Os
céticos costumam afirmar que fosse o planejamento algo sério e consequente
teria evitado a débâcle do império soviético, haja vista que lá se originou, de
forma efetiva, o planejamento de Estado.
Já
os entusiastas adeptos desse ordenamento afirmam que não fosse o planejamento
os países da cortina de ferro – carcomidos por dentro pela nomenclatura
soviética – teriam desmoronados há muito mais tempo.
O
certo é que as posições extremadas quase sempre não resistem a uma análise
crítica mais estruturada. Por isso é preciso manter sobre tudo certo
distanciamento, um distanciamento que nos mantenha vinculados aos marcos da
razão, do raciocínio lógico. Nem tanto o céu, nem tanto a terra. O que podemos
asseverar com rigor científico é que o
planejamento é um sistema aberto; um sistema convém repetir, nada mais,
nada menos.
Jamais
será uma panaceia a quem se atribuirá o poder divino de resolver todos os males
da terra, de dar solução a todos os problemas dos indivíduos e das
instituições. Como também não será jamais a desdita, a perfídia, o traidor das
causas nobres e das esperanças alheias, o instrumento que se mostrou baldado,
ineficaz.
Condenar
ou absolvê-lo será, quando menos, figura de retórica, trocadilho de intenções
subalternas. Como todos os demais instrumentos da racionalidade humana, o
planejamento será um bem ou um mal dependendo do uso que dele fizermos.
Se
o contexto encerrar um eficaz conjunto de procedimentos metodológicos, se o
manejo das técnicas e princípios forem criteriosamente monitorados, e se os atores
passarem por um rigoroso processo de capacitação para lidar com a ferramenta -
extraindo dela tudo o que oportuniza - então estarão criadas as condições
necessárias para um desfecho satisfatório. Mas, se necessárias, jamais teremos
à mão as condições suficientes. Explica-se: em qualquer processo ou atividade
em que nos lancemos sempre estaremos sujeitos às variáveis que jamais serão
conformadas no todo, as variáveis da incerteza, uma fragilidade inerente à essência
e ao âmago da espécie humana. Como ensinavam, pacientemente, nossos avós, “errar é humano”.
Todavia,
a construção de um cenário em que o planejamento sustentável, estruturado,
esteja presente nos deixam menos vulneráveis aos erros e imperfeições, menos
sujeitos às contingências da improvisação e, por consequência, com maior proximidade
dos êxitos e acertos.
Quando
estivermos desenhando nossos planos de ação, especificando as atividades a
serem desenvolvidas, determinando a maneira mais correta de alocar recursos, e
disponibilizando os meios e instrumentos adequados para construir o futuro
desejável, estaremos lidando com o planejamento, estaremos planejando.
Como
é da natureza humana e da essência do ambiente as rápidas e contínuas
transformações, é de todo fundamental conduzir este vital movimento por
caminhos mais produtivos, mantendo-nos ao largo do princípio da mão invisível e
emprestando ao processo toda a racionalidade lógica e econômica, como também as
racionalidades social, legal e política.
O
planejamento é um sistema aberto, que alimenta e é suprido, partes
interdependentes que, ajustadas convenientemente, conduzem as transformações
sociais na direção e no sentido desejados. É quando se descortina a
possibilidade do futuro ser diferente e melhor que o presente - como resultado
da ação de variáveis causais específicas. É quando nos deparamos com o fato de
que se não podemos tudo, pelo menos podemos exercer um controle parcial sobre o
conjunto de variáveis que determinam as mudanças.
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