crescer menos em 2022 do que a de vários países da América Latina, como a
Colômbia (6,1%), Argentina (3,6%) e México (1,9%), segundo as estimativas.
A OCDE ressalta que, apesar
das exportações brasileiras de commodities estarem ganhando força, a inflação
alta — que deve atingir 9,7% neste ano, nos cálculos da organização — entrava a
expansão do consumo, afetando o desempenho da economia.
As eleições presidenciais
acrescentam incertezas, contribuindo para manter os investimentos abaixo do
potencial até o próximo ano, afirma o estudo. Em 2023, a economia brasileira
deverá crescer 1,2%, prevê a OCDE.
Segundo a organização, em
razão da deterioração do clima econômico no Brasil, as previsões de crescimento
são limitadas neste ano e no próximo. A inflação e o aperto monetário, com
aumento dos juros, restringem a demanda doméstica e externa. Além disso, os
salários não estão se recuperando rápido o suficiente para compensar o fim do auxílio
emergencial durante a pandemia e a alta nos preços, diz o estudo.
A inflação no Brasil deve
começar a diminuir com o aperto monetário e a redução de incertezas após a
eleição presidencial, mas voltará a aumentar no início de 2023, diz o
relatório, quando o embargo europeu ao petróleo da Rússia entrar em vigor.
"A inflação no Brasil
permanecerá alta em 2023 e não deve atingir a meta no horizonte de
projeção", afirma o relatório divulgado nesta quarta.
Além disso, a prolongação da
guerra na Ucrânia continuaria aumentando os custos dos insumos agrícolas, como
fertilizantes, "restringindo severamente a produção agrícola e as
exportações."
Para manter a
sustentabilidade fiscal e o aumento das taxas de pobreza no país, o Brasil
precisa, na avaliação da OCDE, dar continuidade a "reformas ambiciosas que
foram iniciadas para melhorar a produtividade e o emprego."
Na avaliação da entidade com
sede em Paris, gastos públicos mais eficientes permitiriam "fortalecer o
quadro fiscal no médio prazo, o que criaria espaço para investimentos públicos
produtivos e ajudas sociais bem direcionadas, além do reforço da confiança dos
investidores."
"Como a guerra na
Ucrânia levou a um aumento mais acentuado nos preços dos alimentos e da
energia, reforçar o apoio por meio de programas sociais bem direcionados é
fundamental para proteger os mais vulneráveis", diz o estudo.
Desmatamento
O estudo com previsões para
a economia mundial foi divulgado na véspera da reunião ministerial anual da
OCDE, onde o processo e as condições de adesão de novos membros, incluindo o
Brasil, será discutido. O encontro terá a presença dos ministros da Economia,
Paulo Guedes, e da Casa Civil, Ciro Nogueira.
As práticas e políticas
ambientais do Brasil e dos demais candidatos integram as condições para a
entrada na organização. Os aspectos que deverão ser cumpridos nesta área e em
outros temas podem ser aprovados nesta reunião ministerial com representantes
dos 38 países membros.
No estudo divulgado nesta
quarta, a OCDE recomenda que o Brasil "reforce devidamente" as leis
que impedem o desmatamento ilegal "para proteger recursos naturais como a
Amazônia.
A OCDE também recomenda que
o Brasil explore mais fontes alternativas de energia, como a eólica e a solar,
e aumente investimentos em sistemas de transporte público, o que beneficiaria
trabalhadores de baixa renda e reduziria ainda a poluição do ar e a dependência
em relação a automóveis, diz o documento.
BBC
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