O secretário-geral da ONU, António
Guterres, disse que uma reunião crucial sobre mudanças climáticas, marcada para
acontecer neste ano na Escócia, está sob risco de fracassar, por conta da
desconfiança mútua entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento, e
por falta de metas ambiciosas entre algumas das economias emergentes.
A COP26 em Glasgow tem o objetivo de
pressionar por ações climáticas muito mais ambiciosas e por recursos para elas
vindo de participantes de todo o planeta. Cientistas afirmaram no mês passado
que o aquecimento global está perigosamente perto de sair fora do controle.
"Eu acredito que estamos em risco
de não conseguir sucesso na COP26", disse Guterres à Reuters em entrevista
na sede da ONU em Nova York na quarta-feira. "Há ainda um nível de
desconfiança, entre Norte e Sul, entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento,
que precisa ser superado."
"Estamos à beira do abismo e
quando se está à beira do abismo, é preciso ser muito cuidadoso sobre qual será
o próximo passo. E o próximo passo é a COP26 em Glasgow", disse o
português.
Guterres e o primeiro-ministro
britânico, Boris Johnson, irão sediar na segunda-feira uma reunião de líderes
mundiais na semana da Assembleia Geral da ONU anual, em uma iniciativa para
elevar as chances de sucesso da conferência climática, que acontecerá entre 31
de outubro e 12 de novembro.
"Meu objetivo --e a razão pela
qual estamos convocando uma reunião na segunda-feira-- é exatamente para
construir confiança, para permitir que todos entendam que todos precisamos
fazer mais", disse Guterres.
"Precisamos que os países
desenvolvidos façam mais, principalmente em relação ao apoio a países em
desenvolvimento. E precisamos que algumas economias emergentes sejam mais
ambiciosas nas metas de redução de emissões no ar", disse o chefe da ONU.
A reunião de segunda-feira, que será
híbrida virtual e presencial, será fechada, para permitir "discussões
francas" sobre como atingir o sucesso em Glasgow, afirmou uma autoridade
de alto escalão da ONU, que falou em condição de anonimato.
O planeta continua atrasado na batalha
para cortar emissões de carbono e o ritmo das mudanças climáticas não foi
desacelerado pela pandemia global de Covid-19, afirmou a Organização
Meteorológica Mundial nesta quinta-feira.
Cientistas disseram no mês passado que,
a não ser que grandes medidas sejam tomadas para cortar emissões, a temperatura
média global deve bater ou cruzar a marca de 1,5 grau Celsius de aquecimento
dentro de 20 anos.
"Até agora, eu ainda não vi
comprometimento suficiente de países desenvolvidos para apoiar países em
desenvolvimento... e para dar uma porção significativa desse apoio às
necessidades de adaptação", disse Guterres.
Os países em desenvolvimento tendem a
ser os mais vulneráveis aos custosos impactos das mudanças climáticas, e os
menos equipados com recursos para combatê-los.
(Reportagem adicional de Valerie
Volcovici em Washington)
Mary Milliken e Michelle Nichols, Reuters
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