Os efeitos da pandemia de Covid-19 foram devastadores para emprego e renda, especialmente para jovens moradores de periferia.
Uma pesquisa com mais de 300 jovens de dez favelas cariocas revela que 64% dessa população dizem que a disponibilidade de recursos financeiros piorou desde o início da pandemia. Para seis em cada dez, houve uma redução ou perda total da renda pessoal. Para ajudar a aumentar as chances de empregabilidade daqueles que estão chegando ao mercado de trabalho, o EXTRA ouviu dicas de especialistas para melhorar suas chances (veja abaixo).
Investidores jovens:
Com
a crise sanitária, três em cada dez jovens perderam seus trabalhos, mostra o
estudo realizado pelo YouthBuild e pelo Centro de Promoção da Saúde (Cedaps),
com apoio da Bemobi. Segundo o levantamento, para 44% dos jovens, a renda
diminuiu, já para 12% a perda de renda foi total. Hugo Sabino, assistente de
projeto no programa Jovens Construtores, afirma que a pandemia afetou de forma
dramática os jovens mais vulneráveis. Ele avalia ser preciso implementar
políticas públicas para essa parcela da população.
—
As vagas do programa Jovem Aprendiz, que muitas vezes é a porta de entrada no
mercado de trabalho, estão em falta. Sem conseguirem se inserir no mercado
formal, muitos estão se colocando num lugar de empreendedorismo ou trabalho
informal — destaca Sabino.
Reserva de emergência:
Durante
a pandemia, a jovem Thalyta Cunha, de 24 anos, se viu sem alternativa de renda.
Ela vendia trufas, mas o trabalho foi interrompido com o isolamento social. Ela
passou por diversos processos seletivos e conseguiu um emprego como cuidadora
de idosos. Mas agora, com o aumento do custo de vida, ela já busca formas de
complementar a renda:
—
Durante a pandemia fiz de tudo. Trabalhei em uma cozinha, fiz faxina. Hoje
estou com trabalho, mas quero me qualificar em 2022 e encontrar mais uma fonte
de renda.
Negócio:
A
pesquisa mostra ainda que 32% dos entrevistados têm interesse em uma atividade
complementar de renda, mas ainda não conseguiram. Outros 21% disseram que estão
empreendendo, e 20% não estão buscando, mas têm interesse. Para os
pesquisadores, é necessário ter um investimento financeiro inicial para a
atividade e, por isso, alguns jovens que têm desejo de empreender não
conseguem. A coordenadora de Comunidades do Sebrae Rio, Carla Panisset, explica
a falta de vagas formais de emprego empurra jovens para o empreendedorismo de
necessidade:
—Empreender
muitas vezes é a única possibilidade de renda. Dos jovens de 18 a 24 anos que
têm negócios, cerca de 60% faturam até um salário mínimo (R$ 1.100). Ninguém
nasce empreendedor, mas pode se tornar pelo conhecimento.
Leia ainda:
Um
levantamento do Idados, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
Contínua (PNADC) do IBGE, revela que empregos informais têm puxado a retomada
do mercado de trabalho, por meio de serviços no comércio, transporte etc.
—
Uma das dificuldades para os jovens que entram nesse período de mercado
desaquecido é encontrar emprego compatível com a ocupação pretendida. Muitos
viram motoristas, entregadores. O problema é que, além de não contarem com
nenhuma proteção, quando tentarem se recolocar em um momento mais propício, não
terão experiência relevante na área — analisa a pesquisadora do Idados, Ana
Tereza Pires.
Confira:
A
Prefeitura do Rio, em parceria com Instituto Proa, oferece duas mil vagas para
jovens de baixa renda em um curso on-line gratuito, que tem início em janeiro
de 2022. As inscrições podem ser feitas pelo site plataforma.proa.org.br, até o
dia 14 de janeiro.
Para
participar é preciso ter entre 17 e 22 anos, estar cursando ou ter concluído o
3º ano do ensino médio em escola pública e morar no Estado do Rio de Janeiro.
As aulas abordam Autoconhecimento (20 horas), Planejamento de Carreira (20
horas), Projeto Profissional (20 horas), Raciocínio Lógico (20 horas),
Comunicação (20 horas). Ao concluir a trilha principal, os jovens são
direcionados a processos seletivos para vagas de posições de início de carreira
e primeiro emprego. Além disso, todos recebem certificado de conclusão emitido
pelo Proa.
Quem
desejar, ainda pode expandir seus conhecimentos por outras cinco áreas, em
cursos patrocinados por empresas. São eles: Análise de Dados, patrocinado pelo
iFood; Varejo, pela Via – Fundação Casas Bahia; Administração ou Logística,
oferecidos pela P&G; UX Design, disponibilizado pela Accenture; e Promoção
de Vendas, bancado pela BRF. Também é possível ter o apoio de tutores em
encontros semanais ao vivo.
Depoimento: Karla
Clarinda, especialista em recolocação, de 36 anos
"Quem
tem pouca qualificação deve se destacar com o comportamento. Tem que se vender
como proativo, comprometido, resiliente, multidisciplinar. Então, as
experiências informais, como o bico de garçom, as diárias de babá e até vender
bala no sinal importam. Essas atividades devem estar no currículo porque
mostram a garra para ter o ganha pão. Não se deve ter vergonha da própria
história. A empresa pode enxergá-la como um potencial versátil".
Fonte:
Fernanda Centurion, gerente de Empregabilidade do Senac RJ.
Use
a internet a seu favor. Muitas instituições de ensino oferecem cursos on-line
gratuitos, disponíveis a um clique de distância. Escolha temas sobre os quais
você tenha interesse ou aptidão e aprofunde seus conhecimentos. Mas lembre-se:
quantidade nem sempre é sinônimo de qualidade. Dedique-se a um curso por vez
para garantir uma aprendizagem mais eficiente.
O
currículo não deve ser genérico, mas sim trazer objetivo e adequados às vagas a
que você se aplica. Se você tem experiência em uma determinada área ou a
competência necessária para uma vaga, seu currículo deve estar alinhado ao que
se pede. Fique atento às palavras-chave que constam na descrição das vagas,
pois elas são a principal ferramenta dos recrutadores na hora de selecionar os
currículos.
Trabalhos
informais, temporários e freelancer também contam como experiência. Ainda que o
tempo tenha sido curto na ocupação, demonstra que você aprendeu algo e não
ficou parado. Coloque no currículo.
Escrever
errado na hora de mandar um e-mail ou no seu próprio currículo não é algo bem
visto. Antes de enviar, leia mais uma vez com bastante atenção e, se possível,
peça para outra pessoa revisar.
Seu
histórico virtual é a primeira impressão que muitas pessoas têm, especialmente
os profissionais de recrutamento e seleção que analisam candidatos. Fique
atento ao tipo de conteúdo que você posta, curte, comenta e compartilha.
Seja
no mundo físico ou virtual, interaja com profissionais e instituições de
segmentos pelos quais você se interessa. Construa uma rede de contatos,
participe de fóruns, palestras e debates sobre temas que podem agregar valor à
sua carreira.
É
importante se preparar para a entrevista, demonstrar conhecimento sobre a
empresa e a área que está inserido ou deseja se inserir. Além disso, demonstre
características da sua personalidade através de experiências profissionais
anteriores. Conte uma situação, por exemplo, em que precisou liderar, ser
resiliente ou trabalhar em grupo e teve êxito.
É
comum ficar nervoso na hora de uma seleção, mas a primeira impressão é a que
fica. Na hora de conversar com o recrutador, sorria, se mostre simpático,
solícito, educado. Animação com a oportunidade conta ponto a seu favor.
Saber
ouvir, interagir e se posicionar de forma educada e respeitosa com seus colegas
é fundamental. Contar sua história de maneira atrativa e objetiva.
Fique
atento à sua aparência e avalie previamente como as pessoas da empresa costumam
se vestir, se de maneira mais despojada ou formal.
Letycia Cardoso e
Pollyanna Brêtas, Extra
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