Darwin, uma variante da
influenza H3N2, é a responsável pela epidemia de gripe fora de época em curso em
São Paulo, Rio de Janeiro, entre outros estados. O problema é que as vacinas
atuais contra a gripe não estão preparadas para enfrentar essa cepa, então, não
adianta correr para se vacinar agora pensando em proteção contra essa mutação.
Ainda
assim, dizem especialistas, tomar a vacina é uma boa forma de estar preparado
ante outras ameaças. Além do benefício individual, evitar o adoecimento é uma
maneira de contribuir para aliviar a demanda por atendimento em serviços de
saúde.
Mutações
constantes nos vírus da gripe -os mais comuns no mundo-, que levam a novas
variantes, são absolutamente comuns. Consequentemente, existe a necessidade de
atualização das vacinas contra a influenza.
Por
isso mesmo, a OMS (Organização Mundial da Saúde) faz o monitoramento constante
das variantes de vírus influenza que estão em circulação e, duas vezes ao ano,
recomenda quais devem ser as mudanças nas vacinas.
No
fim de setembro deste ano, a OMS recomendou que a variante Darwin (nome da
cidade australiana em que ela foi identificada) faça parte da composição das
vacinas para influenza usadas no sul do planeta para a temporada de gripe de
2022. E aí está a questão: 2022.
Um
surto de gripe em dezembro de 2021, próximo ao quente verão brasileiro, não era
algo esperado. "Vírus respiratórios gostam de frio e tempo seco",
afirma Renato Kfouri, pediatra e diretor da SBIm (Sociedade Brasileira de
Imunizações).
Portanto,
as vacinas ainda disponíveis em 2021, que no momento são encontradas
principalmente na iniciativa privada, considerando que a campanha de vacinação
pelo SUS oficialmente já acabou, não contemplam a Darwin.
Mas,
de toda forma, diz Kfouri, podem ajudar, ainda mais levando em conta as
diversas outras cepas de influenza que compõem a vacina.
Segundo
Isabella Ballalai, vice-presidente da SBIm, existe uma possibilidade de
proteção cruzada, ainda que o efeito provavelmente seja pequeno. A especialista
diz que há uma busca intensa por vacinas no Rio de Janeiro, onde a epidemia da
influenza já teve início há mais tempo.
"São
muitos casos. As emergências estão lotadas", afirma Ballalai.
A
especialista reforça que quem tomar a vacina contra a gripe agora -lembrando,
mais uma vez, que ela terá, provavelmente, pouco efeito contra a variante
Darwin- não está dispensado de se vacinar contra a influenza no ano que vem. A
outra dose é necessária em razão das atualizações da composição.
As
populações mais frágeis à gripe são crianças de até cinco anos, idosos,
mulheres grávidas e pessoas com problemas crônicos de saúde ou sistema imune
comprometido. Por isso, essas são as populações costumeiramente alvos das
campanhas de vacinação.
A
explicação para epidemia de influenza ainda não está clara, dizem os
especialistas ouvidos pela Folha. Mas alguns pontos devem ser levados em conta.
Um
deles é que a baixa cobertura vacinal contra a gripe neste ano (apesar do
efeito pequeno da proteção cruzada). Além disso, as vacinas contra gripe
protegem bem por até quatro meses. Depois de seis meses há uma queda
considerável na proteção. Ou seja, como a campanha de vacinação deste ano teve
início em abril, a proteção já pode estar bastante reduzida agora.
O
fator comportamental em meio à redução da circulação do Sars-CoV-2 também entra
nessa conta. Com menos casos e mortes no país, as restrições foram e continuam
sendo relaxadas.
Em
São Paulo, por exemplo, já estava programado o fim da obrigatoriedade de
máscaras em locais públicos abertos, medida que só foi suspensa com o
aparecimento da variante ômicron da Covid e a proximidade das festas de fim de
ano.
Com
menos restrições, as pessoas passaram a circular mais e a promover muitas vezes
encontros sem máscaras.
"O
único argumento racional que conseguimos imaginar é: pessoas saindo de um mundo
'estéril', suscetíveis [à nova variante], não vacinadas", diz Ballalai,
que acrescenta que o vírus circula durante todo o ano no país.
Segundo
a OMS, em regiões tropicais, a influenza pode ocorrer em qualquer momento do
ano, com surtos mais irregulares do que os observados em áreas temperadas.
Por
fim, segundo Kfouri, uma possível competição entre vírus também poderia, eventualmente,
explicar a explosão da gripe em um momento de baixa da Covid.
Ballalai
lembra ainda que outras infecções por vírus também aumentaram recentemente e
fora da sazonalidade padrão. Um dos exemplos é o vírus sincicial, principal
fator de hospitalização entre crianças.
Phillippe Watanabe,
Folhapress, no Yahoo notícias
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