Ao longo dos anos a “forma” tem sido uma das maiores preocupações dos que produzem arte. Quando não um pesadelo se torna, ao menos, uma questão perturbadora. Para os teatristas assume um contorno um tanto diferenciado dado às peculiaridades desta arte onde a vida é, na realidade, recriada e revivida no palco; quando o homem alça voo em direção a outros destinos, novos horizontes, auspiciosos universos.
Nas diferentes épocas também o teatro foi
acompanhando, com desenvoltura, as novas exigências que a sociedade
estabelecia. Os espetáculos em seu aspecto formal acompanharam as evoluções do
tempo e dos costumes se mostrando ora rebuscados e espalhafatosos, ora pueris e
medíocres, mas ora, também, sublimes e contundentes.
Contemporaneamente, com o advento da
era moderna, do micro-chips, da generalização da informática, da massificação
da televisão, a cultura popular parece perder espaço.
A televisão - como veículo de comunicação
de massa, veiculando a ideologia da vez - é o instrumento capital, a ferramenta
onipresente. Através dela é incorporado ao cotidiano dos indivíduos uma
estética cada vez mais agradável aos sentidos, mais perfeita na forma, mas, em
contrapartida, mais vazia de conteúdo.
Milhões de pessoas em todo o mundo, famintas
e desesperadas, desempregadas e desoladas, se veem inseridas no luxo da grã-finagem
das novelas e dos enlatados, com inacreditáveis contos de fada expressando uma
realidade inatingível, fora de alcance dos mortais comuns.
Em suas representações - ainda que
inconscientes (o que torna o quadro mais grave e desolador) - essa cultura
alienante é incorporada às manifestações artísticas, despersonificando cada vez
mais a cultura e as tradições populares genuínas de nossa gente.
É bom salientar que o processo
cultural é infinitamente mais amplo que a megalomania colonizadora e funcionalista
de incentivar tão somente os festejos populares, as cavalhadas e os eventos
correlatos. A divulgação pura e simples do folclore faz parte do rol de atividades
estimuladas pelos catequizadores. Dessa forma procuram valorar apenas o
artesanal, o que se repete sem modificações: o não transforma, o não questiona,
o não critica, o não incomoda. O que buscamos é a arte crítica, reflexiva,
transformadora, que se nutre do pulsar das ruas. Sem, evidentemente, abrir mão
de nossas referências folclóricas, mesmo porque substrato de nossa identidade
cultural.
Os grupos teatrais inseridos neste
processo também são vítimas dele. A falta de acesso à capacitação - resultante
da inexistência de apoio governamental, faz com que, não raro, nos deparemos
com grupos imitando cantores e shows televisivos, os ‘últimos sucessos’ do
momento, trazendo o coração à boca para alocar recursos para aquisição do estroboscópio - impacto da última
novela; relegando a realidade objetiva à um enésimo plano. Ignorando o dia a
dia das comunidades, ignorando a busca por uma estética popular, desconhecendo
a imperiosa necessidade de interagir com os que estão ao lado.
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