Os temas econômicos costumam ser cruciais nas eleições nos EUA. Pesquisas indicam que, apesar da pandemia, o pleito de 2020 não foi exceção, especialmente para os eleitores de Trump.
Na manhã após a grande noite, ainda não havia
resultados definidos da eleição presidencial de 2020 nos Estados Unidos. Devido
ao volume de votos ainda aguardando apuração nos cruciais "estados campo
de batalha", é arriscado e fútil fazer predições.
Contudo uma coisa está clara: quer Joe Biden saia
vencedor, quer Donald Trump, a disputa foi bem mais apertada do que previam
diversos pesquisadores de opinião e especialistas. Esse fato reflete a
realidade de um país extremamente dividido do ponto de vista político, assim
como as divergências de opinião em relação à economia americana.
Estas tomam muitas formas, desde qual dos candidatos
está em melhor posição para gerir a economia nos próximos quatro anos, até como
foi o desempenho de Trump como gestor econômico, até o momento. Também
significativo é até que ponto a economia foi um fator decisivo para os
eleitores entregarem seu voto.
Diferentes
perspectivas de economia
A expressão "é a economia, estúpido" tem
sido tão usada e abusada na política americana que pode ser descrita como um
snowclone – um "clone de neve", um clichê tão repetido que fica
conhecido numa multitude de formatos. O mantra data da campanha eleitoral de
Bill Clinton, em 1992, usado como slogan interno para manter os membros da
equipe de campanha na mesma sintonia.
Em agosto último, o apartidário Pew Research Center
divulgou um estudo segundo o qual, para 79% dos eleitores registrados, a
economia seria muito importante no pleito. A percentagem era consideravelmente
mais elevada do que temas tão centrais quanto os serviços de saúde (68%), a
pandemia do coronavírus (62%) ou a criminalidade violenta (59%).
Três meses depois, uma pesquisa de boca de urna da CNN
apontou que mais de um terço dos eleitores disseram que a economia foi o fator
mais crítico para decidir em quem votar.
No entanto aqui vem o diferencial revelador: apenas um
entre cada dez eleitores de Biden citou a economia como principal razão para
votar nele, enquanto para Trump a proporção foi de seis em cada dez.
Para o eleitorado do democrata, a pandemia era uma
questão muito mais importante (três em dez), porém quase desprezível para os
trumpistas (um em 20). No entanto, mais da metade dos votantes afirmou que a
covid-19 lhes causou dificuldades financeiras, e uma proporção um pouco menor
(quatro de dez) disse estar melhor agora do que quatro anos atrás.
Placar
misto para Trump
Tais cifras podem ajudar a entender por que Trump
recebeu tantos votos, apesar de quase todas as pesquisas terem apontado como
mínimas suas chances de vencer Biden. Se as pesquisas de boca de urna podem ser
levadas a sério, muitos apoiam o presidente por, de um modo geral, aprovarem
sua forma de manejar a economia.
Apesar de as paralisações ditadas pela pandemia terem
impactado a economia americana em 2020, a campanha trumpista tinha algumas boas
novas na última semana para compensar: no trimestre de julho a setembro, a economia
dos EUA cresceu 7,4% em relação aos três meses anteriores ou 33,1% em termos
anualizados.
No entanto, muitos dos votos pró-Trump obviamente se
basearam em dados anteriores ao coronavírus. A economia do país já vinha
prosperando rapidamente quando Trump foi eleito, em 2016, e continuou crescendo
desde então.
Seus cortes fiscais despertaram aprovação dos
eleitores republicanos; enquanto seu posicionamento combativo no comércio
global, sobretudo em relação à China, também foi endossado por muitos que o
elegeram.
É bastante discutível até que ponto as políticas
comerciais protecionistas do atual governo beneficiaram os EUA. O déficit
comercial do país para com o resto do mundo já vinha subindo antes da pandemia,
e esta o agravou ainda mais.
Não é
só a economia, estúpido
Foi nos assim chamados "estados do Cinturão da
Ferrugem", Michigan, Pensilvânia e Wisconsin, que muitas das promessas de
Trump ressoaram de forma mais decisiva em 2016, convertendo-os de
"azuis" (democratas) em "vermelhos" (republicanos). Agora é
novamente neles que o pleito presidencial se decidirá.
Enquanto as contagens prosseguem lá, o que definirá o
resultado final será, pelo menos em parte, até que ponto o eleitorado que
apoiou o republicano em 2016 considera que ele tenha cumprido suas promessas de
trazer os empregos no setor manufatureiro de volta à região.
Os dados iniciais indicam que a avaliação é, no melhor
dos casos, desigual. Os níveis de emprego no setor de manufatura e na produção
de metal tiveram bom desempenho, em seguida a um forte crescimento em 2017 e
2018, porém voltaram a cair em 2019. Os setores siderúrgico e automobilístico
seguem frágeis, não só por questões comerciais, mas também devido à pandemia e
às paralisações econômicas ditadas por ela.
À espera do saldo final, o resultado extremamente
apertado prova que os eleitores não só não abandonaram Trump: um grande número
deles votou nele por causa da economia.
Porém Biden ainda está no campo de uma possível
vitória, apesar de os dados sugerirem que a economia não é especialmente
importante para seus eleitores. Com o debate sobre a pandemia, desigualdade
racial e muitos outros em destaque em 2020, esta eleição foi inegavelmente
sobre muito mais do que só economia.
Por Arthur Sullivan, na Deutsche Welle
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