Novos negócios baseados na natureza bem conservada dão esperanças no combate às mudanças climáticas
Em seu relatório A Força de Trabalho do Futuro, a consultoria
londrina PwC projeta quatro mundos para 2030. Um deles é o mundo verde. Lá. “a
responsabilidade social e a confiança dominam a pauta corporativa com
preocupações sobre mudanças demográficas, o clima e a sustentabilidade, que
passam a ser os principais condutores dos negócios”. Nesse mundo, a consciência
social é essencial. “Trabalhadores e consumidores demonstram lealdade a
organizações que agem corretamente em relação a seus funcionário e ao mundo”,
lê-se no documento da PwC. Pesquisa realizada pela consultoria com 10.029
pessoas na China, Alemanha, índia, Reino Unido e Estados Unidos indica que para
23% delas “trabalhar com algo que faça a diferença" é o que mais importa
na carreira. E, de todas as preocupações, o meio ambiente é, sem dúvida, uma
das principais. Ainda segundo a PwC, daqui a dez anos, a estimativa é a de que
uma companhia só poderá ser listada em bolsas de valores se apresentar
documentos contendo dados sobre suas ações de sustentabilidade.
Não faz muito tempo, quando se falava
em investir em ações em defesa do meio ambiente, poucos executivos, sobretudo
os diretores financeiros, aceitariam a proposta de bom grado. “Bobagem!”,
desdenhariam. Hoje esses projetos são mais do que bem-vindos, são
comemoradíssimos. Recentemente a Klabin estreou no índice Dow Jones de
Sustentabilidade (DJSI, na sigla em inglês), nas carteiras “world index” e
“emerging markets index”. É a primeira indústria brasileira a conquistar esse
posto. Com 4,7 milhões de toneladas de carbono equivalente, a companhia
pretende ir além — explorar o mercado de carbono e serviços ambientais. “Como
somos a única indústria brasileira a estar na carteira mundial do índice, isso
nos posiciona como uma das empresas mais sustentáveis do mundo e eleva a
visibilidade internacional da atuação sustentável do setor de florestas
cultivadas do Brasil”, afirma Cristiano Teixeira, diretor-geral da Klabin.
Mudança climática, gases de efeito
estufa, sustentabilidade, biodiversidade... Esses temas chegaram
definitivamente às altas finanças globais. “É preciso entender a biodiversidade
como valor e não como risco ou unicamente fonte de extração”, afirma Denise
Hills, diretora de sustentabilidade da Natura. Na perspectiva de compensar
carbono dentro da cadeia de fornecedores, com benefícios para a Amazônia, a
empresa preserva 1,8 milhão de hectares, uma vez e meia a área do município do
Rio de Janeiro, e tem meta de chegar a 3 milhões até 2030.
Amazônia, meca da bioeconomia
Na comunidade Nova Califórnia, zona
rural de Porto Velho, em Rondônia, a Natura ainda integra um arranjo inovador
de parceria junto a organizações locais, fornecedoras de ativos naturais —
manteiga de cupuaçu, polpa de açaí, óleo de castanha-do-pará e outros insumos à
fabricação de cosméticos. Além da compra da matéria-prima, o modelo prevê a
remuneração dos extrativistas pelos serviços ambientais da floresta que
protegem, como a retenção de carbono para o equilíbrio do clima global. São
contratos de 25 anos para uma área de 19 mil hectares, e o repasse dos recursos — aplicados pelos
moradores em melhorias da estrutura local e práticas produtivas sustentáveis -
condicionado à entrega de uma natureza bem conservada, comprovada por imagens
de satélite e auditorias. O modelo está sendo exportado para a Colômbia, em
área de alta biodiversidade e etnias indígenas pressionadas pela violência do
narcotráfico.
Em paralelo, a Natura se juntou a mais
de 30 empresas, como Ambev, Agropalma, Dow e Whirlpool, na Plataforma Parceiros
pela Amazônia (PPA), uma ação coletiva do setor privado para fomentar novos
modelos de desenvolvimento
sustentável na região. Uma estratégia é o investimento em startups inovadoras,
capazes de movimentar a economia e, ao mesmo tempo, conservar o bioma. Na lista
dos 30 negócios até agora acelerados, beneficiando a melhor gestão de 15
milhões de hectares de floresta, está a NavegAM, com a ideia de aplicativo ao
estilo de um “Uber fluvial” para resolver a logística de carga e passageiros
nos rios amazônicos.
O Mercado Livre integrou-se este ano à
iniciativa, levando produtos da floresta ao mundo dos grandes marketplaces, em
sintonia com novos hábitos de consumo, conectados a causas ambientais. O
desafio mobiliza jovens empreendedores, como o paraense Melquisedec Negrão, à
frente da MadTech, biofábrica que produz madeira com base em plásticos do lixo
e resíduos de uma joia amazônica: o açaí, fruto que já movimenta R$ 3 bilhões
ao ano na economia, mas deixa como rastro montanhas de caroços nos locais de
processamento para o consumo.
O negócio permite substituir o uso de
toras nativas, quando se sabe que 75% da produção madeireira do Pará é ilegal e
predatória, segundo o Imazon. Enquanto busca investimentos, a estratégia é
prestar serviço de logística reversa para shopping centers e supermercados de
Belém, desviando plástico dos rios. Com o material, a empresa fará tábuas e
peças de móveis impressas em 3D, após ter chegado a uma fórmula economicamente
viável para a mistura de resíduos sintéticos e naturais. “As dificuldades
amazônicas exigem soluções fora do eixo do Sudeste, construídas junto a atores
locais com base na realidade da região”, observa Negrão.
Não à toa, o Fundo Vale aposta nas
startups para levar a cabo um ambicioso projeto: recobrir 100 mil hectares por
meio de negócios agroflorestais até 2030, combinando a exploração econômica de
árvores nativas com cultivos agrícolas ou criação animal. Com investimento de
R$ 25 milhões em seis projetos piloto para testes de novos modelos na Amazônia
e outros biomas, a iniciativa integra o plano da mineradora de tornar-se
carbono neutro até 2050. No total, 40 negócios foram mapeados. “Não temos
parâmetro no Brasil para tão grande escala envolvendo recuperação de área
degradada”, diz Patrícia Daros, diretora de operações do Fundo.
“O mundo quer ver soluções baseadas na
natureza e colocar dinheiro nisso”, atesta Ricardo Gravina, diretor da Climate
Ventures, vitrine de negócios inovadores prospectados para saciar o apetite de
investidores. São tecnologias, como a engenhoca da startup Nucleário para
garantir a sobrevivência das mudas em projetos de reflorestamento, entre outras
idéias que anos atrás seriam maluquices.
Além de tecnologias, a lógica de dar
valor à floresta bem conservada na concorrência com atividades econômicas que
desmatam requer um outro ingrediente: a prática de comércio justo entre
comunidades de áreas protegidas e grandes compradores de matéria-prima, centro
das atenções do selo Origens Brasil. A iniciativa faz a ponte entre 1,8 mil
produtores e 26 empresas, no total de 51 milhões de hectares de floresta
conservada — o dobro da área do estado de São Paulo, Neste ano, a adesão
cresceu 65%: “Mais empresas acham que podem fazer algo dentro de suas cadeias
de negócio”, analisa Patrícia Gomes, gerente de projetos do Imaflora.
Na multinacional de cosméticos Lush,
69% do cumaru, a baunilha amazônica, vem do projeto. A Alpargatas adquire
borracha para calçados, e da floresta sai matéria -prima até para o pão nosso
de cada dia. F. o caso da castanha-do-pará, que compõe, em quantidades
crescentes, as linhas de produtos da Wickbold. Quase 30% do ingrediente provém
dessas áreas mapeadas, com o repasse
de R$ 2 milhões para as mãos das famílias extrativistas, nos últimos dois anos.
"É como um ciclo virtuoso: uma
pessoa que compra no sul do país contribui para a renda dos povos da floresta,
cuja presença na Amazônia inibe a ação de madeireiros e grileiros ilegais — ou
seja, indiretamente, ajuda a manter a maior floresta do mundo”, explica Pedro
Wickbold, diretor-geral da companhia. “Além do lucro, buscamos impacto positivo
para a sociedade, pois vivemos em um dos países mais desiguais do mundo e, ao
mesmo tempo, estamos em mais de 1 milhão de lares todos os dias.”
As escolhas de consumo demandam
tecnologias de big data, base de negócios como o da empresa Terras, de Belém.
De acesso fácil e rápido, a plataforma BusCar processa imagens de satélite e
dados socioambientais das propriedades rurais, a R$ 9,90 por consulta, para
mostrar se o boi ou a soja têm origem em áreas desmaiadas ou registro de trabalho análogo ao escravo. Por meio
da tecnologia, o Banco da Amazônia já realizou 68 mil análises para crédito
rural. “O plano é chegar aos demais biomas brasileiros e ampliar o uso para
além de fazendas, frigoríficos e instituições financeiras, permitindo consultas
por consumidores via QR code no rótulo de produtos”, conta o empresário Carlos
Souza.
Soluções para o cerrado
“Não dá para esconder problemas na
floresta, diante dos avanços da inteligência artificial e imagens de satélite”,
concorda Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas. Ao mesmo tempo, é crescente a
demanda pelo consumo sem culpa de destruir o planeta — o que levou a Marfrig,
uma das maiores indústrias frigoríficas do país, a investir R$ 10 milhões no
lançamento da “carne carbono neutro”.
A base está na Integração
Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), sistema em que o gado é criado junto com
plantio de grãos e árvores de eucalipto, responsáveis pela captura de carbono
da atmosfera. “Implantado em apenas 15% da área, o modelo pode mitigar a pegada
climática da fazenda inteira”, revela Kleberson de Souza, pesquisador da
Embrapa Cerrado, onde foi desenvolvido o selo agora adotado pela indústria, com
potencial de se replicar no mercado.
O bioma ocupa um quarto do território
nacional, já perdeu 45% da vegetação original e abriga metade do agronegócio
brasileiro. Há o desafio de mecanismos econômicos para proteger o que restou.
“Isso é chave, inclusive para reduzir perdas da própria produção no campo”,
adverte Paulo Bellonia, presidente da SaveCerrado. A ONG conserva raros 18 mil
hectares de mata que estavam fadados a virar pastagem e tomou-se bom negócio
para a empresa agropecuária dona da área, no município de Bonito de Minas, em
Minas Gerais.
A floresta é loteada e “alugada” para
empresas que pagam para que fique de pé, ganhando em troca um selo que comprova
o carbono lá estocado, em local de importância ambiental. O filão pode ser
melhor que gado e soja. De pé, o bioma permite ganhos dez vezes maiores do que
o agro- negócio, a contar pelo valor dos serviços naturais — água, controle da
erosão, polinização e captura de gases de efeito estufa, segundo pesquisa da
Universidade de São Paulo.
Os riscos contra esse patrimônio do
Cerrado preocupam na região do Matopiba, na divisa entre Maranhão, Tocantins,
Piauí e Bahia, recente fronteira agrícola de alta tecnologia que pressiona a
vegetação nativa e as fontes hídricas, além do conflito com indígenas,
quilombolas e agricultores familiares, acirrado pela grilagem e especulação de
terras: são 73 milhões de hectares de grandes monoculturas que concentram a
riqueza.
Na região, a Cargill, processadora de
soja que faturou R$ 50 bilhões em 2019 e trabalha com 14 mil produtores no
Brasil, transfere tecnologia de irrigação à agricultura familiar e promove
empreendedorismo junto a jovens em situação de vulnerabilidade. A cadeia de
fornecimento de grãos é mapeada. “É preciso engajar produtores rurais,
diminuindo a pressão para converter áreas naturais”, explica Renata Nogueira,
líder de sustentabilidade da empresa na América do Sul.
Mata atlântica engajada
Se nos grotões do Brasil o impacto
ambiental preocupa, na região mais populosa e industrializada do país o sentido
de urgência é ainda maior. A Mata Atlântica foi o primeiro bioma explorado pelos
colonizadores portugueses, e hoje, reduzida a 12,4% da floresta original, é
trincheira de uma nova geração de produtores rurais que buscam devolver pelo
menos parte do que foi perdido — e enxergam nisso uma fonte de renda.
Na Serra da Mantiqueira, entre as
metrópoles de São Paulo e Rio de Janeiro, centenas deles começam a ser
remunerados pelos préstimos da floresta que recuperam, surfando na onda do
Pagamento por Serviços Ambientais (PSA). Dessa forma, uma região já marcada na
história pelo apogeu do açúcar, café, gado e eucalipto, agora pode tornar-se
vitrine de um novo ciclo econômico, o do carbono para a mitigação climática.
“A demanda aumentou muito”, aponta
Rubens Benini, da The Nature Conservancy (TNC), para quem “só a lei ambiental
não é suficiente para recompor o bioma, o que exige dar valor econômico à
floresta em seus estágios de recuperação”.
Uma plataforma digital de transações
funciona como o “Tinder” da floresta para matches entre a oferta e a procura
por créditos de carbono na região, com meta de abranger mil produtores rurais
até o fim de 2021. “O conceito deve ser ensinado desde cedo nas escolas”,
afirma Rubens Carbone, funcionário público que trocou vacas por árvores e hoje
é remunerado por compensar gases de efeito estufa do banco Itaú.
Em Extrema, Minas Gerais, onde se
localiza a propriedade, a lei municipal de mudança climática obriga a
neutralização de emissões de empresas lá sediadas, como Panasonic, Bauducco,
Kopenhagen e Netshoes, com recursos aplicados na reposição da Mata Atlântica, e
também para proteção dos mananciais de abastecimento público.
Dessa relação entre floresta e água
depende, por exemplo, a cerveja. Em Itu, no interior paulista, um naco verde de
526 hectares em meio a uma região já despelada garante o abastecimento hídrico
da maior fábrica da Heineken no Brasil, situada a oito quilômetros de
distância. Na área que engloba o reservatório, cedida em comodato à SOS Mata
Atlântica, funciona o Centro de Experimentos Florestais, responsável pelo
programa de plantio de árvores que regenerou o ambiente, com a retomada da
vazão e a volta de aves e mamíferos. Graças a isso, a empresa (à época, Brasil
Kirin) escapou da crise hídrica
de 2014, não parou a produção e ajudou a abastecer municípios no drama do
racionamento. “Sem água não tem negócio”, ressalta Ornella Vílardo, gerente de
sustentabilidade da cervejaria, ao lembrar que o insumo compõe 90% do produto.
“Devemos olhar além dos muros, para as condições da bacia hidrográfica e os
riscos de escassez", completa.
Ao longo da última década, por meio do
projeto Bacias & Florestas, a Ambev já recuperou mais de 10 mil hectares de
vegetação, o que equivale a mais de 12 mil estádios do Maracanã, e plantou
cerca de 1 milhão e 800 mil árvores. O Bacias & Florestas conta com apoio e
reforço das ONGs TNC e WWF-Brasil, que firmam parcerias com agricultores e
produtores rurais que moram nas áreas das bacias hidrográficas para conservar a
qualidade da água nesses locais. A empresa oferece uma série de informações
sobre técnicas de conservação, educação ambiental e restauração ecológica.
No sul do país, a recuperação da mata
está associada a outro produto de largo consumo: o papel. “Quem não andar em
sintonia com as mudanças de padrão da sociedade estará fora do mercado”,
adverte Julio Cesar Batista, gerente de sustentabilidade da Klabin. Em cinco
anos, a empresa investiu R$ 11 milhões na melhoria de renda na agricultura
familiar e adequação ambiental de pequenos produtores de eucalipto, com
recuperação de áreas nativas e proteção de mais de 700 nascentes. O objetivo é
garantir fornecimento dentro de critérios de sustentabilidade exigidos para
exportação do papel, uma vez que 50% da matéria-prima florestal provém de
terceiros.
Mais de mil produtores foram
beneficiados em 70 municípios do Paraná e Santa Catarina, totalizando 15 mil
hectares de mata recuperados, principalmente na beira dos rios, agora com a
expectativa de receita também em créditos de carbono. “Foi um modelo construído
à base do diálogo entre vários setores, com alto potencial de ser replicado”,
aponta a ambientalista Miriam Prochnow, à frente da Apremavi, ONG cujo viveiro
fornece as mudas nativas e orienta o plantio nas propriedades apoiadas pela
indústria.
O rei do mel, na caatinga
Com 40% da área já alterada pela
retirada de lenha e outros impactos, a Caatinga é vista como o patinho feio da
natureza brasileira, estigmatizada pelos Índices de pobreza e pelos espinhos de
mandacarus e xiquexiques. As condições de clima e solo não favorecem o gado ou
o agronegócio de grãos para exportação como nas regiões vizinhas, mas
mostram-se altamente propicias ao mel.
“Longe dos agrotóxicos dos grandes
cultivos, as abelhas são altamente produtivas, e a atividade tem feito a
diferença para a renda da região, com preservação da natureza", diz Samuel
Araújo, empresário piauiense que prosperou no sertão como maior exportador do
produto no Brasil, e expandiu u império com a compra de unidades no Sul e
Sudeste, agora integradas ao grupo Samel, com previsão de faturar R$ 100
milhões em 2020.
O plano de Araújo, que herdou o ofício
do pai, sertanejo construtor de colmeias como sustento da família, é triplicar
as exportações para a América do Norte, Europa e Ásia, além da expansão no
mercado brasileiro. Do manneleiro ao angico e cipó uva, as floradas da Caatinga
dão diferenciais ao produto, fornecido por milhares de pequenos apicultores do
interior nordestino. A fonte de renda ajuda no equilíbrio da natureza, porque
as abelhas dependem do néctar como alimento e contribuem com a polinização das
flores para reprodução vegetal, mantendo o bioma vivo.
Parte expressiva da produção ocorre em
São Raimundo Nonato, no Piauí, no entorno do Parque Nacional Serra da Capivara,
onde a vegetação convive com mais de mil sítios arqueológicos de pinturas
rupestres, visitados por 30 mil turistas ao ano. "Apesar dos problemas
sociais, a Caatinga vem encantando a ciência a cada descoberta como uma das
áreas mais selvagens da Terra”, afirma André Pessoa, criador do viveiro Mata
Branca. O local teve investimento da indústria de papel e celulose Suzano e
fornece educação ambiental e mudas para restauração da paisagem, em parceria
com o Ministério Público do
Piauí. "O objetivo é devolver plantas que a natureza fornece ao nosso uso
diário e influenciar políticas públicas para a preservação deste patrimônio,
que é exclusivo do Brasil, diferente mente dos demais biomas", completa
Pessoa. A natureza de pé ajuda agroindústrias em negócios com ícones regionais,
a exemplo da brasileiríssima castanha-de-caju.
No pampa, o churrasco sem culpa
O desafio da empresa Alianza del
Pastizal engloba a educação nutricional e o maior acesso a alimentos saudáveis,
especialmente produtos regionais marcados por aspectos sociais e ambientais.
Isso vale também no Pampa, bioma de campos nativos que ocupa 63% do Rio Grande
do Sul, reunindo 3 mil espécies vegetais importantes na função de absorver
carbono e controlar a erosão.
Lá, o holofote está na velha tradição
do churrasco, agora com o glamour de não destruir a flora e fauna de furões,
veados-campeiros e várias aves, o que levou muitas empresas a incorporar à
marca própria a carne com a chancela da Alianza del Pastizal. A iniciativa, em
curso nos países do Cone-Sul que compartilham o bioma, busca modelos
sustentáveis de produção. Na porção brasileira, o gado é criado em áreas
naturais por 90 fazendas do oeste e sul gaúcho, com o compromisso de mitigar
gases de efeito estufa, além de promover o bem-estar animal e permanência das
famílias na atividade tradicional.
No município gaúcho de Santa Rita, o
destaque da vitrine é o arroz produzido no Assentamento Capela e vendido pela
Korin, empresa voltada ao mercado de orgânicos, unindo saúde humana à
ambiental. Neste ano, serão comprados 187,9 mil quilos, cultivados sem uso de
agrotóxico ou adubo químico, respeitando a biodiversidade e a cultura dos
produtores locais, oriundos da reforma agrária. “Dependemos diretamente da
renovação dos recursos naturais", aponta Reginaldo Morikawa, diretor da
companhia, que deverá faturar R$ 200 milhões em 2020, com crescimento de 20%,
na esteira do consumo consciente.
São 250 itens, como o frango orgânico
livre de transgênicos e a carne bovina produzida no Pantanal por pequenos e
médios pecuaristas que seguem as leis ambientais e alimentam o rebanho com a
pastagem natural que caracteriza a paisagem da região. Para fornecimento à
empresa, são abatidas 80 cabeças por semana, em média, com critérios que visam
a inclusão social do pantaneiro e seus valores ecológicos. “A pecuária é
totalmente integrada ao bioma há mais de 200 anos", enfatiza o executivo.
O filão das onças. No pantanal
“O gado é importante, mas não é a única
solução diante do grande valor ambiental do Pantanal”, ressalva o empresário
Roberto Klabin, que herdou 5,6 mil hectares da família e decidiu conciliar a
pecuária com o negócio da observação de fauna — riquíssima, naquela área de
transição com o Cerrado. Ele manteve intacta a maior parte da propriedade e
buscou referências na África para criar o Refúgio Ecológico Caiman, indutor de
um longo processo de mudança cultural que contagiou fazendas vizinhas para um
novo conceito de convivência com a biodiversidade e atraiu investidores para
viabilizar o Pantanal como negócio.
“É necessário equilibrar atividades
econômicas às características do bioma e não o contrário”, adverte Klabin,
lembrando que 83% da planície pantaneira está bem conservada e 95% encontra-se
em propriedades privadas. Na área do empresário, local onde nasceu o famoso
projeto da pesquisadora Neiva Guedes com a arara-azul, o motor do faturamento
está nas onças-pintadas — resultado do trabalho
que reduziu conflitos e tornou o contato visual mais frequente, sem interferir
nos hábitos da espécie.
A chance de ver esses felinos em
expedições guiadas aumentou de 7% para 98%, e assim o empreendimento entrou no
mapa de observadores de fauna que rodam o mundo em busca de preciosidades.
“Abrimos a porta para diversificar a renda e desenvolver o Pantanal de uma
outra maneira”, diz Klabin, na expectativa da retomada do turismo após a crise
da covid-19.
O safari de um dia custa R$ 9,3 mil
para até quatro pessoas, 70% estrangeiros. “Observar o bicho em vida livre tem
um charme todo especial", reforça Lilian Rampim, coordenadora do Onçafari.
A iniciativa foi criada para operar as expedições no Refúgio Caiman e hoje tem
bases também na Mata Atlântica e Amazônia, onde o trabalho se destina a reintroduzir a espécie na natureza. A
bióloga enfatiza: “É hora de levantar a bandeira do Pantanal, pois a sociedade
fala muito mais de Pluto, Mickev e Pato Donald, e por isso a fama do bioma é
mais pelas queimadas do que pelas onças”.
Uma ideia para o futuro
"Meu querido Henry,
Você chegou em um mundo de pernas para
o ar. Um dia vão te contar que no dia em que você nasceu, ninguém podia sair na
rua, nem dar as mãos. Ninguém veio te visitar na maternidade. Talvez um dia
você até ache graça dessas histórias e imagine que isso realmente era um mundo
de pernas para o ar. Mas te digo. meu filho, que essa era apenas a face mais
caricata daquele momento. Mas longe de ser a única. Talvez quando você tiver
idade para ler essa mensagem, as pessoas já saibam divergir sem se agredir. Talvez
você mal entenda quando eu te contar que cor, religião, gênero e orientação
sexual faziam diferença pra muita gente que estava por aqui antes de você.
Talvez você estranhe que era difícil demais fazer as pessoas respeitarem o
próprio planeta em que vivem. Bizarro né? São mesmo tempos estranhos. Minha
geração está deixando uma conta enorme para tua geração pagar. E há quem não se
incomode com essa questão morai. Eu e a mamãe Stephanie Uno Alperowitch estamos
te dando um presente e neutralizando a sua pegada de carbono pessoal para os
próximos 20 anos. Depois disso, você terá sua própria consciência e a
responsabilidade é sua. Que você encha esse mundo de luz e cores."
Nascido em março passado, no início da
pandemia. o pequeno Harry poderia ter ganhado um bichinho de pelúcia ou, quem
sabe. uma caderneta de poupança, para financiar, na maturidade, uma viagem peio
mundo. O presente, porém, foi para lá de inovador, créditos de carbono,
comprados pelo pai, o gestor de investimentos paulistano Fabio Alperowitch.
O presente é sinal de um movimento que
chega à base da sociedade e reflete em grandes corporações, compelidas a
compensar gases de efeito estufa financiando projetos ambientais em biomas
brasileiros.
A criança recebeu 2 mil créditos. R$
200 mil em valores de novembro, calculados com base em atividades diárias, como
comer, ir à escola e viajar, por duas décadas. "A ideia foi deixar o tema
vivo para ele. Acompanhar os rendimentos e a flutuação de preços no mercado tem
uma função educativa", explica Alperowitch.
A compra do ativo ocorreu por meio da
MOSS, fintech ambiental que até agora já transferiu cerca de R$ 55 milhões é
conservação da Amazônia, com clientes principalmente da indústria financeira,
"É uma forma de o capital fluir de mal para o bem", observa Luis
Felipe Adalme, CEO da empresa, um apaixonado pelos antigos documentários de
Jacques Cousteau que direcionou a expertlse no mercado financeiro para negócios
com o clima. As notícias do aquecimento global o assustavam: "Só governo e
ONG não dariam conta; cada qual deve fazer a sua parte, e vi que ainda podería
ganhar dinheiro com Isso". Segundo Adaíme, o Brasil tem um mercado
potencial de R$ 245 bilhões para compensação de carbono por empresas
preocupadas com aquecimento global. "Podemos ser a Arábia Saudita do
carbono", afirma. "Desde o Início, o negócio incorporou inovações,
como tecnologia blockchain para facilidade. transparência e segurança. Tokens
atrelados a créditos de carbono, como na compra de moeda virtual, já é uma
realidade. "É um movimento geracional de tomar as rédeas e não contribuir
com um sistema que está fadado ao fracasso", diz Alexandre Lamaski,
cofundador da MOSS, com a bagagem de ex-analista de projeto do Google Cloud.
A origem dos créditos pelo carbono
retido na natureza, negociados pela fintech, está em áreas que somam um milhão
de hectares de florestas, como as do grupo espanhol Agrocortex, voltado ao
manejo sustentável de madeira, no Acre. Além das transações já realizadas, a
empresa possui 1 milhão de toneladas de carbono aptas a compensar emissões por
meio de árvores, estratégia mais barata do que as de reduzir pela substituição
de fontes energéticas ou outras tecnologias de alto custo.
Por Sergio Adeodato, na Revista Época Negócios
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