Moradores da cidade chinesa de Harbin em fila de teste de covid-19 em 22 de setembro de 2021 (AFP/Str) |
O mundo se pergunta, entre muitos temores e uma frágil esperança, se já começou a virar a página da covid-19, ao menos nos países em que a vacinação já atendeu a maioria da população.
A seguir, os diferentes cenários,
classificados por cores:
- Verde: razões para esperança
A epidemia parece estagnada na Europa, após os picos provocados pela variante delta do vírus.
E a nível mundial, a Organização
Mundial da Saúde (OMS) destacou na semana de 6 de setembro "a primeira
queda substancial dos casos semanais em mais de dois meses".
"O número de casos semanais (3,6
milhões) e de mortes (60.000) continua caindo no mundo", afirmou em seu
relatório de terça-feira, correspondente à semana de 13 de setembro.
"Acredito que em grande parte do
planeta - a maior parte da Europa e do continente americano - a pandemia entra
em sua fase final", escreveu no Twitter o professor François Balloux, da
University College de Londres.
"Haverá surtos epidêmicos nos
próximos meses e anos, mas não prevejo ondas comparáveis às que vivemos nos
últimos 18 meses", acrescentou.
"O que estamos observando é uma
transição de um regime de ondas para um regime de circulação mais tênue, com
variações menos intensas", declarou à AFP a epidemiologista Mircea
Sofonea.
A melhora leva diversos países europeus
a flexibilizar suas restrições, ou inclusive acabar com as medidas, como fez a
Dinamarca em 10 de setembro.
"Em 15 dias ou três semanas
saberemos se a experiência dinamarquesa é promissora", afirmou à AFP o
epidemiologista Antoine Flahault.
"Saberemos então se é possível
recomendar a outros países europeus suspender a exigência de passaporte
sanitário e, inclusive, o uso de máscara, sem correr o risco iminente alta
epidêmica, mas com a possibilidade de voltar a instaurar em caso de contaminações".
- Laranja: razões para prudência
Apesar do atual cenário de melhora, o
fim da pandemia ainda não está à vista, destacam muitos cientistas, que
desconfiam após desilusões precedentes.
"É muito cedo para dizer isso para
o conjunto do planeta, mas é correto para as áreas do mundo mais
vacinadas", disse o virologista britânico Julian Tang, que aponta
"importantes desigualdades em termos de vacinação", segundo os
países.
"Menos de 2% da população dos
países mais pobres recebeu ao menos uma dose da vacina", completa Antoine
Flahault.
Na América do Sul, 231 milhões de
pessoas receberam a primeira dose de vacina anticovid, mais de 132 milhões têm
o esquema completo de duas doses e quase nove milhões foram imunizadas com a
vacina de dose única, de acordo com os dados da semana passada da Organização
Pan-Americana da Saúde (OPAS).
Além disso, cenários de crescimento
exponencial de casos persistem em vários pontos do planeta, em particular na
Europa central e do leste, na África, Ásia, Israel e no continente americano
(Canadá, El Salvador, Belize).
O hemisfério norte, onde grande parte
da população já está vacinada em linhas gerais, entra nas estações frias do
ano, o que provoca mais reuniões em ambientes fechados, onde o vírus circula
facilmente.
"Globalmente é uma situação que
parece mais favorável que durante o verão, mas atenção à situação na Europa e
América do Norte quando entrarmos no outono", advertiu Mircea Sofonea.
"A lição desta pandemia é seu
caráter imprevisível", recorda Antoine Flahault. "Ninguém havia
previsto a emergência da variante delta na Índia na primavera passada, mas este
tipo de evolução era previsível".
- Vermelho: razões para inquietação
A variante delta é a dominante no mundo
atualmente. Apesar de particularmente contagiosa, não conseguiu vencer as
vacinas, que continuam sendo eficazes contra as formas graves da doença, embora
um pouco menos contra a infecção.
Mas o cenário pode piorar.
"Se uma mutação da variante delta
a deixar mais resistente às vacinas existentes, isto poderia afetar a evolução
favorável atual", explica o professor Flahault.
"Ao mesmo tempo, uma proporção
muito importante dos países pobres não está vacinada, o que pode levar a
grandes ondas nestes países e à emergência de novas variantes", completa.
Na Nicarágua, apenas 4% da população
foi vacinada. No Haiti, menos de 1%.
"Enquanto este vírus continuar
circulando em nível elevado no mundo, não estaremos a salvo de novas ondas. A
urgência, para a segurança mundial, é vacinar o máximo possível de pessoas",
insiste.
Paul Ricard, AFP
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