Nos primórdios do novo século, onde a
característica mais saliente é a velocidade com que ocorrem as transformações,
importa destacar o quanto as organizações atuam como estruturas refratárias às
inovações.
As
instituições de forma geral estabelecem seus arranjos organizacionais e suas
estratégias de planejamento envoltas numa atmosfera denominada cultura
organizacional.
Compõe
essa cultura um conjunto de valores, princípios, modo de ser, elaborar e reelaborar
produtos e resultados.
Quando
de direito privado essas instituições - sujeitas ao ambiente inóspito e
selvagem da concorrência - sentem-se estimuladas a modificar suas estruturas e
assim o fazem para sobreviver num mercado que de tão competitivo chega a ser
autofágico.
Já
quando públicas as instituições apegam-se no que conseguem para impedir o
surgimento de novos valores e princípios. Adquirem uma habilidade especial para
refugar tudo o que se origina do ambiente externo, tudo o que pareça novidade e
que possa alterar o status quo vigente.
Mas
sejam públicas, sejam privadas, é da essência da organização humana impor certo
tipo de resistência aos processos de modernização.
Uma
resistência monitorada, mantida sob controle, acaba se constituindo num insumo importante,
numa boa medida para que não se caia em tentações estouvadas, em aventuras
passageiras, de momento, aquelas estimuladas pelo cartório das consultorias e
editoras que inventam de tudo para manter seus produtos e serviços na crista da
onda.
Ocorre
que as instituições, as públicas e as privadas, não conseguiram atinar para a
velocidade das transformações de conteúdo, sequer para a direção que estão
assumindo.
E,
neste contexto, após a revolução industrial, nada tem soado tão revolucionário quanto
a revolução digital.
A
transformação das tecnologias de comunicação imprimiu ao capitalismo um novo
formato baseado na comercialização da produção simbólica.
Com
o novo capitalismo imaterial, a informação e o conhecimento passam a ser os
grandes objetos de desejo dos mercadores do século XXI. É esta nova realidade
que motivou os EUA a acionar a Organização Mundial do Comércio demandando, por
exemplo, a regulamentação da educação, tipificada nas plataformas
norte-americanas como um serviço.
É
que, no veio da revolução digital, corporações multinacionais se organizaram
ancoradas no largo estrado das telecomunicações.
A
internet é o principal resultado deste novo mundo, o principal portal desse
novo universo. Mas já ganha corpo um segundo, e nem por isso, menos importante.
Na parte desenvolvida do planeta, há muito, as operadoras de telefonia não se
limitam mais tão somente à transmissão de impulsos materializados em
conversações e transmissão de dados alfas-numéricos. Elas já transmitem
conteúdos como jogos de futebol, games e vídeo, avançando num espaço até então
restrito às TV’s.
Para
evitar que essas inovações sejam apropriadas, exclusivamente, pelos mega oligopólios,
o mundo se levanta exigindo, por exemplo, software livre e programas
consistentes e integrados de inclusão digital.
Por
conta deste levante que transcende os governos nacionais, a multidão de
usuários dessas novas tecnologias assume uma nova postura, uma postura ativa,
revigorada, cidadã. Nos dias que correm, qualquer criança do ensino fundamental
plugada na Internet é uma potencial produtora de conteúdos. Habilitada, passa
rapidamente de produtora potencial para efetiva. Com blogs e fotologs que ela
mesma produz, conecta-se com o mundo, interage com todo o planeta, e não mais
apenas com as amiguinhas de sala de aula. Há uma variedade de ferramentas
disponíveis como facebook, G+, MSM, e-mail, twitter, linkedin, MySpace, youtube...
Com
as rádios populares, as TV’s comunitárias no sistema cabo-sat, a internet, o
computador e os aparelhos de telefone celular, descortina-se uma possibilidade
nunca d’antes havida, onde a produção de conteúdos encontra meios para se
popularizar.
Porém,
as instituições, sobretudo as públicas, ainda não compreenderam a importância
dessas transformações.
Como
um elefante sedado continuam distantes, num outro mundo, num outro tempo, como
se relutando em adentrar de corpo e alma no século XXI.
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