Em O Globo
Diretor de felicidade, diretor de
whatever e gerente de bem-estar são alguns dos cargos que fogem do convencional
Diretor de whatever, diretor de felicidade e gerente científica de
bem-estar podem até parecer cargos futurísticos que vão existir nas empresas
daqui a alguns anos, mas, na verdade, já são empregados atualmente. É que mais
companhias estão passando a adotar nomes de cargos que fogem dos tradicionais
diretores executivos ou gerente-geral, em uma estratégia para se diferenciar no
mercado e também para fugir da mesmice.
Na Perestroika, escola de cursos criativos, são 28 diretores de whatever
— isso mesmo, diretores de “qualquer coisa”, na tradução do inglês.
— As atribuições dos diretores de whatever são fazer tudo que for
necessário para garantir uma boa aula. Desde falar com os professores,
construir o conteúdo, vender o curso, até organizar as cadeiras e cuidar dos
drinks da festa final, ou seja, whatever — explica Jean Philippe Rosier, sócio
e diretor de Whatever da Perestroika, que, além de Rio de Janeiro, São Paulo e
Porto Alegre, onde nasceu, está se expandindo para Curitiba, Belo Horizonte e
Brasília e para São Francisco, na Califórnia.
De
coach a diretor de felicidade
A escola, que, em seu portfólio oferece cursos como “Empreendedorismo
criativo”, “Fashion business”, “New Ways of thinking” e “Chora ppt”, tem o DNA
da criatividade e, com seus diretores de qualquer coisa, procura imprimir esse
conceito também.
— Cada vez mais, estamos buscando transparência e verdade nas nossas
relações. Não precisamos mais seguir padrões, portanto, se o job description do
profissional for zelar pela felicidade das pessoas dentro da empresa ou fazer
qualquer coisa necessária para se ter uma boa aula, faz todo sentido o cargo
traduzir exatamente isso — acredita Rosier.
É essa filosofia que o curso de inglês on-line Open English também
procura seguir. A empresa conta com um diretor de Felicidade, ocupado pelo
colombiano Alain Lagger, que atuou como coach do fundador e CEO do Open
English, Andres Moreno.
— Ele então me perguntou se eu gostaria de compartilhar uma experiência
semelhante com os funcionários da empresa. Moreno estava buscando uma forma de
motivar seus empregados por meio de uma cultura de positividade, o que levou à
criação do “Departamento de Felicidade” no Open English — explica Lagger.
De
química a gerente de bem-estar
O trabalho dele inclui a organização de eventos de motivação, como
workshops, palestras e concursos, e também sessões de coaching com funcionários
e gestores — tudo isso com o objetivo de criar uma cultura positiva na empresa.
— Mantenho relações pessoais com empregados de todos os níveis da
empresa. Eles escrevem para me contar suas conquistas e para pedir ajuda:
contam que vão se casar ou que estão tristes porque perderam um ente querido —
conta Lagger, que acredita que mais organizações vão passar a rever suas
estruturas tradicionais.
— Essa nova geração de
trabalhadores tem demandas diferentes, uma vez que está acostumada com mais
liberdade. Um universitário que possa escolher entre uma empresa com estrutura
hierárquica convencional ou uma que tenha um departamento de felicidade,
provavelmente escolherá a segunda opção.
No caso da Natura, a criação da Gerência Científica de Bem-estar, em
2010, reflete uma estratégia de aumento de investimentos em pesquisa e inovação.
Para assumir o cargo, a empresa elegeu Rosa Friedlander, que atua há 23 anos na
companhia e é química:
— A função que eu tenho atualmente não existe no mercado. Se a companhia
optasse por trazer alguém de fora, até que essa pessoa entendesse os mecanismos
da empresa e nos trouxesse resultados, poderia demorar além do devido.
A própria Rosa teve que passar por reciclagens e capacitação para o
trabalho específico, fazendo cursos de semiótica e psicofisiologia para somar à
sua formação como química.
— Nos últimos três anos, venho me capacitando, porque é um cargo novo na
empresa — acentua Rosa, que costuma observar que seus interlocutores ficam
perplexos, quando ela diz que é gerente científica de bem-estar. — As pessoas
me olham com uma interrogação, e quem é mais distante do setor inclusive demora
mesmo um pouco a entender.
Ao contar que é diretor de Whatever da Perestroika, Jean Philppe Rosier
também precisa dar explicações:
— Todo mundo se surpreende e adora. Já recebi diversos e-mails elogiando
a ideia, dizendo que adoraram o cargo. Geralmente, quando vou dar palestras nas
empresas, me pedem para eu contar meu cargo e explicar como funciona. Todos
piram com o conceito e com a nomenclatura.
Subway:
artistas do sanduíche
E o uso de nomes fora do convencional não se restringe a cargos mais
altos da hierarquia das companhias. Como forma de motivar seus funcionários, a
rede de fast food Subway chama os atendentes de “artistas de sanduíches”, pois
a empresa “acredita que esses funcionários não sejam apenas balconistas, mas
verdadeiros consultores de sabores, que auxiliam na venda sugestiva, indicando,
inclusive, combinações para os clientes”.
— Eu acredito que há sentido em todo trabalho, e que é importante para o
funcionário se conectar a isso para ver um propósito maior — ressalta o coach e
diretor de Felicidade do Open English.