Líder no fornecimento de máquinas para moinhos de
trigo na China, a Pingle deverá ter uma unidade no Brasil a partir de setembro,
em movimento para estabelecer uma base de negócios para a América Latina, o que
indica o avanço dos chineses também na indústria de equipamentos na região.
O investimento inicial da companhia chinesa em
escritório técnico e comercial e na construção de um armazém para estoque de
peças para moinhos em Ponta Grossa (sul do Paraná) é relativamente pequeno, de
1 milhão de dólares.
Mas esse será apenas o primeiro passo do projeto, que
prevê numa segunda fase uma linha de montagem com equipamentos importados da
China, para a venda de máquinas nacionalizadas, com maior acesso a
financiamentos, disse à Reuters o agente da Pingle no Brasil, Luiz Valentim.
Atualmente, a Pingle já atende 36 unidades industriais
no Brasil, mas com maquinário importado montado da matriz, que conta com o
expertise de atender na China um mercado de mais de 6 mil moinhos, há mais de
20 anos.
"Esse período que estamos no mercado já comprovou
isso, a fábrica na China é de alta tecnologia na produção de equipamentos, não
perde para ninguém em termos de produção, tecnologia e acabamento", disse
Valentim, ao ser questionado sobre os planos de crescer no Brasil.
"E temos uma condição própria de sermos bem
competitivos nas condições comerciais", acrescentou ele, ao falar sobre
umas das características da agressividade dos negócios das empresas chineses
que atuam no Brasil.
No Brasil, a Pingle tem como principais concorrentes a
unidade brasileira da suíça Bühler e a brasileira Sangati Berga, que possui
fábrica em Fortaleza (CE).
O movimento da Pingle ressalta como empresas da China,
o maior cliente das principais commodities do Brasil (soja, minério de ferro e
petróleo), têm avançado no fornecimento de equipamentos e insumos para a
indústria brasileira de produtos básicos e de infraestrutura.
A China já atua fortemente no agronegócio do Brasil,
principalmente como compradora de grãos, com empresas como a Cofco.
Os chineses, contudo, veem cada vez mais o país
sul-americano como um canal para escoamento de suas tecnologias e
manufaturados. O setor de eletricidade é um exemplo disso, com a atuação da
State Grid, a maior elétrica do mundo, que tem ampliado sua presença no Brasil
e ao mesmo tempo contratado parte de sua demanda por equipamentos e serviços
junto a fornecedores chineses.
PLANOS
Com a expansão das atividades no Brasil, a Pingle foca
uma nova fase de investimentos do setor de moagem de trigo, após cerca de 45
por cento dos moinhos terem passado por modernização desde 2015 no país, de
acordo com dados de uma pesquisa encomendada pela Abitrigo, a associação da
indústria do país que importa mais de metade de sua necessidade do cereal.
"Estamos apostando numa segunda onda de
investimentos, devido à necessidade daqueles que não investiram se equipararem
aos outros em termos de competitividade. Tem plantas que ainda têm tecnologia
muito conservadoras, então nós apostamos nisso", afirmou o agente da
Pingle.
Para se ter uma ideia dos valores negociados no setor,
o investimento apenas em equipamentos em um moinho com capacidade de moagem de
500 toneladas/dia gira em torno de 5 milhões de dólares.
De acordo com Valentim, com uma linha de montagem no
Brasil, a empresa conseguirá montar as máquinas de acordo com as especificações
do cliente nacional. Além disso, a empresa poderia ser beneficiada com mais
financiamentos disponíveis para equipamentos nacionalizados.
"O que perdemos atualmente é pela questão de
restrição de financiamentos para equipamentos (importados), é daí que surge a
ideia da linha de montagem, daí vamos vender nacionalizado", declarou ele.
O representante da companhia afirmou também que a base
no Brasil pode permitir que a Pingle exporte equipamentos a partir do país.
"Com certeza, esse investimento aqui no Brasil é para atender a América Latina",
declarou.
Além de equipamentos para moinhos de trigo, a Pingle
também fabrica máquinas para a moagem de cereais como milho, outro mercado que
a empresa pretende atender no Brasil.
Por Roberto Samora, na Reuters
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