Casal Ugur Sahin e Özlem Türeci, fundadores da Biontech |
Empresa alemã está a um passo de obter, com parceira Pfizer, permissão para sua vacina contra o novo coronavírus. Por trás dessa história de sucesso está um casal de médicos, ambos filhos de imigrantes turcos.
Lightspeed (velocidade da
luz) foi o nome do projeto lançado pela empresa alemã Biontech em meados de
janeiro. A meta era nada menos que desenvolver uma vacina contra o coronavírus
em tempo recorde. E, desde então, o empreendimento tem progredido num ritmo que
justifica o nome. Se o desenvolvimento de uma vacina leva de oito a dez anos em
tempos normais, os pesquisadores de Mainz poderão conseguir que seu imunizante
seja aprovado nos EUA cerca de um ano depois do início das pesquisas.
Em meados de novembro, a
Biontech e sua parceira Pfizer esperam estar solicitando uma licença
emergencial nos EUA. Os dados disponíveis indicam que a vacina tem 90% de
eficiência contra a covid-19, segundo anunciaram Biontech e Pfizer na
segunda-feira. Com isso, as empresas seriam as primeiras na corrida mundial
pela vacina .
A Agência Europeia de
Medicamentos (EMA) também anunciou no início de outubro ter iniciado o processo
de aprovação para a vacina da Biontech e Pfizer. O imunizante está sendo
testado em um estudo envolvendo dezenas de milhares de participantes. A fim de
acelerar o processo de aprovação, os resultados provisórios agora são
verificados continuamente, até que haja informações suficientes para uma
decisão sobre a aprovação, de acordo com a EMA.
Imunoterapia contra câncer
Por trás da empresa de
biotecnologia Biontech estão sobretudo duas pessoas: Ugur Sahin e Özlem Türeci.
Já em janeiro deste ano, quando o coronavírus grassava na China e quase ninguém
na Europa estava seriamente preocupado com uma pandemia, o casal de médicos
reagiu e concentrou sua pesquisa numa vacina contra o coronavírus. Três meses
depois, já tinha em desenvolvimento clínico as primeiras substâncias candidatas
a uma vacina.
Até então, os dois se
concentravam na luta contra o câncer, com uma abordagem que difere
significativamente do tratamento convencional da doença. Os dois cientistas
acreditam que, uma vez que não há dois doentes nos quais a mutação genética das
células cancerosas seja exatamente a mesma, os pacientes com câncer não devem
ser tratados uniformemente com cirurgia, quimioterapia ou radiação. Em vez
disso, a tese é que todo paciente precisa de um tratamento especialmente feito
para ele.
Sahin e Türeci querem se
aproveitar do fato de o corpo humano poder ajudar a si mesmo no caso de um
ataque de bactérias ou vírus. O objetivo é desenvolver uma imunoterapia que
estimule os mecanismos de autocura e envie a própria força policial do corpo
para tornar os tumores malignos inofensivos.
Vocação para a pesquisa
"Percebi muito cedo
que me interessava por ciências", disse Sahin, por ocasião da cerimônia de
entrega do Prêmio Mustafa em 2019. Nascido na Turquia, ele se mudou aos 4 anos
com sua mãe para Colônia, na Alemanha, onde seu pai trabalhava na fábrica da
Ford. Depois de terminar o ensino médio, estudou medicina na Universidade de
Colônia. "Eu me interessei por imunoterapia", disse o pesquisador, de
54 anos. No foco de seu interesse está o funcionamento do sistema imunológico e
como ele pode ser direcionado para identificar e atacar as células cancerosas.
Com apenas 20 anos, começou
a trabalhar em laboratório. "Tínhamos aulas até as 16h e, enquanto meus
colegas iam para casa, eu subia para o laboratório e trabalhava lá. Geralmente
até 21h, 22h, às vezes até as 4h", lembra Sahin.
Em 1992, Sahin concluiu seu
doutorado com nota máxima, depois trabalhou como especialista em hematologia e
oncologia na Universidade de Colônia. Ele conheceu sua futura esposa mais
tarde, quando trabalhava no Hospital da Universidade do Sarre.
Foco no paciente
Özlem Türeci é filha de um
médico turco que chegou à Alemanha vindo de Istambul. Quando Sahin chegou ao
Sarre, Türeci ainda estudava medicina naquele mesmo estado. Hoje, a professora
da Universidade de Mainz é considerada uma pioneira na imunoterapia contra o
câncer.
Ela diz que foi
influenciada principalmente por sua família. "Meu pai era um médico muito
dedicado aos pacientes, e desde criança já era impressionada por suas atitudes,
em que o cuidado do paciente era o foco principal", afirma a especialista
no site innovationsland-deutschland.de, um portal do Ministério de Educação e
Pesquisa da Alemanha.
"O consultório do meu
pai ficava na casa da família, nós brincávamos, quando crianças, entre os
pacientes. Já naquela época, na casa dos meus pais não havia uma separação
rígida entre trabalho e vida privada", lembra Türeci. Ela queria ajudar os
outros, como seu pai. Inicialmente como freira, como disse à revista Impulse.
Depois ela se decidiu pela medicina.
Quando Türeci e Sahin se
casaram, em 2002, Sahin já trabalhava na Clínica da Universidade de Mainz.
Mesmo no dia do casamento, Sahin trabalhou no laboratório – antes da cerimônia
no cartório e novamente depois.
O nascimento da Biontech
Em 2001, Sahin e Türeci
fundaram a empresa biofarmacêutica Ganymed Pharmaceuticals, que desenvolve
drogas imunoterápicas contra o câncer. Em 2016, ela foi vendida por pelo menos
422 milhões de euros. Em 2008, seguiu-se a próxima fundação de Sahin, Türeci e
outros: Biontech. A empresa desenvolve sobretudo tecnologias e medicamentos
para imunoterapia individualizada de câncer. No entanto, nenhum deles ainda
conseguiu aprovação.
Sahin é presidente da
Biontech e continua a lecionar na Universidade de Mainz. Türeci é responsável pelo
trabalho de pesquisa e desenvolvimento da empresa e continua a trabalhar como
professora na Universidade de Mainz.
Mais de 1.300 funcionários
de mais de 60 países trabalham na Biontech, mais da metade deles são mulheres e
com alto nível de escolaridade – cerca de um quarto tem um doutorado ou PhD. Em
outubro, a empresa deu o salto para o cenário internacional ao ser listada na
bolsa de tecnologia americana Nasdaq e tem crescido continuamente por meio de
aquisições.
"Para podermos
fornecer imediatamente doses de vacinas para distribuição comercial, no caso de
uma aprovação de nossa candidata a vacina, BNT162, já estamos investindo
fortemente na expansão de nossa capacidade de produção. Em nossas duas
unidades, em Idar-Oberstein e Mainz, as linhas de produção já funcionam 24
horas por dia", diz o relatório anual da empresa.
O longo trabalho de
pesquisa já está valendo a pena para o casal de médicos. Ugur Sahin detém 18%
das ações da Biontech e, com o sucesso da empresa, rapidamente se tornou um dos
cem alemães mais ricos – pelo menos no papel.
Por Insa Wrede, na Deutsche Welle
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